quinta-feira, 21 de julho de 2016

Ritos de passagem e liminaridade!

«Se queremos perceber os caracteres específicos do pensamento mítico, devemos pois demonstrar que o mito está, simultaneamente, na linguagem e além dela…»

Claude Lévi-Strauss

Segundo Victor W. Turner, a Liminaridade é a passagem entre o “status” e estado cultural que foram cognoscitivamente definidos e logicamente articulados. Apesar de expressar uma certa convicção de ambiguidade e de indeterminação no que concerne aos seus atributos, o mesmo autor afirma que os mesmos exprimem-se por uma rica variedade de símbolos, nomeadamente naquelas várias sociedades que, precisamente, ritualizam as transições sociais e culturais: Assim, a liminaridade frequentemente é comparada à morte, ao estar no útero, à invisibilidade, à escuridão, à bissexualidade, às regiões selvagens e a um eclipse do sol e da lua.
É o próprio Victor W. Turner que nos remete para Van Gennep, quando este definiu os «Ritos de Passagem» como os ritos que acompanham toda a mudança de lugar, estado, posição social e idade . Por exemplo, nessa passagem de um território para outro, Van Gennep considera que qualquer que passe de um para outro acha-se assim, material e mágico-religiosamente, durante um tempo mais ou menos longo em uma situação especial, uma vez que flutua entre dois mundos. Encontramos assim entidades liminares, entre outros, em neófitos nos ritos de iniciação ou de puberdade, de casamento, de fertilidade, de parto, de investidura, de cura e de morte.


Em Arnold Van Gennep, o esquema completo dos ritos de passagem admite em teoria ritos preliminares (separação), liminares (margem) e pós-liminares (agregação). No fundo, uma trilogia que passa pelos estados de separação do mundo de que alguém se vai separar, pelo momento de transição ou de liminaridade e, por fim, pelo momento de agregação. Roberto da Matta, na introdução a obra «Ritos de Passagem» revela-nos que a grande descoberta de Van Gennep é que os ritos, como o teatro, têm fases invariantes, que mudam de acordo com o tipo de transição que o grupo pretende realizar. Se o rito é um funeral, a tendência das sequências formais será na direcção de marcar ou simbolizar separações. Mas se o sujeito acaba por mudar de grupo (ou de clã, família ou aldeia) pelo casamento, então as sequências tenderiam a dramatizar a agregação dele no novo grupo. E conclui dizendo que se as pessoas ou grupos passam por períodos marginais – nos quais se incluem a gravidez, o noivado, a iniciação, etc. – a sequência ritual investe nas margens ou na liminaridade do “objecto em estado de ritualização”. De facto, em muitas sociedades tradicionais, a mudança de estatuto – de que tomamos como exemplos, a transição da fase de jovem para adulto e, deste, para o casamento – pode revestir-se de um conjunto de rituais de iniciação, cuja complexidade varia de sociedade para sociedade. Apesar das diferenças culturais, o processo de passagem tem sempre como objectivo um conjunto de aprendizagens e provas, tendente à ruptura com o estado anterior. Outro dos exemplos que subsiste até aos nossos tempos é o casamento: É por isso que o casamento se reveste sempre de uma forma institucional, primeiramente religiosa, depois laica, e implica uma “sacralidade”. Segundo Jean Maisonneuve, nas ditas sociedades “arcaicas e tradicionais”, os ritos de separação visavam manter um certo equilíbrio ao compensarem a perda da pessoa que abandonava o seu clã ou a sua família. Aqui funcionavam as práticas de «“resgate”, de presentes, prestações ou recepções a favor do grupo que perde um dos seus membros».
Por outro lado, Arnold Van Gennep chama-nos à atenção para o facto de que ao atravessarmos uma «soleira», significa ingressarmos num mundo novo. Ainda segundo ele, tal é o motivo que confere a esse acto grande importância, nomeadamente e a título de exemplo, nos cerimoniais de casamento, de adopção, de ordenação e dos funerais. Para este autor, os ritos realizados na própria «soleira» são ritos de margem: como rito de separação do meio anterior há ritos de «purificação» (a pessoa se lava, se limpa, etc.), em seguida ritos de agregação (apresentação do sal, refeição em comum, etc.). Concluindo o seu raciocínio, os chamados ritos da soleira, não são por conseguinte ritos «de aliança» propriamente ditos, mas ritos de preparação para a aliança, os quais são procedidos por ritos de preparação para a margem.
Para Claude Lévi-Strauss, por exemplo, a sociedade é feita de indivíduos e de grupos que se comunicam entre si. Entretanto, e ainda segundo ele, a presença ou a ausência de comunicação não poderia ser definida de maneira absoluta, dado que mais do que fronteiras rígidas, trata-se de limiares, marcados por um enfraquecimento ou deformação da comunicação, e onde, sem desaparecer, esta passa a um nível mínimo.
Congratulamo-nos com o propósito do Município Barquense em querer sair dos ritos de soleira e expandir os ritos de preparação para a aliança, nomeadamente quando sabemos da investigação em curso para despoletar o património imaterial da Festa de S. Bartolomeu, partindo dos “ritos de preparação para a aliança, os quais são procedidos por ritos de preparação para a margem”.
        De facto, vale a pena lutar pelas referências multidimensionais, de que são exemplo, entre outras, os “baptizados da meia-noite”. Estabelecer pontes pode muito bem ajudar a descodificar a “certeza” de que a mesma lógica se produz no pensamento mítico e no pensamento científico. E nunca esquecer: Scribitur ad narradum, non ad probadum!

(In, Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1250, 20 de Julho de 2016, p. 7 - Crónicas do Átrio e do Lethes-25)

segunda-feira, 11 de julho de 2016

A sociedade humana e o conceito de justiça distributiva!

«A questão política essencial é a da justiça das quotas de reserva de cargos para os quais é necessário ser membro de determinado grupo, embora, presumivelmente, tal não constitua qualificação suficiente…»

Michael Walzer

Da leitura que fizemos – e continuamos a fazer – de Michael Walzer, nomeadamente da sua obra mais emblemática «As Esferas da Justiça», concluiríamos que numa sociedade em que os significados sociais se encontram definidos e hierarquizados, a justiça deveria vir em auxílio da desigualdade, e a sociedade humana reunir-se para compartilhar, dividir e trocar. E quando falamos do conceito de justiça distributiva referimo-nos ao ser, fazer e ter, quer ao nível da produção quer ao nível do consumo, abarcando a identidade e a posição social, a terra, o capital ou os bens pessoais de cada um de nós. Por isso, é que identificamos diferentes ideologias e diferentes combinações políticas perante esta realidade. Dado que nunca existiu um meio universal de trocas, também não há um único acesso ao universo de combinações e ideologias distributivas.
Apesar de o dinheiro ser ao longo da aventura humana o meio mais comum de troca, identificamos vasta impotência das autoridades públicas em assegurar uma regulação total na sociedade. Além de redes familiares e mercados negros são sobejamente conhecidas as alianças burocráticas e organizações políticas e religiosas clandestinas. Segundo Michael Walzer, o particularismo da história, da cultura e da qualidade de membro constitui, cada dia mais, este pluralismo complexo que condiciona a construção humana da justiça. Sendo certo que os bens objecto da justiça distributiva são bens sociais, estamos perante um cenário onde as mulheres e os homens possuem identidades concretas devido ao modo como concebem e criam e depois possuem e utilizam os mesmos bens sociais. Cada um deles determina os seus bens primários ou básicos e os universos morais ou materiais em que caminham ou sonham.


A história testemunha-nos que o significado dos bens determina ou orienta a deslocação humana. Daí, que as distribuições, justas ou injustas, e os respectivos significados sociais se alteram com os tempos. Na teoria, o poder político será, em democracia, o bem predominante, passível de ser convertível em qualquer modo que os cidadãos queiram. À partida todos nos devemos concentrar na atenuação do predomínio e não, ou não essencialmente, na destruição ou limitação do monopólio. Tal como a livre troca também o merecimento nos dá impressão de ser tanto ilimitado como pluralista. Todavia, sabemos que o merecimento é uma pretensão sólida, mas que reivindica um juízo difícil e só em condições muito excepcionais potenciará distribuições específicas.
A história também nos demonstrou que cada época se caracterizou por um quadro ou quadros de um mundo social especial, onde os significados sociais se sobrepõem e aderem uns aos outros. Temos a noção de quanto mais perfeita é essa adesão, menos possibilidade teremos de pensar sequer na igualdade complexa, dado que todos os bens se apresentam, em república, como “coroas e tronos numa monarquia hereditária”. E aqui falámos do contraditório e da negação de uma república hierarquizada.
A igualdade complexa exige a defesa dos limites; funciona por meio da diferenciação dos bens, assim como a hierarquia funciona por meio da diferenciação das pessoas. A política presente é produto, ainda que o tentem negar, da política passada, criando um cenário inevitável para a apreciação da justiça distributiva, quando a única alternativa plausível à comunidade política é a própria Humanidade, a sociedade das nações, o mundo inteiro. A providência comunitária é importante porque nos mostra o valor da qualidade de membro. Sob a égide da cultura, religião e política é que todas as outras coisas que carecemos se transformam em necessidades socialmente reconhecidas e assumem uma forma histórica e definida. O mais vulgar na história das lutas populares é a exigência, não da libertação, mas sim do cumprimento: que o Estado satisfaça os objectivos que afirma satisfazer e relativamente a todos os seus membros. A comunidade política cresce por invasão sempre que grupos até aí excluídos, um após outro, exigem o seu quinhão de segurança e previdência.
A justiça distributiva na esfera da segurança e da previdência tem um duplo significado: em primeiro lugar, reporta-se ao reconhecimento da necessidade e, em segundo, ao reconhecimento de qualidade de membro. O direito que os membros podem legitimamente reivindicar é de carácter mais geral. Assim, nenhuma comunidade pode permitir que os seus membros morram de fome, havendo víveres disponíveis para os alimentar. A previdência tem geralmente como objectivo abolir o predomínio do dinheiro na esfera da necessidade, assim a participação activa dos cidadãos em matéria de previdência, e também de segurança, tem como objectivo assegurar que o predomínio do dinheiro não venha a ser substituído pelo predomínio do poder político.
Segundo o Eclesiastes o dinheiro paga todas as coisas. Karl Marx apelidou-o de alcoviteiro universal, dada a propensão que revela para ajustar uniões escandalosas entre as pessoas e os bens e por dizimar todas as barreiras naturais e morais. O seu endeusamento é a alavanca suprema da sociedade capitalista.
Pena é que os políticos – detractores e coveiros da nobre arte de fazer política – leiam muito pouco, mas se achem no direito de se sentirem iluminados pelo predomínio do dinheiro na esfera da necessidade. E falam de economia, excluindo a participação activa dos cidadãos em matéria de previdência e segurança. O dinheiro (em papel), esse, está em “offshores” e quase todos os dias lá vai saindo da cartola mais um “presumível inocente” até ao seu julgamento e condenação pelas esferas da justiça. É apenas um arguido! – dizem-nos com alguma safadeza.     
        Para terminarmos, uma questão se coloca: – Que esferas da justiça, para a Europa e o Portugal de hoje?

(In, Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1249, 9/10 de Julho de 2016, p. 7 - Crónicas do Átrio e do Lethes-24)

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Spieghel der Zeevaert (O Espelho da Navegação)


Frontispício da obra Spieghel der Zeevaert (O Espelho da Navegação), um compêndio de arte de navegação escrito pelo piloto holandês Lucas Janszoon Waghenaer e publicado em 1579 (Biblioteca Pública de Londres).

sexta-feira, 1 de julho de 2016

«Do cavalo e da jovem rapariga» à hermenêutica de uma Europa em desconstrução!

«De entre os Códridas já não se elegiam reis, por se considerar que se tinham tornado efeminados e brandos. Hipómenes, um dos Códridas, quis afastar esta acusação. Tendo surpreendido um amante com a sua filha Leimônê, matou-o amarrando-o ao carro com sua filha, e a esta encerrou-a com um cavalo até que morreu…»

Aristóteles

Um dia propuseram-nos um exercício, onde nos confrontamos com dois pequenos excertos dos textos de Ésquines (Contra Timarco) e de Aristóteles (Fragmento da Constituição dos Atenienses), e por acharmos que, tal como afirmaria Richard E. Palmer, em hermenêutica o processo de interpretação “vai de um conteúdo e de um significado manifestos para um significado latente ou escondido ”, aventamos a hipótese de o objecto de interpretação, neste caso concreto os dois pequenos textos, poder ser constituído por símbolos mitológicos, sociais ou literários.
Inicialmente, espelhando uma certa desarticulação de raciocínio, só porque fomos iludidos pelo cenário, desprezamos o conteúdo ou o tema nevrálgico de tais “construções literárias”. Na altura, tomaríamos a interpretação certa, envoltos na máxima grega «Antes a Morte que a Desonra», sendo que o castigo corporal era encarado, na antiga Grécia, como modelar. Os condimentos que nos poderiam conduzir a tal interpretação estavam lá, mesmo quando o fizemos – ou procuramos fazer – à luz da história, sem esquecermos o tempo e o espaço. Mas, sem querer, apenas estávamos a dissimular uma construção interpretativa de “pescadinha de rabo na boca”. Apesar de termos tomado em linha de conta o sentido figurado ou metafórico, levados pelos conceitos do exemplo moral, numa Grécia da sabedoria, da beleza e da justiça, dado que as mulheres estavam sujeitas a restrições – eram bastante dominadas pelos maridos, pais ou irmãos e raramente participavam na política ou em qualquer outra forma da vida social –, só posteriormente nos apercebemos do nosso erro de raciocínio.
Enquanto nos enredávamos na teia “Do cavalo e da jovem rapariga”, sentíamos – ou ficaríamos com a sensação de – que, como uma centelha, a verdadeira “jurisprudência” do zeloso e guardião pai, da virgindade da jovem rapariga, ocultava algo bem mais grave do que a simples disciplina exemplar do castigo corporal, pela agravada desonra perpetrada por sua casta filha. Os termos, quer num quer noutro texto – “...ao descobrir a sua própria filha seduzida e que não tinha guardado a sua virgindade com decoro...” (Contra Timarco) ou “Tendo surpreendido um amante com a sua filha...” (Constituição dos Atenienses) – levar-nos-iam a pensar, ainda que erradamente, na exemplaridade moral, tendo em conta que na Grécia Antiga a violência fazia parte da sua cultura e, quiçá, do seu subconsciente. A acidentalidade do espaço geográfico; a luta pela hegemonia; as querelas locais – de que é exemplo o duelo entre Ésquines e Demóstenes –; a expressão e sobrevivência dos próprios deuses, ainda que simbolizados pelas forças da Natureza, ostentavam também os sentimentos bons ou maus dos seres humanos – para os Gregos, todos os homens se transformavam em deuses logo após a morte –, revestindo-se em histórias mitológicas, ora poéticas e graciosas, ora absurdas e pueris, ora imorais e grosseiras; e a própria “Tragédia Grega”, levar-nos-ia a equacionar a própria violência como factor preponderante para a interpretação dos textos.


É com base no sentido de interpretarmos as palavras, leis, códices ou textos sagrados, que utilizamos a hermenêutica, porque se nos configura como um método afastado da arbitrariedade interpretativa romântica e da redução naturalista. Abominamos o autoflagelo e o assoberbado pacifismo do sofrimento como expiação. Toda (ou quase toda) a gente sabe que escrevemos uma deambulação trágico-literária, «Baliza Trágica de Um Naufrágio», que ao passar pela “mãos” de uma prestigiada editora, chegaríamos a entender a resposta à nossa proposta da sua publicação, e que registamos com apreço: Conquanto comece com uma proposta de romance, opta depois o autor por um colóquio com vários amigos, onde são debatidas múltiplas questões de teor filosófico, político e social, com recorrência a uma erudição tão rica quanto vasta, que atravessam vários períodos da história contemporânea e actual, incluindo a do nosso país. / Pese embora o interesse de todas elas, põem-se-me muitas dúvidas quanto à receptividade que o livro poderá ter junto de um público que na sua grande maioria está mais virado para uma literatura de evasão que não exija muito da sua massa cinzenta. / É ver o êxito que têm os livros que vão de encontro a essa preferência, como é o caso do José Rodrigues dos Santos... – Assim não, obrigado. Antes escritor da aldeia, sem rosto, que mercenário… bebendo nas águas do Lethes, observando, lendo e escrevendo: «Gaspar Malheiro, conhecendo bem João Rosas como bem conhece e admira, partilha da sua bem fundamentada ideia de que a tarefa ciclópica para mudar o paradigma dessa “desconstrução”, será preciso incomodar milhares de tecnocratas e sobretudo políticos cuja razão de ser – e rendimentos – advêm da União Europeia tal como existe hoje. – Mas o processo de desconstrução europeia é inevitável e o país melhor preparado para liderá-lo é a Grã-Bretanha, uma vez que sempre manifestou um saudável cepticismo em relação ao construtivismo continental… – afiança João Cardoso Rosas» (In, p. 332 do Baliza Trágica de Um Naufrágio). E não somos videntes…
Esquecendo-nos por completo do cavalo e da jovem rapariga, assistimos serenamente à saída da Grã-Bretanha da União Europeia, mantendo a televisão em “off”, face às incursões dos malogrados “objectores de consciência” (com prognósticos no fim do jogo) e aos ignorantes, e/ou ajumentados, economistas e políticos de pacotilha. Tal como questionaria Eça de Queiroz, em 1891: Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: – mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não – pelo menos o Estado não tem: – e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise me parece a pior – e sem cura –, sentimos algum cansaço e cepticismo na mudança das fraldas.
Afinal, resolvemos voltar à hermenêutica “do cavalo e da jovem rapariga”, porque acabamos por descobrir que a nossa própria filha Europa foi seduzida e não soube guardar a sua virgindade com decoro… Scribitur ad narrandum!

(In, Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1248, 30 de Junho de 2016, p. 7 - Crónicas do Átrio e do Lethes-23)

quarta-feira, 22 de junho de 2016

David Hume e a ordem estabelecida pelos “objectores de consciência”!

«Quanto às impressões que têm origem nos sentidos, na minha opinião e a sua causa última é perfeitamente inexplicável pela razão humana e há-de sempre impossível decidir com certeza se elas têm origem imediata no objecto, se são produzidas pelo poder criador da mente ou se provêm do Autor do nosso ser…»

David Hume

David Hume [N. Edimburgo, 1711 – m. Edimburgo, 1776], filósofo, economista, escritor e historiador inglês, tal como sustentaria Paul Strathern, é o primeiro a admitir o seu pendor ateísta, frequente acusação de que eram alvo alguns dos filósofos que o antecederam, numa altura em que tal adjectivação não se traduziria, por certo, em elogio para ninguém. Antes pelo contrário, os filósofos enfrentariam graves dificuldades de forma a convencerem as pessoas da antítese à “ordem estabelecida”. Sendo que David Hume admitiria o confronto com a teologia, tal acto – diríamos, atitude ou acção –, levá-lo-ia a ser protagonista de um escândalo público, cuja dissuasão pretendida pelos seus opositores se baseava numa argumentação filosófica, e não em eventuais torturas.
Se no início da era Cristã, a filosofia foi absorvida pela teologia, centrada na aceitação de textos elaborados, por forma a construir-se novas argumentações dogmáticas, a partir Descartes (Séc. XVI), considerado como fundador da filosofia moderna, despreza-se os velhos pressupostos e a fundamentação assenta na filosofia da razão, ou seja, no método para conduzir a razão na busca da verdade, tentando unificar as ciências. Através deste “processo” procurava-se demonstrar que era possível negar tudo. Meio século mais tarde, John Locke revolucionou a noção de conhecimento ao introduzir o empirismo, cujo argumento defendia o princípio fundamental da filosofia, não na razão, mas na experiência. E David Hume procurou ir mais longe, ao querer demonstrar que já não era possível a construção de sistemas filosóficos, opondo-se, claramente, ao “penso, logo existo” de Descartes, com “a explicação da identidade pessoal: o «eu» como feixe de representações”. Daí, ser considerado o último representante dos empiristas britânicos clássicos: Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704).


O projecto de David Hume é, por assim dizer, o de construir uma ciência do homem, por forma a se “descobrir os princípios que regem as operações do pensamento”. Nesse sentido, esta é a “causa-efeito” negativa, vulgarizada nos tempos que correm, principalmente quando os ajumentados “objectores de consciência”, com pardieiro montado nos palanques da política e dos audiovisuais, se convencem do contraditório em relação àquilo que David Hume denominaria de “impressões”, as percepções que penetram com maior intensidade e violência e, sob esta designação englobou todas as nossas sensações, paixões e emoções, quando surgem pela primeira vez na “alma”; enquanto por ideias, referir-se-ia às suas distintas imagens no pensamento e raciocínio. Ou seja, enquanto as ideias podem ser distinguidas umas das outras pela sua “vivacidade” (apoio empírico), as impressões gozam de primazia genética sobre as ideias, dado que possuem uma qualidade (“vivacidade”) superior às ideias. Se é que interpretamos bem, o mesmo acontece com as ciências matemáticas, cuja grande vantagem sobre as ciências morais, reside no facto das primeiras nos oferecer sempre clarividência e determinação, sendo facilmente perceptível a mais pequena distinção entre elas, face à ausência de ambiguidade ou variação na forma de exprimir as mesmas ideias. Normalmente, os mesmos termos exprimem as mesmas ideias, invariavelmente.
Por isso, sempre que ouvimos os “papagaios” – dissimuladores de sapiência multidisciplinar – na TV (a tal caixinha-mágica), recorremos ao “zapping”, na expectativa de melhores alternativas, ou ao “off”, quando constatamos da lixeira e da desinformação que por lá pairam. É uma questão de defesa contra o “feixe de representações” de tais actores, creditados na existência das substâncias, quando para David Hume não existiam, tendo em conta que os corpos materiais são meros complexos de sensações; e, o “Eu” mais não representa que um feixe de sensações. Por outras palavras, se em nenhum momento temos uma percepção de nós mesmos, muito menos terão os “papagaios”… Veritas odium parit!
       Momentaneamente, como forma de remissão dos nossos “pecados” ou fragilidades cognitivas, valha-nos o futebol, para nos alegrar ou entristecer.

(In, Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1247, 20 de Junho de 2016, p. 7 - Crónicas do Átrio e do Lethes-22)

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Publicadas «Actas da Jornada» Abel Viana (1896-1964)!

«Abel Viana foi uma personalidade notável e uma referência essencial em período decisivo para o desenvolvimento dos estudos arqueológicos em Portugal…»

Marcelo Rebelo de Sousa

Foi no pretérito dia 18 de Maio do corrente ano, qual soalheira quarta-feira nos levaria, em representação do Município de Viana do Castelo, até ao Museu Nacional de Arqueologia, instalado no Mosteiro dos Jerónimos, para assistirmos à inauguração da Exposição «Lusitania Romana: Origem de dois Povos» e ao lançamento do livro «Actas da Jornada: Abel Viana (1896-1964) Paixão pela Arqueologia», cujo evento contou com a presença do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, actual Presidente da República.
Abstraindo-nos do acto pessoal de representatividade e da qualidade do dignitário da nação portuguesa, de somenos importância para o nosso “correr da pena” e sentido ético de imparcialidade, apenas nos debruçaremos sobre os conteúdos do referido livro de actas, que conta com anuência escrita do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, em jeito de Apresentação: As presentes Actas da Jornada Abel Viana são editadas autonomamente apenas porque não foi materialmente possível publicar um número específico do prestigiado “O Arqueólogo Português”, como inicialmente sonhado. Mas, o sentido de justíssima homenagem ao Mestre não se perdeu com as vicissitudes da edição. Muito pelo contrário, a ideia-chave da Jornada, tal como a da divulgação dos magníficos textos ora coligidos permaneceu viva e mereceu o apoio entusiástico da Fundação da Casa de Bragança, que organizou, no Castelo de Vila Viçosa, exposição evocativa e secundou a iniciativa lançada pelo dinâmico Director do Museu Nacional de Arqueologia, Senhor Dr. António Carvalho… – citamos “ipsis verbis”.


A publicação das referidas actas é o resultado do reconhecimento e evocação, por parte da Fundação da Casa de Bragança, da figura e da acção do insigne arqueólogo vianense Abel Viana (1896-1964), quando, em 2014, se assinalou o cinquentenário do seu passamento. Essa efeméride, que contou com o apoio do Museu Regional de Beja, foi assinalada com a organização e promoção de uma Exposição que esteve patente ao público no Castelo de Vila Viçosa, de Março a Dezembro desse mesmo ano, denominada “Abel Viana – Paixão pela Arqueologia”, a qual foi acompanhada por um catálogo, vindo a culminar, em Setembro, por ocasião das Jornadas Europeias do Património, com um ciclo de conferências.
Porque seria fastidioso aqui esmiuçar os conteúdos das intervenções nesse ciclo de conferências, que envolveu o Museu Nacional de Arqueologia, apenas referiremos o autor e o título das comunicações: José d’Encarnação, do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património, da Universidade de Coimbra, da Academia Portuguesa da História e da Academia das Ciências de Lisboa – Jeannette U. Smit Nolen: In memoriam (p. 12-19); João Luís Cardoso, da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia Portuguesa da História, da Universidade Aberta e do Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (Câmara Municipal de Oeiras) – Abel Viana (1896-1964): uma vida de arqueólogo (p. 20-72); António Carlos Silva, da Direcção Regional de Cultura do Alentejo – O legado de Abel Viana para a Arqueologia do Alentejo (p. 73-82); e, finalmente, Mónica Rolo, UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa e Bolseira de Doutoramento – Abel Viana e Vila Viçosa (p. 83-110). De salientar que, para além da “Apresentação” (p. 7) de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente do Conselho Administrativo da Fundação da Casa de Bragança, este magnífico livro conta ainda com “Palavras Prévias” (p. 9-11) de António Carvalho, Director do Museu Nacional de Arqueologia, que escreve a dado momento: O arqueólogo Abel Viana e o seu labor mereciam ser recordados e, entre as instituições que poderiam fazer esta justa homenagem, a Fundação da Casa de Bragança assume um papel de destaque. / Abel Viana esteve ligado à génese da constituição do Museu Arqueológico da Fundação e nesse quadro à realização de muitas campanhas de trabalhos arqueológicos subvencionados pela mesma. O contributo de Abel Viana para o desenvolvimento da Arqueologia do norte alentejano foi decisivo (…) – citamos e subscrevemos.
Nós por cá, Alto Minho, impõe-se-nos a obrigação de fazermos um pouco mais pela memória de Abel Viana. Res angusta domi!

(In, Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1246, 10 de Junho de 2016, p. 7 - Crónicas do Átrio e do Lethes-21) 

quarta-feira, 8 de junho de 2016

UM OLHAR DE FERNANDO PINHEIRO SOBRE O «BALIZA TRÁGICA DE UM NAUFRÁGIO»

Caro Porfírio:

Acabei de ler a tua obra. Como compreendes, não poderei fazer um comentário exaustivo da mesma, devido à sua complexidade textual e à manifesta falta de tempo útil com que me debato. Aulas, edições, iniciativas literárias, tarefas administrativas e de divulgação, encenações, colaboração em múltiplas realizações, etc. etc. impedem-me de fazer um estudo aturado da Baliza Trágica de um Naufrágio, conforme era minha vontade.


No entanto, não podia deixar de te dar uma pequena impressão de leitura sobre um texto que transcende em muito as fronteiras do chamado romance literário clássico. Ao longo dos dias fui percebendo que o “romance” mais não era do que o pretexto para uma impiedosa análise do “estado da nação”, nos múltiplos aspectos da sua degradação sistémica. O “romance”, sem deixar de o ser, acabou no entanto sobrepujado pela enormidade dos problemas causados por uma classe política inepta, por uma economia canibalista e por um império financeiro que mais não é do que um rolo compressor a esmagar as pequenas nações como Portugal. Em função das temáticas versadas numa obra que é predominantemente teórica, analítica e científica, poderemos dizer que estamos em presença de um romance-ensaio, ou até de um romance de tese multipolar. Impressiona a quantidade e a qualidade da informação, sempre pertinente e assertiva, o excelente e oportuno nível das citações, a intertextualidade de autores portugueses e estrangeiros, e, sobretudo, a agudeza justíssima e lancinante da denúncia de um crime cometido contra a empresa emblemática dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
Amigo Porfírio, é este o meu abraço literário que te queria dar. Bem hajas pela tua luta e pela tua independência moral e intelectual. Mas como escritor comprometido, estava-te reservada a única barricada de onde podes continuar a fazer frente a todo o tipo de opressões, sejam elas ideológicas, económicas ou morais. Vale!

Com o abraço fraterno do
Fernando Pinheiro

(Editor, argumentista, encenador, poeta e escritor)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

«O Eco dos Sedimentos» em Boaventura Rodrigues Silva!

«Os pensamentos são velhos, novos são os rios dos que nos induzem ao pensamento».

Boaventura Rodrigues Silva

Não há encontros ocasionais. Nem empatias. É uma questão energética!
Há muito que devíamos o testemunho arrancado ao silêncio e à escuridão, aqui pelas páginas impressas deste filho herdado (ADN positivo) do bom amigo Gualter Bacelar. A última vez que o fizemos foi em finais de Setembro do ano sétimo deste milénio, com Os Meninos do Rio, altura em que elegemos o nosso rio para confidenciarmos, desabafarmos, amarmos em silêncio, longe das penumbras, das noções articuladas do SER, do movimento nuclear das premeditadas antropodiceias (excitantes e excitadas no “bem-estar” de então), do estar e fluir nas defecadas paragens, impregnadas pelos “cabaneiros” sem arribanas, mas senhores do seu nariz, com paragem obrigatória em Terras da Nóbrega, qual Jardim dos Poetas nos faria ignorar a saudável “algazarra” dos meninos do rio.
Escrevemos na altura que os ditos “meninos” nasceram junto ao rio e vivem para ele, mergulhando, flutuando e nadando como peixes prateados, unidos, solidários e vocacionados para a necessidade lógica de “dominarem” o seu próprio universo. Hoje, por certo, terão ultrapassado as vinte e muitas translações e gravitarão por outras paragens e outros rios. Ou, quiçá, outros mares!


Boaventura Rodrigues Silva, homem nato em Terras da Nóbrega, aspergido com água benta em Touvedo, sob o domínio de um Salvador, há mais de sessenta translações, também ele Menino do Rio, se fez Homem sob um “fio-de-prumo” que o faria vir a sentir medos sem os escrever, a não louvar hipocrisias, aprendendo a amar o uivo dos ventos e a fúria dos mares, que condicionam os tempos. Tomamos-lhe por empréstimo o seu «Eco dos Sedimentos», eco espaço impresso por altura em que falamos dos Meninos do Rio, nossa décima nona crónica do “Átrio e do Lethes” (NB, Ano XXXI, n.º 952, 26 de Setembro de 2007), porque envolvidos por similares “Maleitas das Paixões” endeusadas por “Vénus”: «…Não sois lindas mulheres / Sois maravilha!... / Mas prodigiosos e belos / Corpo e pernas / Boca e seios / São os da mulher / Minha mãe…» (p. 23); por noites alucinantes que nos acordam e nos incitam à pueril rebeldia: «…Noites eivadas / De abutres / Piando e pairando / Sobre nossos corpos / Exaustos de tantas / Entregas…» (p. 35), cheias de erotismo, exotismo, coqueiros e Baía; ou por uma cabana e pelos beijos: «Como pincéis embriagados / De tinta pueril / Poisavam à porfia / Sobre o pedaço do mapa / Do teu corpo…» (p. 42).
Pelo «Eco dos Sedimentos» de Boaventura, perpassam ainda aulas de experiência; maturações, onde o esmagamento agita ainda mais a docilidade; búzios que as marés ousam beijarem; lodos petrificados, assentes no ontem, hoje e amanhã, por forma a estriparem o silêncio nocturno; ARTE, onde não importa saber o artista, dado o mesmo morar em sua obra; negação de voltar a ser menino outra vez; virtudes e suplícios; fazedores do pão; impérios da saudade; meninos do azar: «…Por isso é que / Vegetam / Tantos meninos / Sem arrimo / E não há / Cobertor que / Quebre o gelo / Aos meninos / Do desamor» (p. 63); crisântemos e chaves, esquecidas, com as quais alguém, ao fazer amor sem Amor, acabaria por expugnar «todos os recantos e pecados indizíveis…». Poesia sofrida, mas combativa e indobrável. Cepticismo de um homem simples? Talvez não, dado que, mormente, por trás de uma aparente simplicidade, transfigura-se um homem, geneticamente libertário.     
Como vês, Boaventura, também nós, nada te devemos, porque não acreditamos no acaso, mas na VONTADE, em obediência à qual, com esforço, nos forjamos coléricos, fazendo-nos também fortes, neste “Oceano” de aparências, cujo interior agitado, procura ostracizar-nos. Antes Meninos do Rio que “pajens” de poderes instituídos, porque, no teu dizer, temos a coragem de dizermos NÃO com irreverência à opulência, conscientes de que a “Revolução” começa em nós.
       Continua assim, Amigo/Irmão Boaventura Rodrigues Silva, mesmo que tenhas o «corpo cansado / Do tabaco, de cantigas / Coração despedaçado / Por amor de raparigas…». Conta connosco, hoje e sempre!

(In, «Crónicas do Átrio e do Lethes 21» - Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1245, 30 de Maio de 2016, p. 11)

segunda-feira, 23 de maio de 2016

ANTÓNIO ROSADO: RECITAL DE PIANO NO CCB

Sentimo-nos uma pequena poeira cósmica numa enorme Galáxia. Continuamos com a noção ou a “clarividência objectiva” de que o conhecimento é sofrimento. Regresso ao espaço físico, qual "saloio" impotente às marcas de um “destino agrilhoado”. Sonhar… apenas sonhar, enquanto o mundo pula e avança. Condicionantes da distância e das “notas” sem pauta, levam-nos a ouvir e a sentir sem ver.
Condicionantes do SER? Talvez!  
O maior sucesso para António Rosado e para o seu Recital de Piano, que terá lugar no próximo dia 5 de Junho de 2016, no Centro Cultural de Belém. Mais que não seja, estaremos lá espiritualmente!


«António Rosado iniciou os seus estudos musicais aos três anos de idade com o pai. No Conservatório Nacional de Lisboa, na classe de Gilberta Paiva, formou-se com a classificação máxima. Aos dezasseis anos foi para Paris como bolseiro do Governo Francês, da Fundação Gulbenkian e da Secretaria de Estado da Cultura. Aí encontra Aldo Ciccolini de quem vem a ser discípulo no Conservatório Nacional Superior de Música e nos cursos de aperfeiçoamento em Siena e na Academia de Biella em Itália. Anos mais tarde, Ciccolini dirá que «António Rosado possui o que nem o ensino, nem os estudos podem dar: o sentido do teclado».
Laureado pela Academia Internacional Maurice Ravel e pelo Concurso Internacional Vianna da Motta, em 1986 é-lhe atribuído o prémio G. Pella da Academia Internacional Perosi. No ano seguinte venceu (ex-aequo) o Concurso Internacional Alfredo Casella em Nápoles. Estes prémios constituem o reconhecimento internacional do seu virtuosismo e o impulso para uma brilhante carreira, com a realização de recitais e concertos por toda a Europa, Canadá, Brasil e México e a participação em diversos festivais, como o Rossini Opera Festival de Pesaro, Festival Cervantino do México, Europália, Festivais de Sintra, Costa Basca, Leiria e Costa do Estoril. Em 1990 inaugurou o Festival Pianístico de Nápoles, dedicado a Mozart, tocando para a RAI o Concerto K. 415, com a Orquestra Scarlatti. Convidado pelas rádios e televisões de numerosos países, foi com a TF1 que gravou três programas, sendo o primeiro dedicado à música ibérica, seguindo-se outro constituído por obras de Liszt e, por fim, um recital preenchido com obras de Beethoven, Prokofiev, Wagner-Liszt.
Fundador do Trio Artis, apresentou-se diversas vezes em duos com Maurice Gendron, Margarita Zimermann e Aldo Ciccolini e tocou com notáveis maestros, entre os quais: Pierre Dervaux, Silva Pereira, Franco Caracciolo, Michel Plasson, Léon Fleischer, Arthur Fagen, Claudio Scimone, Ivo Cruz, Álvaro Cassuto, Georg Alexander Albrecht, Moshe Atzmon e Ronald Zollman.
Da sua discografia fazem parte as duas Sonatas para Piano de Georges Enescu, gravadas em França; um disco integralmente preenchido com obras de Vianna da Motta, em 1995; com a chancela da Emi-Classics gravou Liszt, para assinalar os 150 anos da passagem do compositor por Lisboa. A Fantasia de Schumann e a Sonata de Liszt constituem o reportório do 4º disco de António Rosado editado pela BMG Classics. Em Hamburgo, gravou para a BMG o Concerto N.º 2 e a Rapsódia sobre um tema de Paganini de Rachmaninoff, com a NDR Sinfonieorchestra, sob a direcção de David Stahl.» (Texto biográfico por: Gulbenkian - serviço de Música)

domingo, 15 de maio de 2016

HISTORIA DE GIL BRAZ DE SANTILHANA

Face à beleza desta oleogravura não resistimos à tentação de publicar um pouco da história do clássico «A História de Gil Braz de Santilhana» do romancista e dramaturgo francês Alain-René Lesage (Sarzeau, Bretanha, 6 de maio de 1668 — Boulogne-sur-Mer, 17 de novembro de 1747) com tradução portuguesa de Julio Cesar Machado, numa edição monumental, em 2 volumes, de David Corazzi – Editor (Lisboa, 1885 e 1886), ilustrada com perto de 400 gravuras intercaladas no texto e 30 oleografias em separado.


Gil Braz de Santilhana é uma novela francesa no estilo dito picaresco, que ganhou uma grande tradição na literatura ocidental com heróis como D. Quixote, Hudibras, Tom Sawyer e outros. No enredo – sempre actual – um jovem no início da sua vida vai estudar para a Universidade de Salamanca, mas é coagido a ajudar um grupo de salteadores que lhe aparecem. Ao longo da sua vida vai sendo testemunha de muitas situações, mas graças à sua inteligência e muita esperteza vai terminar a sua vida como amigo do rei e gozando a sua fortuna num confortável castelo.


(A Biblioteca Pública Municipal de Viana do Castelo possui esta obra (2 volumes), na edição de David Corazzi – Editor).