Na
altura que, pela primeira vez, conhecemos o João Ricardo Pedro, "curricularmente" apresentava-se como casado com uma economista, pai de um casalinho, nascido na
Reboleira, Amadora, em 18 de Agosto de 1973. Revela-se curioso acerca da força
de Lorentz, e, daí ter-se licenciado em Engenharia Eletrotécnica pelo Instituto
Superior Técnico. Durante mais de uma década, trabalhou em telecomunicações
sem, no entanto, alguma vez ter aplicado as admiráveis equações de Maxwell. Na
primavera de 2009, em consequência do carácter caprichoso dos mercados,
achou-se com mais tempo do que aquele de que necessitava para cumprir as
obrigações do quotidiano. Num acesso de pragmatismo, começou a escrever. Um
facto curioso é que João Ricardo Pedro chegou a confessar que nunca fora bom
aluno a Português nem a nenhuma disciplina da área das Letras: – Era um bom aluno a Matemática e ao resto
passava sempre à rasca!... – disse-o na altura, quando estivemos «À
conversa com…», naquela noite de sexta-feira, 28 de Setembro de 2012, na Sala
Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo.
A
partir de 2009, ao tempo em que deixou de trabalhar numa empresa de
telecomunicações em Sintra (vítima de despedimento colectivo), nunca mais quis
trabalhar em engenharia. «O Teu Rosto Será o Último», Prémio Leya 2011, foi o seu romance
de estreia, aquele que serviu de mote para dois dedos de conversa na Sala Couto
Viana. João Ricardo escreveu o livro em 2009, quando ficou desempregado, sendo
que, segundo ele, este Prémio servir-lhe-ia como grande incentivo para
continuar a escrever e que já tinha novas ideias. O romance relata a história
de uma criança nascida em Portugal no período da Revolução do 25 de Abril e
segue o seu percurso até aos 17 anos, acompanhada pela família, da qual herdou
traumas da ditadura e que se reflectem no filho. Questionado sobre se o livro
reflectia uma experiência pessoal do autor, João Ricardo Pedro declinou tal
eventualidade: “Há algumas semelhanças, mas não é uma autobiografia”.
«O Teu Rosto Será o
Último», no ano em que foi premiado, chegou a ser um dos livros mais vendidos.
Traduzida em cerca de dez línguas, incluindo chinês e árabe, a obra alcançou o
sucesso também fora de portas, especialmente em França – onde foi recomendada
pelos livreiros e a imprensa não lhe poupou elogios, referindo o autor como a
nova estrela da galáxia portuguesa – e em Itália, onde foi finalista do prémio
Sindab-Città di Bari. Tem sido convidado para numerosos encontros literários em
Portugal e no estrangeiro.
Em 21 de Fevereiro de
2014, voltamos a encontrá-lo nas Correntes d’Escritas, deambulando pelo mote de
«A ficção nos livros é corrente da verdade!», emparceirando com Michel Laub,
Isabel Lucas, Ana Margarida Carvalho e António Mota, profícuo e conclusivo
debate onde a história se nos apareceu como uma visão colectiva do individual e
a verdade ficcional é uma forma de percepção pessoal. Na altura, revemo-nos na
condição do “bom leitor é aquele que tem uma boa abertura de espírito”.
Depois de alguns contos
publicados em revistas e jornais, João Ricardo Pedro presenteia-nos com «Um
Postal de Detroit», seu segundo romance, nossa leitura de circunstância
presente. João Ricardo Pedro regressa assim à ficção com um romance delirante e
avassalador sobre a ténue fronteira que existe entre sanidade e loucura e os
laços perturbadores que tantas vezes unem a vida à arte: Em Setembro de 1985 dá-se um choque frontal de comboios em Alcafache.
Algumas das vítimas mortais, presas nas carruagens a arder, nunca chegam a ser
identificadas. No dia seguinte, a mãe de Marta recebe um inesperado telefonema
informando que a mochila da filha – estudante de Belas-Artes – apareceu entre
os destroços. Partindo dos cadernos de desenho de Marta – uma espécie de
diários visuais que espelham um quotidiano tão depressa sórdido como
maravilhoso – o narrador deste romance tenta recriar os passos da irmã nos
tempos que antecederam o acidente… – podemos ler em sinopse.
Leitura que promete!
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