«Não há adolescente nenhum que, mais cedo ou
mais tarde, não oiça o cantar da sereia dos desejos impuros. Uma alma elevada,
um coração virgem e um grande ideal poderão salvá-lo do desastre…»
Tihamér Toth
Mar de Viana, o instantâneo da espuma e da areia apanhadas em delito de
paixão, enquanto as gaivotas, com o planar das suas asas rasgando as ondas,
aumentam em nós a felicidade e o prazer extasiantes. Mar de Viana, local único
que nos ajuda a descomprimir e a sentirmos aquele abraço de africanidade –
memória de uma infância e Juventude Radiosa: «Uma aragem fresca agitava
brandamente os ramos e, ao perpassar pelos canaviais, ouvia-se um ciciar
misterioso como se as canas estivessem contando umas às outras a doce alegria
de viver» (Toth, 1956: 17) –, qual “trova do amor lusíada” em Manuel Alegre,
nos faz marinheiro com mãos que despem «como se o vento abrisse / as janelas do
nosso corpo…». Mar de Viana, o Mar cujo vento (embalado pelo canto das
sereias e o bater das asas das gaivotas) nos leva para Sul e nos faz desaguar
com Amor, na Baía de Luanda.
Entre o ouvir e falar, olhando o Mar de Viana, há momentos na nossa
vida que nos sentimos, intelectualmente, como um SEM-ABRIGO, mas por
intromissão daqueles que, por “malformação”, não sabem distinguir a
“divergência” entre DIFERENÇA e ALTERIDADE. Tal como Aristóteles, também nós
achamos que a diferença entre as duas coisas implica determinação daquilo em
que diferem.
Por outro lado, Kant ao considerar as noções de identidade e de
diferença como noções transcendentais, acaba por estabelecer em nós a noção
clara de que a IDENTIDADE e a DIFERENÇA são «conceitos de reflexão», que não se
aplicam às coisas em si, mas aos fenómenos. Fenomenalmente poderemos ser um
“sem-abrigo”, mas possuiremos sempre, por “boa formação” genética e
intelectual, a notável ALTERIDADE de discernirmos a LUZ e o ABRIGO para
combatermos o “mal”, enquanto último grau do SER.
Retorno à unidade primordial, reintegração universal. Apesar de todas
as turbulências da vida, sempre vamos conseguindo resistir ao sopro da
transmigração, da metempsicose. Estamos numa de reminiscência, espécie de
lembrança latente do estado da alma. Sim, não existe um ensinamento, mas uma
recordação e a ignorância é o esquecimento das verdades inatas. Acreditamos
piamente que no futuro alguém se recordará de nós. É aí que reside a nossa fé!
Em SILÊNCIO, longe das multidões e sem tocar o sino, gostamos de ouvir e falar com as pedras!
(In, Cardeal Saraiva (Ponte de Lima), Ano 114, n.º 4917, 21 de julho de 2023)
Sem comentários:
Enviar um comentário