Caro Porfírio:
Acabei de ler a tua
obra. Como compreendes, não poderei fazer um comentário exaustivo da mesma,
devido à sua complexidade textual e à manifesta falta de tempo útil com que me
debato. Aulas, edições, iniciativas literárias, tarefas administrativas e de divulgação,
encenações, colaboração em múltiplas realizações, etc. etc. impedem-me de fazer
um estudo aturado da Baliza Trágica de um
Naufrágio, conforme era minha vontade.
No entanto, não podia
deixar de te dar uma pequena impressão de leitura sobre um texto que transcende
em muito as fronteiras do chamado romance literário clássico. Ao longo dos dias
fui percebendo que o “romance” mais não era do que o pretexto para uma
impiedosa análise do “estado da nação”, nos múltiplos aspectos da sua
degradação sistémica. O “romance”, sem deixar de o ser, acabou no entanto
sobrepujado pela enormidade dos problemas causados por uma classe política
inepta, por uma economia canibalista e por um império financeiro que mais não é
do que um rolo compressor a esmagar as pequenas nações como Portugal. Em função
das temáticas versadas numa obra que é predominantemente teórica, analítica e
científica, poderemos dizer que estamos em presença de um romance-ensaio, ou
até de um romance de tese multipolar. Impressiona a quantidade e a qualidade da
informação, sempre pertinente e assertiva, o excelente e oportuno nível das
citações, a intertextualidade de autores portugueses e estrangeiros, e,
sobretudo, a agudeza justíssima e lancinante da denúncia de um crime cometido
contra a empresa emblemática dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
Amigo Porfírio, é este
o meu abraço literário que te queria dar. Bem hajas pela tua luta e pela tua
independência moral e intelectual. Mas como escritor comprometido, estava-te
reservada a única barricada de onde podes continuar a fazer frente a todo o
tipo de opressões, sejam elas ideológicas, económicas ou morais. Vale!
Com o abraço fraterno
do
Fernando
Pinheiro
(Editor, argumentista,
encenador, poeta e escritor)
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