Já lá vão duas
dezenas de anos a esta parte que conhecemos pela primeira vez o Professor
Calvet de Magalhães, como carinhosamente sempre o tratamos. É mais um daqueles
cuja dimensão intelectual é proporcional à sua humildade, tendo em conta que a
humildade é uma das principais – senão a principal – virtudes do verdadeiro
«ente humano». Tudo que para além disto possa parecer “elevação” – fraseando
Gautier – é como se julgar os homens pelas suas qualidades, e não pelo uso que
sabem fazer delas. Foi na intimidade do poeta dos poetas, Fernando Pessoa, que
o Dr. Calvet de Magalhães nos presenteou com dois dedos de conversa, em tempos
de «Espaço Poético». Passados todos estes anos, nunca mais esquecemos a sua
figura de intelectual delicado, solidário e fluentemente comunicativo.
Encontramo-nos casualmente – se é que o “acaso” existe – há bem pouco tempo,
numa das nossas “obrigações holísticas” e partilhamos um pouco dos nossos
próprios passos, vivências paralelas na procura do universalismo. E é dele que
hoje resolvemos fazer o «Retrato de Memória», porque conscientes da interacção
da mente humana.
Eduardo de
Sousa Calvet de Magalhães, nascido em 10 de Fevereiro de 1921, é licenciado em
Desenho (com a média final de 18 valores) pelo Centro de Estudos Superiores
Artísticos do C.T.P (Centro Técnico Profissional) – Alvará do Ministério da
Educação, despacho do Ministro da Educação Nacional de 15 de Dezembro de 1955
sobre parecer favorável da 5.ª Secção da Junta Nacional de Educação;
pós-graduado em Desenho Gráfico e Design Gráfico Editorial; 1.º ano do Master
of Arts do Goldsmith College – Londres (GB); pós-graduado em Art and Design
Education pela Universidade Monfort – Leicester (GB); e possui o doutoramento
em Art and Design Education pela mesma Universidade de Monfort-Leicester (GB).
Este professor do ensino superior, jubilado (dado não gostarmos do termo
«aposentado»), é presentemente o Presidente da Direcção do Centro Holístico
Internacional (CHI).
O percurso
académico do Professor Eduardo Calvet de Magalhães passa pela docência
(primeiro como docente assistente e depois como professor titular) no Centro
Técnico Profissional, em Lisboa e no Porto, de 1955 a 1964; como professor
provisório do 7.º Grupo da Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo
(1975-1976); como professor encarregado da regência das disciplinas Sociologia
da Alimentação e Educação Alimentar, de 1978 a 1986, no Curso Superior de Nutricionismo
da Universidade do Porto; na Escola Superior de Belas Artes do Porto
(1978-1986); professor de Técnicas de Comunicação, Técnicas de Impressão e
Fotografia dos diferentes Cursos das Cooperativas de Ensino Árvore; professor
regente da disciplina «Estudos Portugueses» dos Cursos de Mestrado da Faculdade
de Ciências Políticas da Universidade de Santiago de Compostela (1997-1999); e
pela fundação de várias Cooperativas:
Escola Superior Artística do Porto, Cooperativa de Ensino Artístico Polivalente
Árvore (Porto), Escola Profissional de Ofícios Artísticos de Vila Nova de
Cerveira e da Escola Superior Gallaecia, em Vila Nova de Cerveira.
Para além
disso, no campo profissional ligado à publicidade e artes gráficas, o Professor
Calvet de Magalhães revelou-se como Chefe de Secção de Publicidade e Artes
Gráficas da «Ford Lusitana»– Lisboa; Chefe de Secção de Publicidade da «Shell
Campany of Portugal» – Lisboa; Director Técnico do Sector Gráfico da «Fabwerke
Hoechst» em Portugal; Director Técnico de «Jefigrafe» – Lisboa e Director
Técnico, sucessivamente, das seguintes empresas gráficas: «Empresa do Bolhão»;
«Litografia Vasco da Gama»; «La Artística» (Vigo – Espanha) e «Consórcio
Industrial del Miño», em Vigo, Espanha. Toda a sua actividade no sector das Artes
Gráficas vai de 1939 a 1973, donde se pode contar como paginador e orientador
gráfico; gráfico-publicitário; dirigente; fundador, passando – como acima
citamos – por Director Técnico e autor de vários artigos e manuais
profissionais. Destacamos ainda, em 1966, a coluna semanal no «Jornal de
Notícias», com o título «O Ensino como existência e como essência», que manteve
durante dois anos, vindo a culminar a sua carreira neste sector como Director e
Fundador da Empresa de Artes Gráficas, Consórcio Industrial do Miño – Vigo
(Espanha), na base do espaço galego e português, mas é contrariado
violentamente pelos franquistas e pela polícia política, ameaçado e finalmente
preso em Novembro de 1973, com grande aparato e campanha caluniosa na Imprensa
e mantido em sequestro até 4 de Maio de 1974, data que é libertado perto da
fronteira francesa, sem julgamento, após acusação ridícula de financiar,
através de Portugal, revolucionários bascos e catalães e de cumplicidade com o
atentado a Carrero Blanco, Primeiro Ministro.
O Professor
Calvet de Magalhães está ainda ligado à fundação dos jornais escolares «Gente
Moça», «Gente Nova» e «Revelação». Fundou também, de parceria com Ernesto de
Sousa, Jaime Cortesão Casimiro, Mário de Azevedo, Julião de Azevedo, Joel
Serrão, Borges de Macedo e Rui Grácio, o jornal Universitário «Horizonte», por
ocasião da primeira greve académica de 1942; e com Jaime Cortesão Casimiro,
fundou a «Editorial Confluência», que veio a publicar a primeira antologia de
Fernando Pessoa com o célebre prefácio de Adolfo Casais Monteiro, o que deu
lugar a um vergonhoso processo da Polícia de Investigação Criminal, sendo a
edição apreendida e, mais tarde, libertada por sentença da Relação de Lisboa.
Nos domínios da banda desenhada, arte gráfica, ilustração e construção de
armar, colabora nos jornais «O Senhor Doutor», «Tic-Tac» e «Mosquito» e,
posteriormente, «O Pirilau», participando na Direcção do «Rim-Tim-Tim» com
Oscar Pinto Lobo e «Diabrete» com Simões Muller. Participa no lançamento do
«Diário Popular», com seu pai, e no diário desportivo «A Baliza», com seu
irmão. Termina o Dicionário Trilingue de que seu pai é autor até à letra «P».
Tomou parte e apresentou várias teses em congressos. Dentre as inúmeras
exposições que efectuou, destacamos: Colectivo da Árvore, 1980; Bienal de
Cerveira, Agosto de 1980; Exposição de Serigrafias da Árvore – Arco, Lisboa,
Setembro de 1980; Exposição de Professores da ESBAP, Porto, 1982; Exposição de
Serigrafias, em Monreal (Canadá), 1985, e Bruxelas, em 1986.
Obras principais: «Manual Profissional de Artes Gráficas». Porto: Domingos Barreira
Editor, 1956; «T.V.P. – Técnica de Vendas e Publicidade», em cooperação com os
Professores Fernando Carvalho Costa e Manuel Calvet de Magalhães. Porto: Manuel
Barreira Editor, 1.ª ed., 1958 e Didáctica Editora, 10.ª ed., 1982; «Técnicas
de Impressão». Porto: Edição da Associação de Estudantes da 2.ª Secção da
ESBAP, 1964 e 1978; «Fotografia». Porto: E.C.M., 1969; «O Expressionismo e a
Arte Moderna»; e «Sena da Silva – 50 anos de ofícios».R.I.P. O Professor Eduardo Calvet de Magalhães, faleceu hoje, Quarta-feira, 4 de Janeiro de 2017. Até sempre Camarada e Amigo/Irmão!
(In, A Aurora do Lima (Viana do Castelo), Ano 150, n.º 25, Sexta-feira, 8 de Abril de 2005 - Retratos de Memória (L))
Estimado Sr Silva
ResponderEliminarPodería confirmar se o Dr. Calvet licenciouse en Porto ou Lisboa?
Eduardo de Sousa Calvet de Magalhães, nascido em 10 de Fevereiro de 1921, é licenciado em Desenho (com a média final de 18 valores) pelo Centro de Estudos Superiores Artísticos do C.T.P (Centro Técnico Profissional)"
Obrigado