segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Entre a «Arte de Amar Ponte de Lima» e o «íntimo labirinto»!...

 «E logo ali, um lento e contrariado fluir, o espelho do rio. Espraia-se, ocioso e meigo, como se cativo de mil braços de salgueiros e choupos ribeirinhos. Cioso de seus feitiços, das loas apaixonadas dos poetas ao pôr-do-sol, do naufrágio virtual dos furtivos amantes quando a lua, leitosa, filtra eflúvios de paixão por entre a ramaria dos plátanos…»

 

Cláudio Lima

 

Num período menos positivo da nossa vida, no que toca ao “estádio cognitivo”, físico-psicologicamente falando, só mesmo uma “evasão” como a XXVII Feira do Livro de Ponte de Lima poderia salvar o “convento” ou o turbilhão de emoções, causa-efeito de encarar as formas arbitrárias de uma ilusão etnocêntrica e da expressão de uma relação de forças, assente em subgrupos sociais que se acham no poder de criar uma cultura própria, renegando a pluralidade de valores e de escolhas que nos podem conduzir ao enriquecimento da cultura universal.


Por uma questão de saúde, ou da falta dela, ficamos impossibilitados de assistirmos, no primeiro dia da Feira do Livro de Ponte de Lima, quinta-feira, 20 de julho de 2023, à apresentação do livro «Arte de Amar Ponte de lima» do excelso Poeta Cláudio Lima e do Artista (da imagem) Amândio de Sousa Vieira, ambos cultores do “Limianismo”, também enraizado em nós, mas não aceite por alguns dos subgrupos.

Como não possuímos a primeira edição deste magnífico livro, apressamo-nos em perturbar, sem o desobrigar, o nosso companheiro das letras José Ernesto Costa, em se fazer representar e representar-nos na referida apresentação desta forma ou «Arte de Amar Ponte de Lima».

Se até aqui estávamos condicionados pela “ignorância” própria, com o livro “entre mãos”, lido a preceito, sentimos que as palavras da “breve introdução” do Presidente do Município (editor), Vasco Ferraz, fazem jus à palavra e à imagem que corporizam este irrepreensível e esteticamente bem conseguido livro, numa 2.ª edição, revista e aumentada. A Arte e a Poesia, com qualidade, dignidade e aprumo.     

Ainda que um pouco debilitado (levado à letra pelos efeitos secundários das malditas contraindicações), o sábado, 22 de julho de 2023, levar-nos-ia, por obrigação de consciência e reabilitação da imaginação que nos chega do mundo da arte e da poesia, até à XXVII Feira do Livro de Ponte de Lima, para assistirmos ao lançamento do último brado poético do velho amigo  e insigne Poeta Gustavo Pimenta, «íntimo labirinto», magnanimamente (e/ou cientificamente irrepreensível) apresentado pelo nosso não menos amigo Fernando Hilário, homem das Artes, da Teoria da Literatura e da Literatura Comparada (doutorado), com investigação desenvolvida e publicada, nomeadamente sobre literatura angolana e o modernismo português.

No que toca ao Gustavo Pimenta, detém de uma forma peculiar, na aba da capa [estética e poeticamente sublime, de Manuel Rocha, sobre pintura de “minó” (óleo s/ tela, com colagens)], como nota biográfica: «a coisa / esta que as vossas mãos / soletram / não quer / sequer / remendar o mundo / mas se puser pessoas a / pensar…», elevação e confronto da “Poiesis” em si: «onde o pão é escasso / o estágio em criança é breve», múltiplas interpretações no “íntimo labirinto” onde se debate, e onde ficamos a saber que «a besta encurralada morde».

Foi-nos permitido voltar a recordar a grande Poeta Ana Luísa Amaral: «a gosto vou / tecendo estes dias imprecisos (…) / é agosto / não há mal algum / tentar / remendar o mundo / sabendo / não o conseguir / dói tanto / vê-la / forçada a desistir», e dado agradecimento a fechar: «A quem me atura. / Por amor, / por amizade / ou, até, apenas por decoro».

Nós, sim, é que agradecemos em uníssimo!

(In, Cardeal Saraiva (Ponte de Lima), Ano 114, n.º 4918, 28 de julho de 2023)

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