«E logo ali, um lento e contrariado fluir, o espelho do rio. Espraia-se, ocioso e meigo, como se cativo de mil braços de salgueiros e choupos ribeirinhos. Cioso de seus feitiços, das loas apaixonadas dos poetas ao pôr-do-sol, do naufrágio virtual dos furtivos amantes quando a lua, leitosa, filtra eflúvios de paixão por entre a ramaria dos plátanos…»
Cláudio Lima
Num período menos positivo da nossa vida, no que toca ao “estádio
cognitivo”, físico-psicologicamente falando, só mesmo uma “evasão” como a XXVII
Feira do Livro de Ponte de Lima poderia salvar o “convento” ou o turbilhão de
emoções, causa-efeito de encarar as formas arbitrárias de uma ilusão
etnocêntrica e da expressão de uma relação de forças, assente em subgrupos
sociais que se acham no poder de criar uma cultura própria, renegando a
pluralidade de valores e de escolhas que nos podem conduzir ao enriquecimento
da cultura universal.
Por uma questão de saúde, ou da falta dela, ficamos impossibilitados de
assistirmos, no primeiro dia da Feira do Livro de Ponte de Lima, quinta-feira,
20 de julho de 2023, à apresentação do livro «Arte de Amar Ponte de lima» do
excelso Poeta Cláudio Lima e do Artista (da imagem) Amândio de Sousa Vieira,
ambos cultores do “Limianismo”, também enraizado em nós, mas não aceite por
alguns dos subgrupos.
Como não possuímos a primeira edição deste magnífico livro, apressamo-nos
em perturbar, sem o desobrigar, o nosso companheiro das letras José Ernesto
Costa, em se fazer representar e representar-nos na referida apresentação desta
forma ou «Arte de Amar Ponte de Lima».
Se até aqui estávamos condicionados pela “ignorância” própria, com o
livro “entre mãos”, lido a preceito, sentimos que as palavras da “breve
introdução” do Presidente do Município (editor), Vasco Ferraz, fazem jus à
palavra e à imagem que corporizam este irrepreensível e esteticamente bem
conseguido livro, numa 2.ª edição, revista e aumentada. A Arte e a Poesia, com qualidade,
dignidade e aprumo.
Ainda que um pouco debilitado (levado à letra pelos efeitos secundários
das malditas contraindicações), o sábado, 22 de julho de 2023, levar-nos-ia,
por obrigação de consciência e reabilitação da imaginação que nos chega do
mundo da arte e da poesia, até à XXVII Feira do Livro de Ponte de Lima, para
assistirmos ao lançamento do último brado poético do velho amigo e insigne Poeta Gustavo Pimenta, «íntimo
labirinto», magnanimamente (e/ou cientificamente irrepreensível) apresentado
pelo nosso não menos amigo Fernando Hilário, homem das Artes, da Teoria da
Literatura e da Literatura Comparada (doutorado), com investigação desenvolvida
e publicada, nomeadamente sobre literatura angolana e o modernismo português.
No que toca ao Gustavo Pimenta, detém de uma forma peculiar, na aba da
capa [estética e poeticamente sublime, de Manuel Rocha, sobre pintura de “minó”
(óleo s/ tela, com colagens)], como nota biográfica: «a coisa / esta que as
vossas mãos / soletram / não quer / sequer / remendar o mundo / mas se puser pessoas
a / pensar…», elevação e confronto da “Poiesis” em si: «onde o pão é escasso /
o estágio em criança é breve», múltiplas interpretações no “íntimo labirinto”
onde se debate, e onde ficamos a saber que «a besta encurralada morde».
Foi-nos permitido voltar a recordar a grande Poeta Ana Luísa Amaral: «a
gosto vou / tecendo estes dias imprecisos (…) / é agosto / não há mal algum /
tentar / remendar o mundo / sabendo / não o conseguir / dói tanto / vê-la /
forçada a desistir», e dado agradecimento a fechar: «A quem me atura. / Por
amor, / por amizade / ou, até, apenas por decoro».