domingo, 25 de setembro de 2016

VIAGEM LITERÁRIA EM VIANA DO CASTELO

Durante dezoito meses, a «Porto Editora» percorreu o país – de norte a sul, do litoral ao interior, passando pelas ilhas – levando prestigiados escritores a dezoito cidades, quais VIAGENS LITERÁRIAS nos proporcionaram momentos únicos de proximidade com aqueles que nos ajudam na purificação do ar que respiramos e dão alimento ao silêncio, tornando-o activo e irreverente. Ontem, 24 de Setembro de 2016, 21:30, com o apoio da Câmara Municipal de Viana do Castelo, o Teatro Municipal Sá de Miranda foi palco da última VIAGEM LITERÁRIA (18.ª), numa conversa amena, bem-humorada e enriquecedoramente produtiva (tendo em conta a nossa aferência à literatura e aos autores de qualidade), com os escritores Manuel Jorge Marmelo e Richard Zimler, magnanimamente moderada por João Paulo Sacadura.



«Macaco Infinito» (Se sentarmos um macaco a uma máquina de escrever por tempo indeterminado e sem limite, o animal acabará por conseguir escrever uma obra-prima à altura de Shakespeare ou de Cervantes) não seja verdade, como nos sentimos na pele de «O Último Cabalista» (o mesmo Berequias, sobrinho e discípulo de Abraão – iluminador e membro respeitado da célebre escola cabalística de Lisboa –, [que] vai encontrar o tio e uma jovem desconhecida mortos na cave que servia de templo secreto desde que a sinagoga fora encerrada pelos cristãos-velhos).
        Obrigado pela maravilhosa noite que nos proporcionaram! 

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

«O Povo da Barca» e os editoriais (2002-2006) de José Maria Lacerda e Megre!...

«Desde sempre o conheci ligado ao fado, nunca perdendo a oportunidade de o cantar, convertendo-se no centro das atenções dos da sua geração. Mas não era só o fado sempre castiço que acontecia, era sim a terapia com beneficiava os amigos tocados pelas saudades do terrunho natal ou de amor, mal correspondido…»

António Moniz Palme

Em traços gerais, e antes de nos referirmos à obra que saiu a lume em Julho do corrente ano (Depósito Legal 412668/16), poderemos dizer que José Maria Lacerda e Megre nasceu em Ponte da Barca, em 14 de Novembro de 1939. Faz a 4.ª Classe e em Braga a admissão ao Liceu. Seu pai, José Pimenta de Castro Lacerda e Megre é colocado como secretário-geral dos Tribunais Cíveis de Lisboa e, por isso, é no Liceu Pedro Nunes, da capital, que realiza o 5.º Ano do Liceu e no Passos Manuel o 7.º Ano.
Em 1954, ainda em Lisboa, forma com os amigos e vizinhos do bairro do Restelo a “Guitarra de Santos”, grupo dedicado aos fados e à poesia.
Ingressa na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e, em 1959, vai para Coimbra, onde haverá de concluir a sua licenciatura em Direito. É em Coimbra que, em 1961, grava quatro fados de Menano, Gois e Bettencourt, acompanhado por António Portugal e outros grandes instrumentistas.


Em 1962, estando no 2.º ano de Direito, é chamado para cumprir o serviço militar. É incorporado em Mafra como aspirante e vai para Lamego onde realiza o curso de Caçador Especial. Em Janeiro de 1963, integrado como alferes miliciano na Companhia de Artilharia 563, parte para Moçambique (Chibuto), onde permanece até 1966. A partir desta data continua a estudar direito em Coimbra, mas é promovido a tenente miliciano e oficial de tiro no Quartel R.A.P. 2 e Carreira de Tiro de Espinho, onde prepara três batalhões para a Guiné. Recebe louvor pela sua eficácia, competência e pelos êxitos na guerra dos soldados que preparara. Entretanto, entra para a Administração da Companhia das Minas de Carvão de S. Pedro da Cova, pertencentes a seu sogro Luís Cid Monteiro (havia casado com Fernanda Forbes Bessa Costa Lobo Cid Monteiro, em 1964).
Em 1972 termina o curso de Direito e ingressa como subdelegado do Procurador da República do 4.º Juízo Correccional e 5.º Juízo Cível do Tribunal do Porto. A 24 de Abril de 1974, toma posse do cargo de delegado do Procurador da República na Comarca de Castelo de Paiva. Em Março de 1975 ingressa na Direcção do Porto da Polícia Judiciária como inspector. Aposenta-se como coordenador em 1999.
Em 1996 funda em Ponte da Barca o “Clube dos Poetas Vivos”, com a missão de perpetuar a obra de todos os poetas portugueses que já partiram e simultaneamente homenagear os vivos, provando que a Poesia nunca morre. Dinamizando inúmeros encontros de poesia, música, história e literatura ao longo de 20 anos, realiza muitas dezenas de sessões, pelas quais já passaram mais de dois milhares de participantes.  Ainda em 1966, com a Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto, grava em CD com guitarras de Arménio Assis e do Barão de Palme e violas do juiz conselheiro Mário Araújo Ribeiro e Manuel Campos Costa, quatro fados de Coimbra por ele compostos, com letras dos poetas António Correia de Oliveira, Pedro Homem de Mello, Zeca Afonso e Fernando Pessoa.

25 de Agosto de 2016, almoço saudável (peixinho, claro!), à medida das necessidades e condicionantes do duo tertuliano, na Tasca da Nela (Vila de Darque). Cultura, poesia e fado de Coimbra, condimentados pelo enraizamento às causas e paixões do nosso Alto Minho. Troca de galhardetes e promessas de novos encontros, a expressão viva do «Clube dos Poetas Vivos».

Escrevendo numerosos artigos em vários jornais – dos quais destacamos: Jornal de Notícias, Público, Notícias da Barca, O Povo da Barca, Aurora do Lima, O Vianense, Notícias do Douro, Artes entre as Letras –, em 2001 é nomeado director do jornal centenário (efeméride em que participamos como convidado, na qualidade de Presidente da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Alto Minho) da sua terra O Povo da Barca, escrevendo editoriais em todos os números até 2006, editoriais esses que dão compor ao presente, e esteticamente bem conseguido, volume.
Pouco mais há a dizer acerca dos conteúdos desta magnífica (adjectivação propositada e merecida) obra, dado que os mesmos se reportam a várias temáticas ou incursões opinativas de quem dirigiu este órgão regional, infelizmente desaparecido dos escaparates (o que, ainda que aqui funcione a subjectividade do nosso subconsciente, poderia constituir um crime de “lesa-pátria” memorial-regionalista), circunstanciais e, quiçá, cirurgicamente oportunas e objectivas. Sem querermos ironizar pela negativa, Vassalo Abreu chega a Presidente da Câmara, debaixo de um guarda-chuva “megreniano”, cujo corolário de tal feito mereceria um editorial a preceito, no número de 14 de Outubro de 2005: «Justos vencedores e digno vencido».
Terminamos com uma citação do prefaciador desta obra, António Moniz Palme, quando se refere a José Maria Lacerda e Megre: Em Coimbra, a sua personalidade alegre e comunicativa, num ápice, converteram o “estrangeiro” numa das personalidades mais populares da velha cidade do Mondego, onde chegou e venceu, sem apelo nem agravo, mal aportou à gare da Estação Velha. Sabemo-lo assim, ainda hoje, porque “faz parte integrante das memórias da Lusa Atenas e será eternamente um adorno da Vida Académica da Universidade de Coimbra e da sua Terra da Nóbrega”.          Nec plus ultra!

(In, Notícias da Barca,  Ano XL, N.º 1253, 22 de Setembro de 2016, p. 7 - Crónicas do Átrio e do Lethes-28)

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

André Fernandes Jorge: o editor que nos deu livros de luxo!

Embora a nossa predisposição para a leitura tenha vindo a ser afectada por mazelas efectivas (e/ou dolorosas) da «P.I.», sempre vamos arranjando alguma energia suplementar para a (leitura, claro!) pôr em dia. No dia 31 de Agosto de 2016 ficamos a saber através do jornal «I», Ano 7, Número 2255, p. 34-35, com chamada à primeira página, que André Fernandes Jorge, o editor da COTOVIA, ao fim de setenta e uma translações, desencarnou no pretérito dia 19 de Agosto, vítima de um cancro linfático, que o martirizava há oito anos para cá.


Através de um excelente artigo assinado por Diogo Vaz Pinto, com fotografias do editor André Jorge cedidas pela companheira e parceira na «Livros Cotovia», Fernanda Mira Barros, ficamos a saber que «editar livros como o fez André Jorge, mais do que um acto de resistência, é hoje uma forma de optimismo. Foi Tatiana Salem Levy quem, ao reagir à morte do seu antigo editor numa mensagem no Facebook, reconheceu que o seu caso constitui “uma aberração nos dias de hoje”; um editor que “publicava mesmo sabendo que o único retorno que teria seria de ordem intelectual e afectiva, pelo simples prazer de publicar autores que lhe interessavam” (...) A morte de um bom editor é sempre uma tragédia que não se percebe...» (p. 35). Plenamente de acordo, quando nos é dado saber que Fernanda Mira Barros «lembra que André Jorge não se coibiu de afastar quaisquer ilusões de hipotético sucesso comercial a alguns autores que se propôs editar. Dizia-lhes que em Portugal não iam vender nada. Aceitando ter os seus livros neste catálogo os autores deviam abandonar as veleidades de se verem como protagonistas de qualquer campanha que os vendesse como a última coca-cola do deserto» (p. 34).
A «COTOVIA» NÃO ABANDONOU O RIGOR DOS SEUS CRITÉRIOS NEM CEDEU AOS IMPERATIVOS DE MERCADO, CONFORMANDO-SE COM O PAPEL DE EDITORA DE CULTO, como CULTO era o seu editor.
Daí a qualidade sobrepor-se à quantidade: «A mesma teimosia que o impediu de se deixar abater pela doença foi o traço que se converteu na principal virtude de um catálogo que confrontou as deficiências da edição portuguesa, seguindo um plano ambicioso com a consciência de que só perdendo dinheiro se pode trazer o mundo que falta a uma língua. Quer isto dizer que os cerca de 1200 títulos publicados ao longo de quase três décadas pela Cotovia são o legado de um homem que optou por entregar a vida e a sua fortuna pessoal a algo que aproveita a todos – a verdadeira definição de luxo público…» (p. 35). Há legados que se apagam com o tempo, enquanto outros ajudam a imortalizar a sensibilidade – como houvera escrito Sterne – um dos primeiros bens, e o mais belo ornamento do homem.

Até sempre, António Fernandes Jorge!