Rui Pinto nasceu em Viana do
Castelo em 1946
Entretantos:
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Desde 1971 expõe com regularidade, individual e
colectivamente, em Portugal e no estrangeiro.
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Integrou o Grupo de Artistas Portugueses que mostrou à
Europa a I Exposição Nacional de Gravura Contemporânea.
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Participou, no Salão das Nações – Centro de Arte
Contemporânea de Paris – numa Colectiva Internacional.
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Fez parte do Projecto 1990 d.C.
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Foi premiado – Medalha de Prata – no XIX Salão da
Primavera (Estoril); Menção Honrosa na Exposição Temática sobre Lisboa e Menção
Honrosa no 1.º Concurso Internacional de Cartaz Turístico.
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Nos últimos anos tem executado vários painéis em
azulejo para edifícios públicos ou privados.
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Criou 32 medalhas destinadas a organismos ou eventos
tanto em Portugal como em Espanha.
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Recentemente criou a “Nova Cerâmica de Viana” em
estreita colaboração com a Fábrica de Cerâmica Vianagrés.
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Ilustrou dezenas de obras literárias.
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Está referido no “Dicionário de Pintores e Escultores
Portugueses” do Prof. Fernando de Pamplona, da Academia Nacional de
Belas-Artes.
Rui Pinto (auto-retrato) |
Como se define como
artista?
Aceitar a questão, sem falsas
modéstias, é perturbador.
Soubesse eu definir, em mim, o
homem!... E isto não é uma mera questão existencialista. É, muito mais, uma
consciencialização ética que assumo e começa na complexidade do vocábulo artista
em si próprio e, de imediato, no jogo com o outro que o antecede na pergunte, define.
Sejamos minimamente esclarecidos
ou resvalaremos para lugares comuns e banalidades que, para além de estafados,
só contribuem para a proliferação da mediocridade e, logo, do desinteresse.
Feitas estas considerações, à
defesa, vou subtrair-me à complexidade do “todo” e responder, liminarmente, à
questão que me é colocada.
Desde há muito rejeitei, por
idiossincrasia, a designação de autodidacta face à multiplicidade da
oferta de conhecimento através da qual podemos, quando interessados,
desenvolver habilidades inatas, particulares, conhecer e trabalhar sobre técnicas
e tendências, navegar em universos sem fronteiras mais ou menos apaixonantes.
Parece-me oportuno questionar: afinal, em que grandes academias ou escolas, e
de que forma, se formaram os grandes mestres, que fizeram a História... do
Mundo?
Vou aterrar!
Gosto de pintar, sobretudo, pelo
imenso Amor e indizível respeito que sinto pela Natureza. N’Ela vou encontrando
resposta para quase tudo o que, em mim, são dúvidas. E, estas, são tantas!
A Luz, a Água, a Atmosfera, a
Terra, o Vento, o Dia, a Noite... são, desde o meu ponto de vista, a essência
do que somos. Mas também, é óbvio, do que não somos quando nos descuidamos ou
nos divorciamos d’Ela.
Assim me sinto pessoa de algumas
habilidades para o exercício de um ofício, ou ofícios, que apaixonadamente, sim,
vou desenvolvendo.
Rui Pinto (Foto de Porfírio Silva, Dezembro 2016) |
Fale-nos um pouco do seu
percurso pessoal.
Filho de famílias muito humildes
cedo fui cumprir a tarefa de ajudar os meus. Nada de extraordinário na época. –
a propósito, como é hoje? – Era o Portugal dos anos cinquenta e sessenta do século
passado e as exigências da vida – que não tínhamos, enquanto Vida, porque o
poder encarregava-se de “A” determinar – assim o estabeleceram. Comecei por
encadernador, à tarefa, em casa, de pequenos livros destinados às Missões das,
então, colónias portuguesas em África. Mais tarde fui ajudante de electricista
dos Estaleiros Navais e daí transitei para os Serviços Municipais da Câmara
Municipal, à época responsável pelas redes de abastecimento de água e
electricidade do concelho.
Foi entre dois tempos que me
ocorreu algo de relevante influência na minha relação com a Arte... da
Literatura.
Eu vivia com meus avós maternos,
ali, na antiga Rua do Martim Velho, uma rua estreita que hoje não se reconhece.
O quintal da casa de meus avós confinava com o quintal da casa, de um ilustre
vianense de seu nome Júlio de Lemos, cuja fachada dava para a Rua da Bandeira.
De Júlio de Lemos a lembrança é mesmo vaga. Ao contrário da sua esposa, D.
Geminiana, lembro-me bastante bem... enquanto, já, viúva. A Senhora enfermara de
diabetes. As perturbações daí resultantes provocaram-lhe a cegueira. Após a
dolorosa perda do marido aquele era o mais dramático dos cenários para quem
repartia a vida com a paixão pelo esposo e a paixão pela paixão – de vida –
daquele mesmo: a literatura, a escrita.
D. Geminiana, agora, tampouco
podia ler!...
Em família, dizia-se, que eu lia
bem. E as boas relações criadas sob as glicínias do muro que separava os dois
quintais depressa resolveram, em parte, a questão. A partir dos meus doze/
treze anos comecei a ir, diariamente, todos os fins de tarde, durante cerca de
uma hora, ler para D. Geminiana. (e não é que a Senhora me convenceu que eu lia
bem!?...) Não posso precisar o tempo que isto durou. Se lia bem, era a
desditosa ouvinte que o dizia. Tenho, hoje, consciência de que pouco
compreendia. Todavia ficou-me o hábito, a percepção do mundo que ali estava.
Quase o vício. E fui “aprendendo” a ler, relendo. Fui “aprendendo” a pensar.
Fui “aprendendo” a ver e a sentir.
Cerca dos dezasseis anos
aventurei-me ao confronto com as folhas de papel em branco. E ora desenhava
(experimentava) ora escrevia. Não demorei a descobrir a cor e aos dezassete
anos assinei (Rupi) as minhas primeiras pinturas.
Aos dezoito anos, imediatamente
antes da minha ida para a capital, onde fui funcionário do Tribunal de
Trabalho, vendi os primeiros quadros: “O Amolador” e “A Velha”. Recebi,
justamente, duzentos escudos por cada qual.
Durante o tempo que passei em
Lisboa desfrutei, sempre a partir do meu próprio espaço e a ele regressando,
dos benefícios culturais de uma metrópole que, mesmo castrada, tinha outra
dimensão. Muitas vezes me senti “desistente” pelo deslumbramento. No interior,
porém, algo persistia. Cumprido o serviço militar onde “vendi” muito trabalho
através de rifas, regressei, de passagem, a Lisboa. Aos vinte e cinco anos fiz
a minha primeira exposição em Viana, apresentada pelo Professor Aníbal Alcino
(Obrigado, Professor!!!). Em 1971 “introduziram-me” na cerâmica. Hoje, aqui
estou! Os “entretantos” já os leram.
Soajo, aguarela, 1993 |
O que pensa da Arte
Contemporânea Portuguesa?
Quem não é ignorante dificilmente
poderá ser inocente. Se não sou de todo ignorante não serei, em igual medida,
inocente. E tenho opinião. Considerando a Arte no seu todo não encontro
significativas diferenças entre o que se faz em Portugal e no Resto do Mundo. A
globalização, matéria aparentemente recente, não o é tanto nos domínios da
Arte. Desde há algumas décadas que o significado das diferentes culturas se
esbateu, sobre os conceitos passaram a estabelecer-se mais permutas expericiais
do que discussões por diferentes objectivos. Existe, a meu ver, uma espécie de
“stand-by” que não beneficia nem o todo nem as partes.
Talvez convenha ressalvar o
fenómeno da música nas décadas de sessenta e setenta do século XX.
As novas tecnologias perturbaram
o ónus da criatividade, não no sentido de a reduzir, mas pelo facilitismo que
permite.
Não conheço, à escala planetária,
em muitas décadas já, nenhum fenómeno puramente artístico de grande projecção.
É a minha opinião: a de um
empírico.
Será que podemos arriscar
em pensar que sofreu a influência de alguma corrente de Arte?
Passe o aforismo o único homem
que não recebeu influências de outro homem foi Adão.
De mim, alguém que muito estimo
disse um dia: é um lírico-anarquista. Confesso uma certa “vaidade”, vindo de
quem vem.
Eu direi que só o sentido do Belo
me fascina. Ora, o Belo é indefinível. Fernando Pessoa considera-o mesmo
secundário. Pessoalmente, porém, encontro-o em muitas coisas e em muito
diferenciadas situações. Sendo objectivamente diferenciadas têm, por comum,
para mim, o sentido do belo, a sublimação da harmonia. Sinto-me um animal
intuitivo e instintivo e nessa forma de caminhar como que me distraio do humano
ao encontro da inesperada gestualidade da Natureza.
Ensinaram-me – a vida também –
que uma das mais elementares demonstrações e da importância da integência do
homem é a sua capacidade de adaptação. Aí desempenho o meu papel e vivo as
paixões. Correntes artísticas? Não hesito: os impressionistas seguidos pelos
expressionistas escalaram o Everest da pintura.
Outono, técnica mista s/ tela, 2004 (pormenor) |
Escrita, pintura,
desenho... cerâmica?
Sou de natureza apaixonada...
Quase desiquilibradamente. Mas estou de pé, e sempre perto de ser feliz. Na
questão que me é colocada amo a pintura e o acto de escrever. Dou-me bem com o
desenho embora desejasse conhecê-lo melhor. A cerâmica será sempre, numa
linguagem passional, a “outra”.
De tudo resulta que me falta
ambição o que me remete para o (des)conforto das dúvidas. Sempre aceitarei ser
julgado pelo que não fiz neste estar de quase cinzentismo iluminado (sim,
iluminado) pelo quotidiano amanhecer num rio que é o meu sacrário, a minha
fonte.
Por agora, pouco mais...
A Arte pela Arte ou a Arte
pelo Homem?
Tal como existem frases-feitas ou
clichés também há ideias que não fogem a essa matriz. Parece-me o caso. Que me
perdoem os mais letrados e conhecedores mas não encontrei nunca comunidade,
cultura ou civilização onde a liberdade cultural do indivíduo não conhecesse
oposição. Se baralharmos, partirmos e voltarmos a dar vem-nos calhar à mão o
mesmo jogo. O desempenho é sempre do Homem. Foi sempre do Homem. Talvez que a Arte
para o Homem. Se não, definitivamente, o Homem pela Arte.
Entrevista: Porfírio Pereira da
Silva
TERRA MINHA, MINHA TERRA
Uma tela imensa, desenfreada
na côr, na luz, na água decantada
entre vales luminosos e
abundantes...
as veigas litorais tão
deslumbrantes,
o brilho dos olhos das moçoilas
e na boca delas as papoilas...
Nos milénios dos castros, nas
“alminhas”
sempre floridas nas estradas...
e as romarias!... de um povo
inteiro,
inteiro e verdadeiro!... as
mordomias
e o orgulho dos canteiros nas
fachadas,
em granito, das “nossas”
fidalguias...
Depois, à mesa, uma paleta
policromada de vinhos e sabores,
tão generosa de tudo que os
deuses
no final do banquete adormeceram
como os deuses adormecem, meus
senhores!
Sobrou-nos o chão p’ra caminhar e
a quietude
de um povo tisnado, sim, mas
manso e pouco mais
que o delírio de poetas e
pintores.
Rui Pinto
Abril / 1992
(In, «MEALIBRA: Revista de Cultura do Centro Cultural do Alto Minho», N.º 16, Série 3, Verão 2005, p. 116-120)
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