sábado, 3 de fevereiro de 2018

O GÉNIO DE CAMILO CASTELO BRANCO (1825-1890) E A SUA ATRIBULADA RELAÇÃO COM OS MÉDICOS DO SEU TEMPO.


«Se ligarmos o fim de Camilo ao desnorteamento da sua existência, entenderemos melhor que os homens não são diferentes das ideias que os regem. Camilo sofreu paixão e morte, porque o individualismo frenético do seu ambiente cultivou e engrossou o individualismo frenético que o escritor reflectia como herança estrutural. A não ser outra a causa da diminuição da sua personalidade, do desencontrado da sua obra. Invertam-se pois, os dados da questão – e seja para se afirmar contra os preconceitos lombrosianos, que em Camilo a doença, longe de lhe alimentar o génio, só lho mutilou e desfigurou, acabando por extingui-lo…»

(ANTÓNIO SARDINHA, 1925:688).

Com esta pequena nota de abertura, assinada por António Sardinha[1], acabamos por impor a nós próprios, um certo contraditório, ao que, nas jornadas anteriores, nos sugestionaria, nos tempos que correm, a definição de “Génio de Camilo”, aventada pelo mesmo António Sardinha, que nas suas manifestações tão desencontradas como variadíssimas, só nos poderia ser dada pelo estudo psicológico da hereditariedade do escritor, mesmo que não se procure ressuscitar os velhos processos lombrosianos; e a resposta de Alberto Pimentel à pergunta se a doença houvera prejudicado a obra de Camilo: Não só não prejudicou como até lhe imprimiu uma feição genial.


Esse presumível contraditório, fruto da releitura que temos vindo a fazer de estados emocionais de Camilo, através de cartas e outros meios, e menos pelo lado criativo-literário, somos, contudo, confrontados com a opinião de António Sardinha, através de um extenso apontamento, a que deu o título “O Génio de Camilo”, publicado «In Memoriam de Camillo», obra comemorativa do centenário do nascimento deste insigne historiador, romancista e poeta, quando afirma, a dado momento, que «Camilo, na sua espontaneidade fecundíssima, foi sempre governado por uma “disputa de mortos” como certamente diria Léon Daudet. Na verdade, se considerarmos a obra literária desse escritor como a libertação das imagens ancestrais que lhe povoam o subconsciente, Camilo Castelo Branco aparece-nos como da estirpe dos Shakspeare e dos Balzac. Mais dos Balzac que dos Shakspeares…»[2], porque – segundo ele –, em Balzac Camilo encontrou a fórmula para a libertação dos seus demónios interiores, quiçá, avivados através da «linhagem irrequieta de inadaptados que são os ascendentes de Camilo, cheios de tatuagens sociais e morais, a que não faltava nem a nota infamante do judaísmo…»[3]. É o mesmo Sardinha que lhe confere esse ajuste balzaquiano: Havia em Camilo, como em Balzac, um intenso sentido da história. Mas Camilo sofria, tanto na sua inteligência como na sua sensibilidade, as consequências do duelo que nele travavam incessantemente duas hereditariedades hostis, referindo-se à acentuada luta entre o Camilo regido por “avós bem plantados no coração eterno da pátria”, e o Camilo sacudido, “num sabbat violento, pela constante intervenção da sua ancestralidade israelita”[4].
Paulo Osório[5], por exemplo, prejudicado pelo excessivo espírito clínico com que por vezes encara a psicologia atormentada de Camilo, insiste no elemento do judaísmo da parte dos antepassados do romancista, como factor predominante e/ou preponderante na determinação do temperamento de Camilo: «Espiolhando bem as costelas de criatura a quem genealogistas diversos tão várias profissões atribuíram, vem-se a saber da existência, em seu nobre sangue, de laivos judeus, oriundos de duas cristãs novas que respectivamente conviveram com seu pai e seu avô. Para o cadastro patológico que é lícito formar nesta família, convém não perder o indício que nos pode dar um facto tal, por isso que é hoje já vulgar na ciência que a raça hebraica é, dentre todas as raças, uma das que maior contingente fornecem para o grupo das doenças nervosas[6]».

Casa, hoje inexistente, que serviu de residência a Camilo Castelo Branco, em Viana do Castelo (1857) 

Não nos admiramos com esta desconstruída rotulação, principalmente no que concerne à expressão de “laivos judeus” na procura da hereditariedade, quando J. Lúcio de Azevedo traz-nos à coacção, no seu dizer, a pena do medíocre foliculário Vicente da Costa Matos, autor que, na linguagem pedante daquele período (1625) de decadência literária, pedia a expulsão dos heréticos, e coligia as opiniões correntes sobre a gente de Israel, opiniões que simultaneamente revelam o ódio inspirado por ela, e o estado triste da mentalidade contemporânea: «Os judeus, dizia ele, são feios de rosto, e assim os tem Deus assinalado, como expressão do seu desprezo; exalam cheiro mau, que só com o baptismo se dissipa; ao falarem, cospem-se por si e uns aos outros nas barbas, em castigo de haverem cuspido a Cristo, quando o martirizaram; os do sexo masculino são menstruados, provavelmente também por castigo; e outras semelhantes inépcias. Além disso, increpa-os de homossexuais, e de haverem introduzido o vício no país…»[7] – citamos.  
Mais tarde, ao citar Charcot, «as nevroses resultam de dois factores: um, essencial e invariável: a hereditariedade nevropática; outro, contingente e polimorfo: os agentes provocadores», Paulo Osório acaba por ainda juntar à hereditariedade nevropática os factores congenitais, adquiridos na vida fetal, que a excessiva concisão daquela fórmula exclui: «Quanto ao primeiro factor, essencial e invariável, é notório como em Camilo ele influiu. Eu penso que dificilmente se encontrará estirpe mais opulenta para a guarda avançada dum caso esplendido de génio. E pelo que se refere aos factores adquiridos na vida fetal, basta recordar as primeiras palavras desta nosografia: “Camilo Castelo Branco foi gerado no período mais doloroso dum amor violento”. Citar agora, um a um os agentes provocadores seria repetir o que está dito, contar de novo toda essa biografia acidentada, essa vida errante, de paixão e amargura…»[8].
Paulo Osório, acabou por ancorar-se na certeza de que os sintomas mórbidos observados em Camilo poder-se-iam dividir metodicamente em três grupos: 1.º – Nevralgias, impressão do ferro em brasa na cabeça, insónia, fobias, abulia, obsessões e impulsões, irregularidade no trabalho, tendência para a auto-observação, vagabundagem, e primeiras perturbações visuais; 2.º – Espasmo nervoso no esófago, versatilidade, instabilidade, egoísmo, grande poder imaginativo, interpretação mística dos factos mais simples, desigualdades psíquicas, exagero de todas as sensações, perturbações auditivas – ainda algumas perturbações visuais (como a diplopia) –, assomo de megalómano e perseguido, sonhos, pavores nocturnos, pesadelos e tendência para o suicídio; 3.º – Dores fulgurantes, silvos nos ouvidos, surdez, ataxia, perturbações visuais mais adiantadas (tais como a epífora, a ambliopia, a nevrite óptica, a imobilidade da pupila e a amaurose). Conclui que os sintomas no primeiro grupo denunciam-nos o neurasténico[9]; no segundo como pertencendo ao quadro de histeria; e no terceiro, Paulo Osório atribui-lhe o tabes[10], uma doença orgânica do sistema nervoso, na sua forma clínica cérebro-bulbar[11].
Estas considerações aventadas por Paulo Osório, acabariam por suscitar em Miguel Bombarda um esboço crítico, onde o ilustre psiquiatra, procurou refutar a tese apresentada, principalmente quando ventila a nosologia[12], o exame psicopático, de Camilo: «…O autor procura demonstrar que Camilo era um neurasténico, e para isso vale-se, valha a verdade, do avolumamento de muito pormenor que não contém, longe disso, a significação que se lhe quer conceder. É assim que se faz um montão de fobias onde nem uma talvez se possa apurar: porque a verdade é que a fobia não é só o simples horror à doença ou à morte, porque então seria neurasténico, mais ou menos, todo o ser humano, do mesmo modo que não é fonófobo quem não tem ouvido musical, como enfim senão acha possuído, do neurasténico horror à luz aquele que dela foge, fisicamente sofrendo dos órgãos visuais…[13]». Para Miguel Bombarda, psiquicamente, Camilo não era neurasténico. Sem se querer pronunciar, porque não possuía o conhecimento bastante do homem nem da sua obra, sempre acabaria por vinculá-lo à ataxia[14]: «…E fisicamente, como doença que o levou ao desespero final, julgo não poderá haver dúvida para nenhum médico que Camilo era um atáxico. A ataxia acorrentou-o à dor nos últimos anos da vida, e foi ela que o conduziu ao suicídio[15]». Para o mesmo psiquiatra a ataxia não era um mal neurasténico, tendo em conta que, para os médicos da época, a ataxia locomotora, do mesmo modo que a paralisia geral, não era mais que um derradeiro golpe sífilis.
Nesta troca de mimos entre médicos, com Camilo a premeio, o insigne escritor não só se incompatibilizou com muitos dos médicos do seu tempo, como acabaria por provocar alguma escaramuça entre eles.          
 Vejamos outro exemplo, que nos reporta até ao ano de 1879, altura em que, pela segunda vez, a Princesa Rattazi – de seu nome de solteira Maria Letícia Wyse), filha de um diplomata inglês Tomás Wyse e de Lectícia Bonaparte, filha de Luciano Bonaparte, sendo seu tio-avô o grande Corso –, veio a Portugal, por forma a colher impressões para um livro célebre que intitulou Portugal à vol d’oiseau e que saiu em 1880. Ora, dessa segunda vez, veio ao Porto, festejada por uns e outros. Camilo foi chamado pelo seu livreiro editor a ir ao beija-mão. Eximiu-se na carta seguinte com o seu salpico de chiste e de pessimismo:
Meu prezado Chardron:
Com muito prazer iria cumprimentar a Senhora Princesa se o meu crescente desbarate de saúde me não obrigasse a sair daqui amanhã para Ponte de Lima, onde me espera um médico que me quer aplicar a dosimetria – um sistema moderno mediante o qual se morre à antiga.
Eu fiz um voto de nunca mais voltar ao Porto.
Sempre que aí vou, retiro em pior estado.
Não obstante, se não fosse esta saída para Ponte de Lima, iria prestar à insigne escritora a cortesia devida aos seus talentos. Queira o meu amigo apresentar a S. Alteza as minhas desculpas e os meus respeitos.
Do seu amigo obrigado
Camilo Castelo Branco.
Esta curiosa carta presta-se a comentários. Assim, pode encarar-se aquela vinda do escritor a Ponte de Lima como momentânea fantasia, apenas como pretexto ocasional para se livrar da estopada de ter de se deslocar de Seide por motivo do que se lhe afigurava tão fútil. Mas se era verdadeiro, qual seria o médico da vila que então gozava de tal prestígio que mereceu a honra da atenção de Camilo? E Camilo teria feito, efectivamente, essa jornada para se sujeitar à tal aplicação do tal sistema da dosimetria? O par de interrogações lançou em nós uma redobrada curiosidade.
Sobre uma das perguntas suscitadas por esta carta de Camilo, viria a obter-se uma resposta infalível, por sugestão de José Benvindo Martins de Araújo: – Quem era o médico de Ponte de Lima que foi consultado por Camilo? É o próprio Camilo que, em carta dirigida a Tomás Norton[16], um dos limianos com quem, juntamente com João Gomes de Abreu, Camilo se carteava, acaba por revelar o médico a quem, dado o seu prestígio e reputação clínica, recorreu: «Obrigado à dedicada benevolência dos seus cuidados pela minha irreparável saúde. Não há que esperar na velhice quando a mocidade foi desbaratada, contraindo empréstimos adiantados às forças da vida porvindoura. Não me admiro deste esfacelamento: o que me espanta é viver. Há 4 meses consultei em Vizela um médico conterrâneo de V. Ex., Freitas. Capitulou de esgotamento nervoso a minha enfermidade, e mandou-me tomar fósforo pelo sistema de Bourggrave. Veja V. Ex.ª! com o fósforo tenho eu de reconstituir um regenerado sistema nervoso! Mas o pior foi que, antes de renovar a massa encefálica, ia arranjando uma intoxicação de arseniatos que por pouco o não aliviava a V. Ex.ª de ler este boletim sanitário…»[17] – carta datada de 6.ª feira, 7 de Novembro de 1884.
Temos, por conseguinte, que em Agosto (três meses antes) Camilo encontrou-se nas águas de Vizela, onde costumava veranear, com o célebre doutor Freitas – António Inácio Pereira de Freitas[18] – a quem consultou, que com certeza o examinou e que o medicou.
Outra carta, de 12 do mesmo mês e ano, refere-se ainda ao Dr. Freitas:
«V. Ex.ª é ingrato à terapêutica do Freitas. Os grânulos cabalísticos do homem, ingeridos nas vísceras do cancro, mataram-lho. O cancro é um micróbio, em forma de vírgula, com o feitio de caranguejo, que V. Ex.ª terá a curiosidade de ver no Zodíaco (Câncer). Verdade é que o Freitas intoxicou o parasita inconscientemente; matou-o por acaso como o Colombo descobriu a India ocidental; mas nem por isso havemos de esbulha-lo de ter subido pelos alcatruzes do bambúrrio a uma eminencia de glória que V. Ex.ª parece querer empalhar-lhe, atribuindo a sua cura à Natureza, mãe fecunda de todos os cancros e de todos os Freitas.
Seriamente, o meu incessante penar de 20 anos, tenho estudado a infâmia com que os charlatães de todas as seitas médicas mangam com os enfermos – com a dor física, esta coisa que, por ser horrorosa, deveria ser sagrada. Tenho encontrado dois médicos catedráticos que, com os olhos quase lacrimosos como os do Freitas, me disseram que me deixasse morrer nos braços da “Alma Mater”, esta coisa que nos desova cá fora e depois nos retrai ao seu ventre, como quem engole um porco vómito, cheio de fezes, de apostemas, de cancros, do diabo…»[19].
A relação de Camilo com o Ricardo Jorge, António Maria de Sena e o subsequente Júlio de Matos, aquando do internamento do seu filho Jorge, em 1886, dos quais falamos nas Jornadas anteriores, não foi de todo pacífica. Se Ricardo Jorge teve um papel importante no internamento do filho de Camilo, ao passar o atestado que as formalidades regulamentares exigiam para a mesma admissão, aduzindo-lhe um problema degenerativo hereditário, chamando à coacção a ancestralidade do avô paterno e de dois tios como alienados, e Camilo, apesar de homem de talento, um nevropata e um sifilítico, também não é menos verdade que Ricardo Jorge, perante uma menor assiduidade na sua correspondência com Camilo, informando-o do estado de saúde do Jorge, mereceu da parte do escritor, em carta dirigida a Eduardo Costa Santos, o seguinte desabafo: «Não sei nada do Dr. Ricardo. Parece que está zangado com a gente. Paciência. Não tem razão…»[20].
Dois anos antes, Camilo escrevera a Tomás Norton: «(…) Como me sinto sem forças para escrever falo-lhe da minha doença. Fui antes de ontem ao Porto para consultar um especialista de nevroses, Ricardo Jorge. Não cheguei a falar ao médico por que a noite foi tão cruel que tive de retirar de manhã, aterrado com uma coisa nova – a asfixia. Isto é irremediável, e cheguei a termos de encarar alegremente a morte, apesar de levar muitas saudades de um filho de 21 anos que aos 12 endoudeceu em Coimbra onde eu estava com ele, e com outro – um doudo d’outra espécie de que não sei nada, senão o que me ressoa do estrondo das suas estravagâncias. Este rapaz herdou há 3 meses da mulher e da filha 150 contos. Se ele viver 6 anos, e eu tiver a desgraça de lhe sobreviver, hei-de recebe-lo em minha casa para ele não pedir esmola ou sair nas encruzilhadas. Tem 20 anos. A minha pior enfermidade são estes dois filhos. / Desejo-lhe a V. Ex.ª a suprema felicidade de se honrar no procedimento dos seus.[21]»
Tal como o afirmara Alberto Pimentel, a vida de Camilo havia de ser até ao fim «uma elegia continuada». Sofria a nevrose do génio romântico; era um emotivo. Segundo Luís Norton, Sócio da Academia Portuguesa da História e do Instituto Histórico Brasileiro, o próprio Camilo confessava viver mais pelo coração do que pelo cérebro. Era fiel aos seus sentimentos de amizade e de amor paterno. Foi com desespero de pai que acompanhou a loucura do seu filho primogénito, Jorge Camilo, que faleceu em S. Miguel de Seide aos nove dias de Setembro de 1900. O outro filho, Nuno Plácido Castelo Branco, viveu até ao dia 23 de Janeiro de 1896. Este era extravagante, o estroina[22].
Camilo Castelo Branco chegou a escrever a Ricardo Jorge, que chegava a atingir a baliza do ridículo o desgraçado da sua estatura quando invocava reminiscências da sua velha graça para se fingir superior ao seu descompensado infortúnio. Há muitos anos que ele, tão alegre nos seus livros, se indemnizava dessa ficção, chorando amargamente no recesso da sua vida solitária. Eram as lágrimas proféticas desse martírio que ele nunca pôde antever com a perspicácia da sua imaginação tão fértil, tão prostentada em desgraças. Quando, a relanços de trevas, se lhe prefigurava o horrendo transe da cegueira, acudia-lhe como um anjo redentor a intensão resoluta, heróica e briosa do suicídio, como se pode inferir das suas próprias palavras: «Hoje que apenas tenho olhos para ver a condensação das trevas, não tenho a fácil coragem de me matar. As lágrimas de uma mulher trinta anos adorada, e as mãos valiosas de dois amigos têm sido para mim a âncora lançada ao prego desta incomportável tormenta. Quando essas mãos benfazejas esmorecerem, e essas lágrimas se gelarem na face morta de Ana Plácido, então terei a coragem do suicídio – esse heroísmo banal que tem levantado muitos miseráveis à estatura dum Catão[23]».    
O estigma das avaliações menos positivas ao estado psicológico ou comportamental em Camilo Castelo Branco, para além de ter começado muito cedo, era muitas vezes sinalizado, a tinta ferrosa, pela sua própria pena. Atentemos a uma carta dirigida ao seu amigo José Barbosa e Silva – aquele que, até morrer, foi um dos seus mais dedicados e compreensivos amigos, sempre de bolsa aberta para o socorrer –, em 11 de Setembro de 1856, a propósito da Freira do Convento de S. Bento da Ave-Maria, do Porto, Isabel Cândida Vaz Mourão, com quem manteve uma prolongada relação amorosa:
«Meu Caro Barbosa.
Causa-te espanto uma carta minha depois de outra que ontem receberias? Também a mim me maravilha escrever-ta. São 11 horas da noite, e chego ao Porto, com estes restos de coração atravessados numa roda de navalhas. É o caso:
Eu nunca disse a Isabel Cândida as minhas intenções a respeito de ir para Viana, por que previa o abalo, e receava os efeitos por ela e por mim, que sou um imbecil, quando sou causa e ao mesmo tempo testemunha duma grande dor. Era minha intenção deixá-la recolher ao convento, e depois cá de fora escrever-lhe uma carta, longamente meditada, de modo que o golpe fosse dado com punhal dum só gume: isto é – tencionava mentir-lhe, dizendo que a minha ida era simplesmente uma tentativa para o melhoramento da minha saúde.
Hoje, indo eu levar-lhe minha filha, que se achava aqui há 3 dias, recebeu-a chorando, sem querer dizer-me a razão por quê. Muito instada, prorrompeu numa acusação quase violenta à minha ingratidão, e acabou por me dizer que sendo ela minha amiga era a última que devia saber que eu saía do Porto. Da violência passou para a mansidão das lágrimas suplicantes, e por fim acabou por ser assaltada dum terrível incómodo que me assustou. Neste estado, foi-me impossível dizer-lhe uma só palavra de consolação. Minha filha chorava, e o médico Ferreira que eventualmente ocorreu neste ensejo, fez-me sentir que a organização enfraquecida da pobre mulher podia sucumbir a semelhante choque. Eu estava parvo, e parvo saí quando a noite já adiantada me obrigou.
Aqui tens uma situação bem especial – uma das minhas diabólicas situações, em que o coração revive em toda a compaixão que as minhas próprias desgraças não têm podido desvanecer para com os outros. Isto é uma fatalidade de que não há partido a tirar. É-me impossível, já agora, ser meu. Há-de haver sempre em mim um pensamento bom que me escravize ao mal. Sou como aquele que mede a profundidade do abismo, e não tem a resolução de recuar…»[24]
O médico referido nesta mesma carta, era um amigo íntimo de Camilo, Joaquim José Ferreira, nascido em Coimbra, onde concluiu o curso em 1846, tomando pouco tempo depois o partido médico de Celorico de Basto. Em 1854, transferiu-se para o Porto, onde teve justa nomeada de habilíssimo clínico e de impudente namorador. De excessivo esmero no vestuário, era conhecido pelo Ferreira janota. As suas relações de amizade com Camilo Castelo Branco datam de 1849, o período frenético da boémia portuense. Joaquim José Ferreira foi testemunha de Camilo no processo de adultério (1861), exigindo, para depor, que a sessão fosse secreta. Nesse mesmo ano, pretendendo Camilo fazer uma cura na Casa de Saúde deste mesmo médico, como já acontecera de outras vezes, em carta de 29 de Janeiro dirigida a Joaquim Ferreira Moutinho, confidenciar-lhe-ia a suspeita da má disposição do Dr. Ferreira a seu respeito, pedindo a Joaquim Moutinho para sondar no sentido de conhecer os seus reais sentimentos.
Como escreveria Maximiano Lemos, fazendo denotar alguma peculiar conflitualidade de Camilo para com o Dr. Ferreira, com ressalva deste incidente (talvez uma fantasia de Camilo), Joaquim José Ferreira manteve-se fiel à amizade cimentada nos delírios da juventude: em 1888 participou na conferência médica, realizada no Porto, sobre a preocupante saúde do escritor, com os colegas Ricardo Jorge, José de Andrade Gramaxo e Manuel Lopes Santiago, e em 1890 foi dos poucos que acompanhou o cadáver do infeliz amigo ao cemitério da Lapa[25].
Segundo Maximiano Lemos, durante a sua vida, Joaquim José Ferreira «manteve sempre as melhores relações com o grande romancista, mas este nunca teve em qualquer médico por muito tempo confiança.[26]»
Terminaremos em dois registos que melhor poderão definir o desnorteamento da existência de Camilo e a doença que, “longe de lhe alimentar o génio, só lho mutilou e desfigurou, acabando por extingui-lo”:   
«Camilo Castelo Branco foi um nevropata hereditário e ao desvio patológico da sua função nervosa devem atribuir-se os seus males físicos, as suas desigualdades de carácter – e o seu génio. A doença, causa primeira de todo o drama da sua vida, incompatibilizou-o com o meio e daí os ódios que concitou contra si no largo período de combate de quarenta anos, ódios que, ainda mal instintos, têm sido o maior entrave à realização da homenagem devida à memória do seu nome e ao mérito altíssimo da sua obra.[27]» – escreveu Paulo Osório, em jeito de conclusão, ao seu “esboço de crítica”, sobre Camilo Castelo Branco.
Por outro lado, tornando o facto tão actual como à época, a merecer uma reflexão da nossa parte, citaremos Miguel Bombarda: «O sofrimento, debaixo dos seus múltiplos aspectos – condições, modalidades, efeitos –, tem sido objecto de muitas e profundas análises. Mas onde os psicologistas têm parado é no estudo da acção que a dor, qualquer que seja a sua forma, vem a exercer sobre aqueles que lhe são menos espectadores. O lugar-comum de que a dor alheia move à própria dor e a bondade dum coração é aferida pelo seu compadecimento é, aos parece, o extremo limite até onde se tem ido neste campo que se ofereceu hoje à nossa consideração e que antevemos fértil em observações ilustrativas (…)[28]».
E porque estas extraordinárias considerações de Miguel Bombarda, em jeito de resposta a outras de Paulo Osório, só por si, ocupariam todo o tempo da nossa modesta intervenção, ficaremos por uma espécie de “imperativo categórico” à boa maneira kantiana, mas assente no pensamento de Miguel Bombarda: «E todavia a acção do médico em estados desses é tão altamente poderosa que faz lástima andem ao abandono tantos miseráveis, que uma psicoterapia regrada, longe das brutalidades da sugestão teatral e do hipnotismo, poderia ressuscitar à felicidade da vida (…). É que não há uma base física que se possa apalpar, nem ao menos uma base que se figure como representação do espírito…[29]».       
   
Bibliografia:

ARQUIVO CLÍNICO do Centro Hospitalar Conde Ferreira – SCMP.
AZEVEDO, J. Lúcio de – História dos Cristãos Novos Portugueses (1921). 2.ª ed. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1975.
BARBOSA, Luiz Xavier – Cem cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada Sociedade Editora, 1919.
CABRAL, Alexandre – Dicionário de Camilo Castelo Branco. 2.ª ed. revista e aumentada. Lisboa: Caminho, 2003.
FIER, David – As (Trans)Figurações do Eu nos Romances de Camilo Castelo Branco (1850-1870). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005.
JORGE, Ricardo – Camilo Castelo Branco: Recordações e impressões-Camilo e António Aires. Lisboa: Editorial Minerva, s/d.
LEITÃO, Joaquim – Genio da desgraça. Lisboa: Ottosgrafica, 1925.
LEMOS, Maximiano Lemos – Camilo e os médicos. Porto: Companhia Portuguesa Editora, 1920.
NORTON, Luís – Doze Cartas Inéditas de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Portugália Editora, 1964.
OSÓRIO, Paulo – Camillo Castello Branco e o Snr. Dr. Bombarda. Porto: Typ. da Empreza Litteraria e Typographica, 1905.
Camillo Castello Branco: Esboço de Crítica. Lisboa: Livraria Moderna–Editora , 1905.
Camilo, a sua vida, o seu génio, a sua obra. 2.ª ed. Porto: Companhia Portuguesa Editora, 1920.
SARDINHA, António – “O génio de Camilo”. In, In Memoriam de Camillo. Lisboa: Casa Ventura Abrantes, 1925, p. 633-688.

NOTA: Comunicação apresentada nas VII Jornadas Internacionais de História da Loucura, Psiquiatria e Saúde Mental, realizadas em Coimbra, nos dias 9 e 10 de Maio de 2016, numa organização do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra – CEIS 20 / Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia – GHSCT / Sociedade de História Interdisciplinar da Saúde – SHIS.


[1] António Sardinha foi um adversário da Monarquia da Carta (1834-1910) chegando, no tempo de estudante na Universidade de Coimbra, a defender a implantação de uma república em Portugal. Depois de 5 de Outubro de 1910, durante a Primeira República ficou profundamente desiludido com ela e acabou por se converter ao ideário realista da monarquia orgânica, tradicionalista, antiparlamentar do “Integralismo Lusitano”, de que foi um dos mais destacados defensores. Em 1911 já estava formado em Direito pela respectiva universidade e no final do ano de 1912, escrevia a comunicar a sua «conversão à Monarquia e ao Catolicismo». Seus principais inspiradores, ou “pais espirituais”, de acordo com o pensador e político espanhol Ramiro de Maeztu, foram Eça de Queiroz, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, Fialho d´Almeida e, “um pouco mais atrás”, Oliveira Martins, Antero de Quental e Camilo Castelo Branco.

[2] Cit. SARDINHA, António – O génio de Camilo. In, “In Memoriam de Camillo”, p. 634.
[3] Cit. Idem, ibidem, p.
[4] Cf. Idem, ibidem, p. 636.
[5] Paulo Mendes Osório, nascido no Porto em 1882, e falecido em Graches (arredores de Paris) em 1965, foi escritor e jornalista de renome, depois de ter desistido do curso da Escola Médico-Cirúrgica para se dedicar à carreira literária. Depois de fundar o periódico Alvorada (1896-1897) e de colaborar intensamente em diversos jornais do País, e defender a política franquista, acabou por fixar residência em Paris, em 1911, onde se tornou colaborador de O Século, correspondente do Diário de Notícias e director, já em 1922, da versão parisiense deste diário, o Paris-Notícias. (…) Entre as suas obras destaca-se a biografia de Camilo Castelo Branco, em que o autor intenta explicar o génio literário deste escritor através da sublimação das tendências criminais dos seus antepassados. Bem aceite por inúmeras figuras prestigiadas da sua época – entre eles Teófilo Braga –, esta obra deu origem a uma prolongada polémica com Miguel Bombarda, que põe em causa, em termos médicos, o exame psicopático de camilo aí exposto. (In, Dicionário Cronológico de Autores Portugueses. Org. Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1994, Volume III, p. 259-260).
[6] Cit. OSÓRIO, Paulo – Camillo Castello Branco: Esboço de Crítica, p. 10.
[7] Cit. AZEVEDO, J. Lúcio de – História dos Cristãos Novos Portugueses, p. 179-180
[8] Cit. OSÓRIO, Paulo – Camilo, a sua vida, o seu génio, a sua obra, p. 248-249.
[9] Neurose com enfraquecimento da força nervosa, perturbações mentais do tipo tristeza, apatia e, muitas vezes, com indisposições físicas como dores de cabeça, perturbações digestivas, etc.
[10] Doença nervosa de origem sifilítica que prova ataxia progressiva dos membros locomotores, pela degeneração dos cordões posteriores da espinal medula.
[11] Cf. Idem, ibidem, p. 249-250.
[12] Parte da Medicina que descreve, estuda e classifica as doenças.
[13] Cit. BOMBARDA, Miguel – “Psychologia de soffrimento… nos que não soffrem”. In, A Medicina Contemporânea, Anno XIII, N.º 28, Série II – Tomo VIII, 9 de Julho de 1905, p. 217-218.
[14] Incoordenação patológica dos movimentos do corpo e desordem nos fenómenos psicológicos.
[15] Cit. Idem, ibidem, p. 218.
[16] Tomás Mendes Norton, avô paterno de Luís Norton (Sócio da Academia Portuguesa de História e do Instituto Histórico Brasileiro), terminado o curso de Matemática, em Coimbra, isolou-se romanticamente numa aldeia minhota, perto de Ponte de Lima. Segundo Luís Norton, o seu avô era um sonhador, um visionário, muito lúcido, de imaginação vivíssima. Grande proprietário rural no Alto Minho, comprou o Mosteiro de Refojos do Lima, e ali, naquela antiga fundação teve o infortúnio de encontrar quadros a óleo, azulejos e esculturas de valor artístico. Utopista como era, sonhou e convenceu-se que toda a arquitectura do seu convento, restaurado no século XVI, era obra de Bramante, o mesmo Bramante autor do Templeto e do Belvedere, do Vaticano. Foi naquele tempo, por volta do ano de 1884, quando o senhor do Mosteiro de Refojos do Lima consumia febrilmente a sua vida para provar que Rafael fora o pintor dos quadros existentes naquele mosteiro, que se iniciou sua correspondência epistolar com Camilo Castelo Branco. Tomás Mendes Norton era sobrinho de um grande bibliófilo que se chamava também Tomás Norton. Este e Vieira de Castro foram os amigos que apresentaram o proprietário de Refojos ao romancista exilado, na altura, em S. Miguel de Seide. Foi em redor da descoberta feita por Tomás Mendes Norton, que começou uma troca de cartas entre ele e Camilo, versando principalmente a fantasmagórica tese sobre a autoria das pinturas de Refojos, tese à qual Camilo deu crédito inteiro. (Cf. In, NORTON, Luís – Doze cartas inéditas de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Portugália Editora, 1964, p. 9-13).
[17] Cit. NORTON, Luís – Doze cartas inéditas de Camilo Castelo Branco, p. 43.
[18]  António Inácio Pereira de Freitas nasceu em S. Miguel de Vizela (Guimarães), em 1 de Fevereiro de 1842, filho do farmacêutico José de Freitas Oliveira e de sua mulher D. Cecília Rosa da Silva Pereira. Em 1866, concluiu a licenciatura na antiga Escola Médico-Cirúrgica do Porto, com a tese «Das águas minerais em geral e da sua aplicação em particular nas moléstias cirúrgicas». Cerca de um ano depois veio para Ponte de Lima, onde exerceu clínica durante trinta e oito anos e deixou o seu nome bem lembrado, não só pela superioridade da sua competência profissional, mas ainda pelos feitos que em múltiplas actividades culturais o seu espírito talentoso se expandiu. Profissionalmente sempre a par dos últimos progressos da arte médica, foi pioneiro na aplicação da dosimetria e da hipnoterapia, novidades terapêuticas que o entusiasmaram e lhe deram reputação clinica por toda a Província do Minho. Contava apenas sessenta e três anos de idade quando morreu em 7 de Setembro de 1905, viúvo de D. Antónia Adelina Saldanha e sem geração, na casa que mandara edificar na Rua de D. Pedro, hoje Rua General Norton de Matos – In, Figuras Limianas, coord. ABREU, João Gomes d’. Ponte de Lima: Município de Ponte de Lima, 2007, p. 241-242.
[19] Cit. NORTON, Luís – Doze cartas inéditas de Camilo Castelo Branco, p. 48.
[20] Carta a Costa Santos recebida a 20 de Outubro de 1886.
[21] Cit. Idem, ibidem, p. 60.
[22] Cf. Idem, ibidem, p. 34.
[23] JORGE, Ricardo – Camilo Castelo Branco: Recordações e impressões…, p. 370-372.
[24] BARBOSA, Luiz Xavier – Cem cartas de Camillo, p. 17-18.
[25] Cf. LEMOS, Maximiano – Camilo e os médicos, p. 294-305.
[26] Cit. Idem, ibidem, p. 303.
[27] Cit. OSÓRIO, Paulo – Camillo Castello Branco: Esboço de Crítica, p. 149.
[28] Cit. BOMBARDA, Miguel – “Psychologia de soffrimento… nos que não soffrem”. In, A Medicina Contemporânea, Anno XIII, N.º 28, Série II – Tomo VIII, 9 de Julho de 1905, p. 217.
[29] Cit. Idem, ibidem.

KAZUO ISHIGURO NO HORIZONTE...

Leitura iniciada pelo Natal de 2017

Continuação da leitura, em jeito de descompressão, ao princípio da tarde de hoje, com imagem, a pensar na nossa história por vezes selvagem, por vezes misteriosa, sempre intensamente comovedora, luminosa sobre o esquecimento e o poder da memória: «Penetraram no bosque, e o solo que pisavam modificou-se. Havia musgo suave, urtigas e até mesmo fetos. Acima das suas cabeças, as folhas eram tão densas que formavam um tecto, de modo que durante algum tempo avançaram numa penumbra cinzenta. Contudo, aquilo não era uma floresta, pois depressa viram à sua frente uma clareira com o círculo de céu aberto por cima dela...» (ISHIGURO, Kazuo – “O Gigante Enterrado”. Lisboa: Gradiva Publicações, 4.ª ed., Novembro 2017, p. 302). E logo hoje que sentimos o pulsar da superfície urtigada cobrindo, mas ao mesmo tempo aclarando, uma abóbora, cuja utilidade prática na noite anterior, nos servira de transporte ao tempo da “gata borralheira”. Ficamos com a estranha sensação que o sapatinho de cristal, por certo, um dia se irá quebrar… Sempre haverá hipótese de reciclagem. Sorte a nossa, porque não há noites iguais. Felizmente, dormiremos de consciência tranquila, aconchegados ao nosso travesseiro de plumas!

domingo, 12 de novembro de 2017

(RE)LENDO «Sabedoria sem Respostas» de Daniel Kolak e Raymond Martin

KOLAK, Daniel; MARTIN, Raymond – Sabedoria sem Respostas: Uma Breve Introdução à Filosofia. Lisboa: Temas e Debates, 2004. ISBN: 972-759-467-0. 212 p.

A obra Sabedoria sem Respostas está dividida em catorze capítulos e, além disso, possui um prefácio, uma nota introdutória – que, curiosamente, são dos próprios autores – um epílogo e um último capítulo, intitulado «Ligações Filosóficas», que se subdivide em mais catorze capítulos.
Antes de nos debruçarmos nos catorze capítulos iniciais, diríamos, a estrutura principal da obra destes dois autores americanos[1], remeter-nos-emos para a parte final, a fim de esmiuçarmos o sentido pedagógico do capítulo das «Ligações Filosófica», onde os catorze capítulos, não são mais que – em termos de título – uma repetição dos catorze estruturais. A saber: Cap. 1 – Onde; Cap. 2 – Quando; Cap. 3 – Quem; Cap. 4 – Liberdade; Cap. 5 – Conhecimento; Cap. 6 – Deus; Cap. 7 – Realidade; Cap. 8 – Experiência; Cap. 9 – Consciência; Cap. 10 – Cosmos; Cap. 11 – Morte; Cap. 12 – Sentido; Cap.         13 – Ética; e, Cap. 14 – Valores. O mesmo capítulo funciona como uma extraordinária descrição bibliográfica, onde os autores se recriam através das obras temáticas para cada conceito, não se limitando a fazerem a descrição normativa da referida bibliografia, mas a fornecerem novas pistas introdutórias às obras citadas. Tomemos como exemplo: «Para uma introdução invulgar e excêntrica à geometria não-euclidiana, tão importante para a compreensão do conceito cosmológico de espaço como um todo, experimente Eugene F. Krause, Taxicab Geometry: An Adventure in Non-Euclidian Geometry (Dover, 1986). E para uma introdução histórica às teorias do espaço e do tempo, veja-se John Losee, Uma Introdução Histórica à Filosofia da Ciência (Terramar, 1997)» (p. 164), havendo por parte da editora a preocupação de actualizar a bibliografia editada e/ou traduzida em Portugal, como se depreende pela segunda obra citada.
No prefácio, os autores começam por realçar a noção errada que muitas vezes se faz da Filosofia como sendo apenas um corpo de conhecimento, onde se espera receber informação, em vez se pensar pela própria cabeça. Assentes nessa noção, difundem o propósito em contrariar o “queixume” de muitos filósofos, face à desmotivação dos seus estudantes, quando os sentem inaptos – ou muito pouco preparados – “para lidarem com a matéria usada nas disciplinas introdutórias”. Ainda, segundo os autores, importa contrariar a afeição pelas respostas feitas, de forma a prepará-los para darem novo sentido às coisas. E, logo a seguir, a nota introdutória serve para reafirmar a nossa condição de crianças, “impertinentes” nas perguntas, com total abertura, muitas vezes irrespondíveis, quando procurávamos e queríamos sabê-las: Sabíamos que não sabíamos as respostas, e queríamos sabê-las. À nossa condição de espanto, enquanto crianças, relegamos a curiosidade infantil para a estrutura de respostas[2] que silencia a nossa capacidade de agir, só porque, inevitavelmente, nos tornamos adultos. Por isso, muitas dessas perguntas ficaram por responder: De onde viemos? Qual o objectivo da nossa vida? Qual a natureza do Universo em que vivemos? O que nos acontece quando morremos?
Prosseguindo o raciocínio dos autores, constatamos a aparente solidez das nossas crenças, hipoteticamente transmissoras de conhecimento – assentes em respostas que escondem mais do que revelam –, mas não de sabedoria. Numa alusão clara ao pensamento de Sócrates, Kolak e Martin, chamam a nossa atenção para o principal obstáculo ao estudo da filosofia, quando recorremos ao pressuposto de sabermos de mais. O objectivo do livro vai, precisamente, no sentido de trazer os leitores “para o domínio da filosofia como o faria Sócrates se ainda estivesse entre nós: afastando-o das respostas durante o tempo suficiente, para que possa ter a experiência da sabedoria do desconhecedor”. Daí, o sentido de fazer da filosofia uma actividade e não um corpo de conhecimentos, cultivando a perícia, ou seja, “a habilidade para nos vermos a nós próprios e ao mundo de muitas perspectivas diferentes”. Impelem-nos mesmo em sustentarmos o objectivo de nos desenvencilharmos (por completo) da dependência das respostas. Abordam, também, o sentido de «perspectiva» como “uma interpretação que vai para lá dos factos e que se apoia nos pressupostos, convicções ou valores da pessoa que faz a interpretação”. E dão o exemplo do feto de três meses que é intencionalmente abortado, levando a que se equacione o objecto de interpretação em duas perspectivas, a do assassinato e uma outra assente em dois pressupostos diferentes: o feto não era uma pessoa, na melhor das hipóteses era uma pessoa em potência, e a morte de pessoas em potência nem sempre é um assassínio. Dão outros vários exemplos onde são postos em confronto os pontos de vista dos outros – os quais nos custam admitir – com os nossos, os que julgamos como sendo a única janela válida para a “verdadeira realidade”. A filosofia é-nos “revelada” por estes dois autores, em forma de nos mostrar como identificar as limitações dos nossos próprios pontos de vista e a sair de nós próprios (Introdução, p. 16).


A nota introdutória culmina com o relato de uma lenda antiga de três homens sábios de três impérios diferentes que, um dia, se encontraram à entrada de um reino pacífico. Cada um deles, em face de uma guerra tripolar – apesar dos seus sábios conselhos, tinham levado à ruína dos seus impérios –, tinha vindo à procura de asilo. A rainha do reino pacífico coloca-los-ia perante um enigmático teste de adivinhação da cor de um ponto que previamente havia sido pintado nas suas testas, sentenciando a não resolução de tal enigma pela decisão de nenhum estar a altura de ser sábio no seu reino, sendo, por isso, decapitados. Tudo se resume à prática de observação, não havendo forma de conseguir descobrir respostas, olhando apenas para os nossos pontos de vistas. Os autores escolheram esta lenda como forma de nos chamarem à atenção para a preventiva excessividade de raciocínio, aliada à ludibriável desconfiança em relação aos outros; para a sensação do enigma se tornar insolúvel, só porque queremos inflectir apenas sobre o nosso ponto (de vista); e, finalmente, para resposta racional, obtida pela observação dos pontos (de vista) dos outros. À pergunta da rainha, de qual deles teria um ponto verde pintado na testa, tornar-se-ia sábio do reino, aquele que vislumbrara a realidade de todos os pontos serem vermelhos.
Onde? – capítulo primeiro, coloca-nos a nós leitores na interactividade de sabermos onde estamos, onde fica a Terra, o nosso sistema solar, o Universo, sendo que este último, não existindo mapas, confere-nos, contudo, a sua localização por dentro dele estarmos colocados: Até agora temos determinado a posição de cada coisa localizando-a num espaço que a contém. Contudo, o Universo é o espaço último que tudo contém: por definição, o Universo contém tudo (p. 22). Um desafio aliciante mantem-nos debaixo do enigma de sabermos onde estamos, só porque estamos exactamente onde alguns dos nossos amigos dizem que nós estamos: em lado nenhum. Onde está o leitor? Aqui! – respondemos. Aqui, onde? E voltamos à fase inicial... No segundo capítulo – Quando? – os autores, equacionados pela resposta óbvia do leitor em dizer aqui e agora, reformulam o quando é o agora, quando é o presente, estampando os cinquenta séculos de história como um pequeno segmento de tempo dentro do espaço tempo de aproximadamente quinze milhares de milhões de anos, que é a idade actualmente calculada do Universo. O diálogo mantém-se com a perspectiva do senso comum sobre a relação entre o tempo e a realidade, tendencialmente impulsionados pela experiência de memória quando nos lembramos de algo que fizemos em criança, sendo que tais acontecimentos de que nos lembramos já não existem e por isso são irreais. O mesmo acontece com o futuro: Se o leitor souber agora que amanhã vai reler este capítulo, o acontecimento de reler o capítulo só é real quando acontecer. Até acontecer não passa de uma mera possibilidade. Ganhamos noção da realidade presente, tal como ler o livro: Uma vez que está a ler estas palavras, está vivo (p. 29). Num volutear constante entre o aqui e agora, os autores procuram manter o diálogo com o leitor – que, circunstancialmente, somos nós, mas que bem podem ser outros tantos, deixando de o ser a partir do momento que é passado (deixamos de o ler para o comentar) – ao formularem o propósito de que “enquanto escrevemos estas palavras são 5.45 da manhã. Eastern Standard Time dos EUA, sábado, 6 de Janeiro de 1990. Do nosso ponto de vista, isto é agora. Do ponto de vista do leitor, isto (o nosso presente agora) é então. Mas do ponto de vista do Universo como um todo, este agora – tal como o agora do leitor, como todos os agoras – é um lugar nenhum, sempre e nunca”. Mantendo a ponte – e/ou o fio condutor –, chegamos ao terceiro capítulo – Quem? – sendo que esse “quem” somos nós: Quem é o leitor? E de uma pergunta simples transformamo-la num enigma complexo, só porque fazemos questão em dizer o nosso nome, a nossa idade, os nossos interesses, a nossa profissão, o local onde vivemos, etc., etc. Mas, mesmo assim, as dúvidas subsistem: Que idade? Se a idade do corpo ou a imaterial, permitindo o devaneio de «o que conta é a idade que se sente», tomando como referência a nossa maneira de ser, psicológica, emocional ou intelectual, dum corpo velho em mente nova; o sujeito-verbo-sujeito, focando a nossa atenção no objecto, tomando-o como garantia, concluindo que não podemos ser hoje aquilo que fomos há alguns anos; o nome, em contraste com o nome de um rio; os neurónios constituídos por iões e electrões, em fluxo permanente; todas as sensações, emoções e pensamentos de que estamos a ter experiência, como existência do presente, ainda que a relembrar o passado; a mudança dos estados mentais, muito mais rápido do que a substância física de que somos feitos; o búzio encostado ao ouvido, auscultando o “eco do sangue a correr pelo canal do seu ouvido. É o som que o leitor produz. O som do rio” – como não há rios permanentes, excepto em teoria, também não há pessoas permanentes, excepto em teoria (p.41). A cumplicidade (autores / leitores) e as interrogações prosseguem através da Liberdade – Porque razão está a ler isto? É indiferente a razão que nos levou a ler este livro, mesmo que alguém o tenha dito para o fazer. Outra questão se coloca: Será que ao lê-lo estamos a agir em liberdade? Se o fizermos porque queremos, estaremos a fazê-lo em liberdade. Contudo, se recebermos ordens para o fazer, para questionar as ordens e deixar de as questionar, aperceber-nos-emos que não temos liberdade, estaríamos sobre o controlo das ordens. Caso essas ordens não fossem dadas sob a forma de instruções, mas antes sob a forma de anseios directos que nos fariam agir de determinada forma, seria mais subtil, levando-nos a fingir que esses anseios dependiam de nós. Os vários exemplos apontados pelos autores vão no sentido de nos interrogarmos quanto à liberdade de comportamento, sem eliminar o facto das nossas escolhas – e mesmo comportamentos – dependerem de nós apenas de uma forma muito ténue: Se continua a achar que tem liberdade num sentido mais robusto do que este, então pergunte-se a si próprio: se é livre, quando começou a sê-lo? (p. 46). Concluem com a noção de que, normalmente, supomos ser livres no sentido em que o que fazemos depende nós, sendo que a liberdade deste tipo é ilusória. E perguntam-nos se queremos continuar a ler este mesmo livro; do Conhecimento – O leitor tem várias crenças. Mas quais das suas crenças é conhecimento, se é que alguma o é?. A ilusória autoconfiança do apostador de corridas de cavalos quando acredita ardentemente que o seu cavalo vai ganhar. Não se pode saber pela adivinhação, mesmo que se acerte. Assim, não se obtém conhecimento apenas pela crença, mas, necessariamente dever-se-á estar conectado com a verdade daquilo em que se acredita, através das provas ou das razões que se tem para acreditar. As provas serão adequadas “quando tornam, nas circunstâncias em que existem, a verdade de uma crença mais do que menos provável”. Se os pressupostos estiverem errados há sempre a possibilidade de os reformular. O conhecimento e a ciência, também são aqui abordados, sendo que, ao acreditarmos na palavra, adquirimos algumas crenças indirectamente. Mas como é que alguém sabe algo directamente? E, aqui, obtém-se a resposta pela experiência. Com base na experiência, sabemo-lo e constatamo-lo directamente. Num aliciante jogo de “ping-pong” – deixamo-nos envolver neste jogo, dado que entendemos a Filosofia não como um assunto, mas como uma actividade (mental) – os autores levam-nos a concluir que a chave para resolver os enigmas consiste em descobrir as coisas que conhecemos directamente e o modo como as conhecemos. Por isso, o conhecimento tem de ser baseado na experiência directa; de Deus – Poderá o conhecimento de que Deus existe fornecer a ponte necessária entre a experiência e a realidade – entre os nossos estados mentais subjectivos e o mundo exterior? Neste sexto capítulo, Kolak e Martin despertam-nos para a realidade de Deus, “como a realidade que subjaz à realidade de tudo, incluindo a realidade da experiência e do mundo exterior” (p. 65). É um tema pertinente na Filosofia, sempre que procuramos obter – ou encontrar – provas adequadas quanto à existência de Deus, nos auto-sugestionarmos a sensação da sua existência pelo facto do Universo existir, sugerindo o seu surgimento de algures, como que os objectos sendo físicos não podem surgir do nada. E volta-se a colocar o velho problema, o qual os autores acham demasiado óbvio: se tudo tem de vir de algures, de onde vens Deus? Aí, constatamos o dilema da sua explicação existencial porque Deus, ao contrário do Universo, existe sem qualquer causa externa. Interrogamo-nos de novo na forma em adoptarmos um padrão para Deus e outro para o Universo. Ao longo das cerca de onze páginas decorrentes desta interrogação, estes ilustres catedráticos mantêm-nos “presos” a uma espécie de dualidade de desígnios, diríamos quase tentadora de desmistificarmos a tentação – com desculpas para o pleonasmo – em pensarmos que Deus é especial – que Deus, ao contrário do Universo, não requer um desígnio exterior (p. 68). O livre-arbítrio, o sofrimento, o afirmar saber da existência só porque se é crente, as respostas misteriosas, a perplexidade e insegurança nas respostas, o fingir saber mais do que aquilo que de facto sabem, preenchem a certeza de que há verdades científicas e há o mistério. Ficamos com a sensação, induzidos pela teorização dos autores, de que não são apenas os crentes que regularmente tentam encobrir mistérios. Também os ateus regularmente os tentam encobrir. E ambos os grupos, quando tentam esconder mistérios, tentam fazê-lo basicamente do mesmo modo: pretendendo saber mais do que de facto sabem (p. 75); da Realidade – Será que percepcionamos directamente o mundo real? Dos conceitos teológicos e científicos, partimos para a realidade que vemos e sentimos directamente. Do uso das teorias, os autores estimulam-nos a experiência e se há forma de sair dela para uma melhor compreensão da realidade. E experimentamos a realidade das coisas – e/ou objectos – familiarizando-nos com elas, sendo que a sua evidência esconde o mistério de uma realidade: Mas porque todos sabemos o que são cadeiras e que elas são reais, pressupomos que sabemos o que «torna» uma cadeira real (p. 78). Sentados numa cadeira real, continuamos, a convite dos autores, a ler o livro. E voltamos a questionar a realidade do objecto: [...] mas, antes, o que torna a sua cadeira uma cadeira real em contraste com uma cadeira não real – alucinatória ou imaginada (idem p. 78). Pela compreensão da realidade de um objecto tão simples como uma cadeira, estaremos a um passo do caminho certo para compreender a realidade. Tudo perpassa através dos conceitos, do significado por nós criado e dependente da mente, das formas interpretadas e não interpretadas, das propriedades dos objectos, da experiência visual depois de retirada a sua contribuição mental, do movimento dos olhos e do pensamento, do componente interpretativo do tacto – como a experiência de calor, de humidade, de plano, de macio e assim por diante –, da percepção, etc. E a pergunta volta a ser colocada: O que é então a realidade? A ponte é de novo estabelecida: Talvez se compreendêssemos melhor a experiência conseguíssemos atravessar essa ponte e descobrir a verdadeira natureza da realidade (p. 85); da Experiência – Serão a sensação, a emoção e pensamento componentes da nossa experiência? Dificilmente deixaremos de manter a ponte com os autores. A interactividade permanece, estimulando-nos à consciencialização das emoções como uma mistura de sensações e pensamentos. Suponha que se queima no fogão. O que acontece? A dor é claramente uma sensação. Pensar na sensação é diferente do desconforto provocado pela própria sensação: A irritação por se ter queimado é em parte uma sensação no seu corpo, uma sensação de agitação e talvez de excitação (p.87). Aqui, os autores ajudam-nos a raciocinar sobre as nossas sensações, causadas directamente pela acção de objectos físicos reais e pelos nossos órgãos sensoriais, sobretudo quando as mesmas podem influenciar as nossas mentes. Ser dor é diferente de Causar dor. Sendo que a dor é uma coisa e o pensamento é outra, e tendo em conta que o pensamento tem um componente de sensação, é possível aventarmos a possibilidade de sonharmos acordados, criando, circunstancialmente, fantasias visuais e vemo-las manifestarem-se. As sensações internamente causadas, onde o pensamento ocorre na forma de imagens auditivas; a experiência dissolvida em dois componentes: sensações e pensamentos; a concepção elementar – leitor, dedo e dor – e o dilema entre os conceitos mentais e as sensações, experimentalmente testadas pelo tacto; a experiência sem a contribuição visual; a interpretação da informação, sendo que o seu dedo não pode saber coisa alguma sem que a sua mente interprete a pressão como pressão na ponta do seu dedo (p. 91); a experiência do componente de pensamento da sensação, como próxima da explicação científica; os átomos e a energia causada, dando inicio à cadeia de acontecimentos que começam na ponta do dedo e termina no cérebro; a função do sistema nervoso, impulsionador eléctrico ao cérebro; o sentir e o pensar, a experiência e a realidade; são temas – e/ou interrogações – que perpassam ao longo das dez páginas que este capítulo suporta e onde os autores nos alertam para o facto da experiência que, longe de nos dar acesso directo à realidade, bem poderá em última instância, construir pontes que nos levam [...] apenas de volta a nós mesmos (p. 96); da Consciência – Quando queremos compreender algo em termos científicos, explicamos esse algo em função de outra coisa de tipo diferente? Neste capítulo (9), Kolak e Martin chamam-nos à consciência de vivermos numa época reducionista, uma espécie de estratégia que tem sido “imensamente bem sucedida”.  E tudo começa por tentarmos definir o que são mentes, corpo vivo, moléculas orgânicas, átomos, electrões e neutrões e coisas do género, envolvendo matérias como a física, a química, a biologia: por outras palavras, as nossas mentes foram reduzidas à biologia, a qual foi reduzida à química, a qual foi reduzida à física, a qual volta a deixar entrar a mente pela porta de trás (p. 99). Segundo os autores, fugimos da consciência de modo a seguir uma estratégia reducionista que, voltada sobre si própria, acaba por nos deixar novamente com a consciência. Com um certo cunho de humor, sempre nos vão dizendo que esta é uma pequena brincadeira da natureza do século XX. O processo reducionista – chegando ao fim voltando-se de novo para si mesmo – e as questões a este respeito são tão técnicas e os desenvolvimentos científicos tão recentes que ainda hoje não mereceram a atenção dos filósofos ou dos cientistas. A subjectividade da mente, a consciência e a experiência, conjecturando-nos à compreensão e à experimentação, pelo facto de só a visão nos poder dar a experiência da cor, enquanto o invisual nos remete, apenas, à compreensão. No entanto, o invisual é ricamente científico, enquanto o oposto é apenas rico em termos de experiência. E o que fica por descobrir – ao tentarmos compreender a origem do Universo, por exemplo – “força-nos” a enfrentar a estranha possibilidade de que o Universo – que existe em lado nenhum e que nunca aconteceu – vem do nada (p. 101); do Cosmos – Será possível o nada: que não há planetas nem estrelas? Da «consciência» partimos para o «cosmos». A possibilidade de imaginarmos o vazio, preenchido por objectos aparentemente sólidos e como sendo meras configurações de átomos, racionaliza a outra possibilidade do Universo conter muito mais espaço vazio do que matéria. O esforço em imaginarmos o vazio rodeado de vazio – sendo que o mesmo está próximo do nada – como aquilo que somos (Cf. p. 103), faz com que tenhamos que fazer um esforço menor para imaginarmos o próprio vazio. O exemplo experimental apontado pelos autores, propondo-nos a observação do céu, da sala onde estamos e de um espelho, concluiremos que tudo o que vemos é quase nada, manifestando-se num extraordinário desafio de partirmos até ao Universo, que está em parte nenhuma e existe em tempo nenhum (p. 104), constituído por espaço vazio, perto de ser nada. Contudo, algo existe. As respostas óbvias às nossas interrogações, sempre que somos confrontados com a “velha máxima” de que Deus criou o Universo, então o Universo existe porque Deus o criou, é um tema (problema – a principal realidade da Filosofia) aqui inteligentemente “explorado” pelos autores, mesmo quando relançam o “nada” como uma consequente explicação para a existência ou não de Deus. O confronto entre a religião e a ciência, revelasse-nos pela argumentação dos físicos clássicos de que a matéria não poderia ser criada nem destruída. E uma vez que o Universo existe agora, tem de ter existido sempre. No entanto, que Deus existe é algo de questionável e controverso. O Big Bang, o Universo nascido explosivamente – resultado do colapso de um Universo prévio –, e as eternas interrogações de como teria ocorrido, coloca-nos na possibilidade cíclica da morte de um Universo e o nascimento de um outro (Big Crunch). Supondo-se a não-teoria cíclica do Universo, voltamos à possibilidade da criação do mesmo, a partir do nada. Novas dúvidas se levantam, a partir do momento que tomamos consciência de que o nada é coisa nenhuma.  Passo a passo, Kolak e Martin, ajudam-nos a reflectir sobre o “estável” e “instável”; a nossa existência num Universo bem ordenado – quando o nada degenera em Universos caóticos –, suficientemente ordenado e estável para produzir questionadores; a questão de sabermos por que razão existe algo em vez de nada, sem que para isso seja uma questão científica: Porque existe algo em vez de nada? Em última análise, porque algo – este Universo – existe necessariamente (p. 110). Deus ou o Universo: aquilo que a religião entende por Deus a ciência moderna entende por nada, “obrigrando-nos” a especular a não existência de Deus e do nada, no espaço e no tempo, dado que ambos dão origem ao Universo de espaço, tempo, energia e matéria. São os próprios autores que nos dizem que tanto Deus como o “nada”, na sua diferença sem importância aparente, dão origem à mesma coisa: o Universo; da Morte – Mas o que é uma alma? E será que o leitor tem alma? Neste percurso de leitura, voltamos ao nada, ou dele tomaremos consciência, dado que quando morremos, os átomos do nosso corpo não vão desaparecer, pois, serão absorvidos pelo solo, pelas plantas, pelos animais e pelas pessoas. Todo o ser vivo se alimenta da morte. A vida auto-recicla-se através da morte – são afirmações contidas na explanação dos autores. Para sobrevivermos à decomposição do nosso actual corpo físico, teremos que sobreviver como algo distinto do nosso actual corpo – talvez como alma. Apesar de longe ir o tempo em que se apelava às almas para explicar o funcionamento do corpo – a necessidade de substância espiritual para animar a matéria – apercebemo-nos nos tempos que correm que a matéria é energia, substância física universal. É à volta desta problemática que os autores nos conduzem ao sentido semelhável – não fossem os microscópios electrónicos – de almas com os átomos físicos, porque invisíveis a olho nu. Interrogando-se e interrogando-nos permanentemente, subsistem as dúvidas quanto ao que sobrevive à nossa morte corpórea: os fenómenos psíquicos da sobrevivência à morte corpórea como uma alma; a sobrevivência como seres materiais ou espirituais; o perder da individualidade fundindo-nos com o cosmos; a vida depois da morte como sinónimo de sobrevivência, crença apoiada na fé; a fraude – sendo possível que a memória tenha sido estimulada por uma certa informação que adquiriu de uma forma normal (p. 119); as circunstâncias desconhecidas, mas vulgares; o fenómeno psíquico, com percepção extra-sensorial, tendo em conta que nem as modernas histórias de tais fenómenos nem as velhas histórias religiosas se manifestam numa grande ajuda. Acabamos onde começamos: com a vida antes da morte. E a ponte prossegue: E assim, no fim de contas, sempre temos vida depois da morte. Temo-la onde nunca julgamos tê-la: Aqui (p. 121); do Sentido – Porque estamos aqui? Que sentido faz tudo isto? Será que a vida tem algum propósito ou sentido? O propósito de estarmos ocupados a tentar ser bem sucedidos tira-nos a preocupação do sentido. Mas, mesmo assim, mantemos a curiosidade de saber que sentido faz a nossa vida e o porquê do aqui e agora. O sentido da vida é uma permanente procura e “luta” dos ricos e dos pobres: uns lutam, enquanto os outros lutam por sobreviver. São insuficientes as respostas, quando temos respostas a mais, residindo aí o facto de que, quase sempre, as respostas são dadas ao problema errado. Pretende-se responder à questão do sentido da vida, quando aquilo de que precisamos é de uma solução para as lutas da vida. Kolak e Martin insistem em nos exercitarem o consciente: Por que razão a vida é uma luta? Para nos envolvermos numa luta, tem que haver algo ou alguém que represente a resistência que leva a essa luta. Para se acabar com a luta ter-se-á que, necessariamente, acabar com a fragmentação que dá origem à resistência. Porém, dizem-nos os autores: o problema é que não queremos acabar com a luta à custa de sermos dominados (p. 125). A luta interior – “Está a ler este livro. É muito improvável que alguém esteja a tentar dar-lhe um tiro” – como forma de dominarmo-nos a nós próprios, sendo que uma parte de nós tenta dominar a outra; a essência do conflito interno, aumentando o hiato ao distanciar-nos de nós próprios; a tentativa de deixarmos de ser como somos ou vice-versa, aceitando as causas dos nossos vícios; o tipo de sucesso, quando estamos apenas a falar da carreira profissional – o sucesso profissional e pessoal não andam necessariamente juntos (p. 127), contando com a aprovação dos outros; o sermos felizes, por contribuirmos para a felicidade dos outros; o sermos eremitas; o cuidar da imagem como algo idealizado, exagerando a dimensão da nossa independência, procurando, ao mesmo tempo, não admitir a dimensão da nossa dependência; disfarçar a importância que damos ao que os outros pensam de nós, gostando pensar que não nos importamos, provocando em nós uma tensão interior: uma luta interna entre aquela parte de nós que deseja aprovação e aquela parte que deseja a independência da necessidade de aprovação (p. 128); a actividade de nos mantermos em boa forma física, punindo-nos por obrigação ou por gostar do acto físico; a chave do sucesso na vida ligando-nos não a um produto mas a um processo; são algumas das muitas questões que se nos colocam a propósito do significado da vida, sendo que a vida é uma luta porque o leitor se encontra dividido contra os outros e contra si próprio (p. 133); da Ética – Como podem as autoridades encarregues do seu condicionamento saber que o leitor é mau por natureza? Numa escrita escorreita, Kolak e Martin apontam para a realidade presente de pais, professores, legisladores, políticos e líderes religiosos estarem a treinar-nos para nos ajustar ao mundo que eles herdaram dos seus pais, dos seus professores, dos legisladores, dos políticos e dos líderes religiosos, os quais por sua vez os herdaram das suas autoridades e assim por diante (p. 135). Em matéria da «Ética» coloca-se a questão de quando é que alguma vez se permitiu às pessoas a possibilidade de descobrirem por si próprias como é a vida e a tomarem decisões por si próprias sobre como viver melhor, sem terem sido incitadas por agentes exteriores à suas próprias vontades. Tomando como hipótese de as pessoas serem naturalmente más, aventaremos subsequentemente a possibilidade das autoridades (agentes exteriores) serem igualmente más, com a diferença de – para além de serem más – serem também poderosas. A procura da verdade universal num universo relativista; a mulher e a luta travada pela sua emancipação numa sociedade patriarcal; o bastião da autoridade à volta de «Deus», como revelador da verdade, pondo em confronto o intuito de se proporcionar ajuda com a prática da intolerância, da violência, do derrame de sangue, do sofrimento, da repressão, da confusão, do medo, do ódio e da morte; a secularidade das “autoridades”, que afirmam que as suas respostas não estão fundadas na fé mas na razão quando, na “verdade”, têm sido tão impiedosas, tão dogmáticas, tão corruptas e perversas como as suas contrapartes religiosas (p. 139); a estrutura social onde são cumpridas as ameaças de quem sustem o poder; os problemas que se levantam no caso das autoridades externas e da própria consciência; são temas que completam o raciocínio dos autores, levando-nos a reflectir sobre o enraizamento das ideologias familiares, sociais, religiosas e políticas, “que nos falam de dentro, guiando-nos com os nossos próprios sentimentos”. E a pergunta fica no ar: Assim, que razões há para confiar em «quem quer que seja – incluindo em si mesmo –» para nos dar orientação moral?; e, finalmente, dos Valores – Qual deverá ser o valor nas nossas vidas? Este último capítulo, aborda a perspectiva parcial dos valores que herdamos e que ao longo das nossas vidas nos têm dito para os adoptarmos. E quando pensamos na decisão seguida pela nossa própria consciência, seguimos uma consciência que é em si, largamente, o produto do elaborado condicionamento cultural e social (p. 143). Os autores prosseguem no raciocínio confrontando-nos com a obsessão de conseguirmos o que queremos e a subsequente frustração que, normalmente, exala cinismo, pelo facto de muitas vezes já não querermos o que então pretendíamos. O insuficiente e o insatisfatório; a cruel constatação da morte como o fim nos espera (e depois os vermes); a extinção da humanidade, já que não podemos existir para sempre; a resistência  às respostas herdadas e a valores em segunda mão; o enfrentar corajosamente o Universo em desintegração; o questionamento de valores, limitado e limitador, e a forma de podermos sair completamente do nosso quadro de referências de valores; o suspender das nossas obrigações, como forma de pormos de lado os nossos valores familiares e culturais e ir além da nossa consciência (p. 145); as ideias acerca do certo e do errado, do bem e do mal, do bonito e do feio; o juízo intencional de julgarmos o aborto como moralmente permissível, quando poderíamos dizer que feto não é um ser consciente; a distinção crucial entre os valores e os factos; o essencial para o significado de valor, mas não para o juízo de facto; a nossa posição sobre a existência ou não de Deus, por sermos influenciados pela nossa obrigação para com as regras; a capacidade para distinguirmos os valores dos factos; os nossos órgãos sensoriais e a capacidade de responderem aos estímulos factuais – a ondas de som, a ondas de luz, à pressão e assim por diante (p. 150); as dúvidas sobre o realismo; o julgarmo-nos a nós próprios e aos outros, valorativamente; são temas abordados e exercitados numa permanente deambulação entre as perguntas e as respostas, com o intuito de nos levar até ao alcance de uma perspectiva imparcial superior, apreendendo, observando e agindo, valorativamente, ainda que a vacilação da consciência nos faça pronunciar alguma artificialidade na emoção, no pensamento e no movimento.   
Em jeito de conclusão, podemos afirmar que este livro completa-se integralmente através da sinopse da contra-capa, a nosso ver, onde, irrefutavelmente, se reflecte a expressão objectiva do tema – neste caso, da iniciação à Filosofia – e do interesse a despertar através da sua leitura: «Como o apresentaria Sócrates ao estudo da Filosofia? Provavelmente como faz este livro. Trata-se de uma obra deliciosamente provocadora que o ajuda a entender a filosofia como a entendiam os grandes filósofos: uma actividade feita de questionamento e raciocínio, e não apenas um conjunto de informações. Em 14 capítulos cheios de vivacidade, aprenderá a evitar as respostas fáceis e será conduzido ao mundo fascinante do pensamento filosófico. Serão examinadas algumas das questões fundamentais». De facto, na qualidade de leitores, corroboramos da ideia que nos fica da abordagem frontal das perguntas, permitindo-nos através dela explorar os modos como elas (as perguntas) nos afectam: Deus existe?; Porque existe o Universo?; O que é o eu?; Qual o significado da vida?; Que é a morte?; Dispomos de livre-arbítrio?; Que é o conhecimento?; Que significa a moral?, etc. As respostas preconcebidas são abandonadas logo à partida, face à aprendizagem no pensar de forma crítica “nas ideias filosóficas que podem transformar a sua vida” – cit. sinopse.
Quase que arriscaríamos em dizer, mais por dedução que por intuição, que se trata de um livro interessante para quem se pretende iniciar na actividade da Filosofia.



[1] Daniel Kolak é professor na Universidade de New Jersey e Raymond Martin na Universidade de Maryland. Ambos são autores de uma outra obra: «The Experience of Philosophy».
[2]  Segundo os autores, o problema é que cada um de nós «ficou dependente de um complexo sistema entrelaçado de respostas metafísicas acerca do eu, do conhecimento, da realidade, dos valores e do sentido» - cit. p. 13.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Dr. MANUEL RODRIGUES DE FREITAS: Um empresário que pugnava pela Arte e pelas causas justas, deixou-nos!



Falar do Dr. Manuel Rodrigues de Freitas torna-se extremamente fácil dado que, dele temos a melhor das impressões. Sempre o vimos como um homem transparente, de grande carácter e incondicionalmente vianense, apesar da sua natalidade aveirense. Mais de que muitos por aí “paridos”, principalmente aqueles que “escarafunchosamente” teimam em dar sinal negativo daquilo que os outros – não sendo de cá – anseiam e afirmam ser positivo, o Dr. Freitas (como carinhosamente o tratamos) ama a nossa terra como fosse sua, mostrando-se e cultivando-se empreendedor, solidário e acérrimo defensor dos nossos valores culturais. É daqueles que quando sente alguma animosidade por parte dos outros prefere afastar-se que alimentar desnecessárias questiúnculas, tão em voga na nossa praça. Apesar de ter andado pela política nunca o sentimos ser político, quando tomamos em conta o exemplo de muitos daqueles que se dizem e se afirmam como tal. A nosso ver, a personalidade do Dr. Freitas molda-se bem à máxima de Vauvenarques quando dia afirmou que «uma viva inteligência de nada serve se não estiver ao serviço de um carácter justo; um relógio não é perfeito quando trabalha rápido, mas sim quando trabalha certo». E é nesta certeza que nos relacionamos com este ilustre aveirense.


Manuel Rodrigues de Freitas, filho de agricultores, nasceu na freguesia de Requeixo, concelho de Aveiro, a 23 de Dezembro de 1940. Depois de frequentar o ensino primário na sua terra natal, completou o ensino liceal em Tondela, Viseu. Em 1960 ingressou na Faculdade de Economia do Porto até que, em 1963, foi compulsivamente alistado para a guerra no ultramar, onde esteve dois anos e meio, como Chefe de Contabilidade e Inspector de Contabilidade do Agrupamento de Engenharia de Moçambique, onde foi distinguido com todos os louvores possíveis. Iniciou o serviço militar como Alferes e terminou como Tenente. De regresso à Faculdade, acabou por se licenciar em 1968. No entanto, antes da licenciatura foi Professor na Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo e Inspector do Banco Pinto de Magalhães do Porto.
Por motivos familiares regressou a Viana do Castelo para gerir a Ourivesaria Freitas (fundada por seu tio Joaquim Simões de Freitas), continuando a dar aulas na Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo, até Junho de 1974. Em finais desse mesmo ano, ingressa no então Partido Popular Democrático (PPD), onde se torna um dos seus fundadores, em Viana do Castelo. Foi presidente da Comissão Política Distrital desse mesmo partido durante vários anos, principalmente durante o atribulado período revolucionário; primeiro presidente da Assembleia Municipal de Viana do Castelo, tendo sido eleito numa segunda eleição, por unanimidade. Infelizmente, não chegou a concluir o mandato, por desinteligências com a política local. Para além disso, o Dr. Manuel Freitas foi mandatário distrital na primeira candidatura do General Ramalho Eanes à Presidência da República e na do Professor Diogo Freitas de Amaral. Por volta de 1980, chegou a afastar-se da actividade política (aparecendo esporadicamente como suplente nas listas de candidatos pelo PPD/PSD), sem que antes tenha sido, também, Conselheiro Nacional do PPD e Conselheiro do Governo Civil de Viana do Castelo.
No currículo deste ilustre vianense – ainda que aveirense por nascimento – temos ainda a presidência da Mesa da «Santa Casa da Misericórdia», durante vários anos; Presidente da Assembleia Geral da «Associação Comercial (hoje, Associação Empresarial) de Viana do Castelo»; Fundador e sócio n.º 1 do «Surf Clube de Viana do Castelo» e Presidente da Assembleia Geral; Presidente do Conselho Fiscal da «Associação Distrital de Judo»; Fundador e membro da direcção do «Clube de Economistas do Alto Minho», do «Forum Vianense» e dos «Amigos de Santa Luzia»; e, Membro da «ALAAR» (Associação Limiana dos Amigos dos Animais Abandonados).
Escreveu o livro «Filigranas Portuguesas» e, de parceria com Amadeu Costa, «Ouro Popular Português». É colaborador em várias revistas portuguesas da especialidade e, habitualmente, tem feito exposições em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente na Delegação da Secretaria de Estado da Cultura, no Porto; Museu do Traje e Municipal de Viana do Castelo; Trear – Alemanha; Gotemburgo – Suécia; e, Bulle – Suiça. As exposições no estrangeiro têm sido todas subordinadas ao tema «TRAJAR E OURAR» e foram sempre patrocinadas pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.
Finalmente, o Dr. Manuel Rodrigues de Freitas tem feito inúmeras palestras em Portugal e no estrangeiro, nomeadamente para Clubes de Rotários e Lyons em várias partes do País; no Museu Municipal e do Traje de Viana do Castelo; às esposas do Corpo Diplomático Credenciado em Portugal; no «Museu Nacional de Lamego»; Delegação do Norte da «Secretaria de Estado da Cultura»; «Museu Nacional do Traje»; «Casa do Minho» no Rio de Janeiro; «Estufa Fria», em Lisboa; «Universidade de Trear» na Alemanha; «Instituto Politécnico de Viana do Castelo», várias escolas, etc.
A «Ourivesaria Freitas», da qual é proprietário e gerente, obteve o primeiro lugar a nível nacional, depois de observada por especialistas da revista «Proteste» dentre as muitas ourivesarias espalhadas de norte a sul do País.
Face à sua relutância em nos ceder alguns dos dados biográficos – já que muitos deles possuímos no nosso arquivo particular –, o que por certo não espelharão a verdadeira dimensão da personalidade do bom amigo e empresário de sucesso Dr. Manuel Rodrigues de Freitas, aqui fica o «Retrato de Memória» possível!
O Dr. Manuel Freitas desencarnou no dia 15 de Outubro de 2017. 


(In, A Aurora do Lima, Ano 150, N.º 32, Sexta-feira, 6 de Maio de 2005)