«A cultura é uma necessidade imprescindível de toda uma vida, é uma dimensão constitutiva da existência humana, como as mãos são um atributo do homem.»
Ortega y Gasset
Temos a grata memória de um dia do ano 2014, quando prazerosamente
participávamos nos Saraus Culturais do Artista Arlindo Pintomeira, o Maestro
António Victorino d’Almeida nos ter alertado (porque também houvera sido
alertado na promissora juventude, por João de Freitas Branco) para a tomada de
consciência (quase como em defesa do nosso êxtase universalista), pelo facto de
Portugal, culturalmente, viver de pequenas iniciativas. Aliás, com a agravante
de até hoje ninguém se ter questionado se alguma vez soube (ou procurará saber)
o que é verdadeiramente a Cultura. No fundo, bebendo em Lévi-Strauss, o
requinte individual, mas não só, que distingue um indivíduo dos seus
semelhantes.
É através de Lévi-Strauss que conseguimos perceber e nos atrevemos à
crítica da ideia totalizante da cultura, quando esta se limita a contentar-se
com o já existente, em vez de imprimir a sua marca (identidade) no mundo
através da sua atividade, movimento que reflete o progresso da própria
consciência humana. A consciência de todos e não da forma seletiva de uns
poucos, assente no conceito de que a cultura é apenas o requinte individual que
distingue um indivíduo dos seus semelhantes.
Não é por acaso que para Aristóteles, a diferença entre os homens
cultos e incultos, residia na diferença que existe entre os vivos e os mortos.
Daí, a cultura ser o melhor conforto para a velhice, sendo que a mesma velhice
se apresenta como um símbolo de sabedoria (sem que a mesma signifique qualquer
tipo de grau académico ou estatuto por subalternização de grupo), uma vez que
arrasta consigo o domínio da experiência na vida e a aprendizagem e, por fim, a
cultura que a mesma carrega.
E, por fim, recorremos a Oliveira Martins, através de «Literatura e
Filosofia» (Lisboa: Guimarães & C.ª Editores, 1955), a propósito de Luís de
Magalhães, em jeito crítico: «E o poeta pergunta a si próprio que vereda
seguir, e não se encontra um altar levantado onde possa depor a oferta do seu
entusiasmo…» (p. 37).
Hoje, percorrida uma década, que diremos nós, quando há muito temos
vindo a constatar que as “alminhas” onde possamos ofertar o nosso entusiasmo
são demasiado pequenas, para nos ajoelharmos e orarmos.