«Todos os animais dormem. Por alguma razão há de
ser. O mundo também muda à sua volta e o seu corpo deve mudar também. Sem sono,
e a sua modificação de circuitos, não há mente…»
Pedro Cabral
(In, O Paradoxo do Cérebro, p. 97)
Apenas o olhar marca a nossa cumplicidade inabalável com o MESTRE
(Professor Doutor Manuel Curado), nos momentos de perceção do inteligível,
sendo que tal perceção não é a reminiscência de um mundo das ideias, mas sim a
irradiação “divina” do inteligível.
Todos nós temos o direito de aspirar ao poder, ao topo, ao
reconhecimento e à valorização profissional, mas só muito poucos, sem qualquer
esforço, conseguem lá chegar, independentemente do seu valor ou não. Vivemos o
tempo das incubadoras, das imagens artificiais, da construção do endeusamento
pessoal e da idolatria pegajosa.
Os degraus das escadas, alusão clara ao esforço e evolução cognitiva,
deram lugar aos parapentes, asas-deltas, paraquedas e afins. Quando o respeito,
ao invés da tolerância, devia carregar uma polaridade ativa, constituindo-se
assim numa virtude estruturante e intermédia que nos ajudasse na difícil
travessia que nos conduz ao cume da ética, aparece a marca da indiferença e/ou
da (in)tolerância em excesso que nos empurram para a generalização dos valores
inferiores.
E ainda há quem tenha a coragem de nos dizer que, abusando do velho
cliché, «O dinheiro não é tudo!». Aí, sempre nos vem à memória da Retórica em
Aristóteles, quando este procede a uma análise das emoções: ira, calma, amizade,
inimizade, temor, vingança, vergonha, desvergonha, amabilidade, piedade,
indignação, inveja e emulação. A convulsão permanece, favorecendo sempre os
asas-deltas.
Face aos nossos estudos científicos e algumas fragilidades presentes (–
Sim, um homem não é de ferro!), para descomprimir em tempo de gozo pleno, sem
dar satisfação a quem quer que seja – bastando para isso os 48 anos, 6 meses e
25 dias de trabalho, que contribuíram, a grosso modo, para nos atribuírem
aquilo que acharam como um favor à nossa pessoa –, este é um dos nossos livros
do momento: «O CÉREBRO NOTURNO: Pesadelos, Neurociência e o Mundo Secreto
do Sono» do especialista em Medicina do Sono, Dr. Guy Leschziner,
neurologista nos hospitais Guy e St. Thomas, em Londres, dirige o Sleep
Disorders Centre, um dos maiores serviços de investigação e tratamento de
distúrbios do sono da Europa. Trabalha também nos hospitais London Bridge e
Cromwell. É ainda professor de neurologia no King’s College de Londres:
«A insónia e a privação do sono estão muitas vezes associadas. Os riscos
para a saúde da privação do sono, nessas pessoas que simplesmente não se
permitem dormir o suficiente, estão bem documentados: mortalidade, aumento de
peso, tensão arterial elevada, diabetes… a lista prossegue sem parar. É, portanto,
natural que as pessoas com insónia se preocupem com estes problemas…»
(LESCHZINER, 2020: 313).
Pena é que aqueles que nos vão tirando o sono não se apercebam também
do seu aumento de peso (quiçá, na consciência), tensão arterial elevada,
diabetes e, por proximidade, consequente mortalidade (ignorância). Não é que «O
Cérebro Noturno» entrelaça histórias bizarras da vida real com ciência
neurológica de ponta.
Aqui fica um conselho: Ler nunca fez mal a ninguém e ajuda a combater a ignorância e os incitadores insones!
(In, Cardeal Saraiva (Ponte de Lima), Ano 114, n.º 4912, 15 de junho de 2023)