Continuação da leitura, em jeito de descompressão, ao
princípio da tarde de hoje, com imagem, a pensar na
nossa história por vezes selvagem, por vezes misteriosa, sempre intensamente
comovedora, luminosa sobre o esquecimento e o poder da memória: «Penetraram no
bosque, e o solo que pisavam modificou-se. Havia musgo suave, urtigas e até
mesmo fetos. Acima das suas cabeças, as folhas eram tão densas que formavam um
tecto, de modo que durante algum tempo avançaram numa penumbra cinzenta.
Contudo, aquilo não era uma floresta, pois depressa viram à sua frente uma clareira
com o círculo de céu aberto por cima dela...» (ISHIGURO, Kazuo – “O Gigante
Enterrado”. Lisboa: Gradiva Publicações, 4.ª ed., Novembro 2017, p. 302). E
logo hoje que sentimos o pulsar da superfície urtigada cobrindo, mas ao mesmo
tempo aclarando, uma abóbora, cuja utilidade prática na noite anterior, nos servira
de transporte ao tempo da “gata borralheira”. Ficamos com a estranha sensação
que o sapatinho de cristal, por certo, um dia se irá quebrar… Sempre haverá
hipótese de reciclagem. Sorte a nossa, porque não há noites iguais. Felizmente,
dormiremos de consciência tranquila, aconchegados ao nosso travesseiro de
plumas!
Sem comentários:
Enviar um comentário