Ao nos depararmos com a
porta de uma igreja ornada com um vitral que exibe a vieira, em Vila Nova de
Anha, símbolo marcante dos Caminhos de Santiago de Compostela, vemos não apenas
uma porta física, mas uma passagem simbólica entre o mundo profano e o sagrado.
A vieira, com suas linhas que convergem ao centro, representa a convergência
dos caminhos em direção a um ponto comum: o encontro do ser humano consigo
mesmo e com o transcendente.
Tal como a vieira marca
os passos dos peregrinos em direção a Santiago, a concha assume um novo
significado no ritual do batismo dentro dessa igreja, onde é usada para levar a
água benta, símbolo de pureza e renascimento, até à cabeça da criança.
O batismo, com a água
retirada pela concha, não é apenas um ato de purificação. Ele é o princípio de
uma caminhada, uma jornada pela vida onde a pessoa é inserida num novo caminho
espiritual, numa jornada contínua de busca, escolhas e crescimento. A água,
fonte essencial de vida, renova o ser humano e marca o início de uma nova
caminhada: o ato de viver, de peregrinar pela existência, de crescer.
Do lado de fora, projetado pelo vitral, está a figura de um transeunte, alguém que, talvez sem saber, encontra-se também em sua própria jornada. A simbologia desse caminhar faz-nos lembrar que todos somos peregrinos e que, a cada passo, fazemos escolhas, enfrentamos encruzilhadas, como numa caminhada eterna que vai do mundano ao espiritual, do profano ao sagrado.
(In, A Aurora do Lima, Ano 170, Número 17, quinta-feira, 22 de maio de 2025, p. 17)
