Em Vila Franca do Lima,
Viana do Castelo, no coração de uma pequena oficina, entre o cheiro da madeira
e o som ritmado das ferramentas manuais e mecânicas, trabalha António Barrosa,
um verdadeiro mestre da arte de esculpir a memória. Artesão apaixonado,
dedica-se há décadas à criação de réplicas perfeitas de utensílios
tradicionais, recriando com minúcia e alma objetos que fizeram parte do
quotidiano de gerações passadas.
Mas António não se limita
ao utilitário: entre as suas obras mais impressionantes estão bicicletas
antigas – funcionais e ao tamanho natural – totalmente construídas em madeira
rija – sim, até os pedais e as correntes! Cada peça, por mais pequena ou
complexa que seja, é talhada à mão, com uma paciência que só quem ama
profundamente o que faz consegue manter. O resultado é um acervo vastíssimo de
milhares de miniaturas e réplicas ao tamanho natural, todas, testemunhos vivos
de um Portugal que resiste ao esquecimento.
A obra de António Barrosa
é, em si mesma, um património cultural inestimável. Infelizmente, grande parte
deste tesouro continua guardada longe dos olhos do público. É urgente a criação
de um museu que acolha de forma digna e permanente estas peças. Um espaço onde
se possa celebrar não só a arte do artesanato tradicional, mas também a
persistência de quem, contra a maré do tempo, continua a dar forma à história
com as próprias mãos.
Preservar o legado de António Barrosa é preservar a identidade de um povo. É dar às gerações futuras a oportunidade de ver, tocar e sentir as raízes de onde viemos. Um museu não seria apenas uma homenagem ao artesão, mas um ato de respeito pela nossa memória coletiva.
(In, A Aurora do Lima, Ano 170, Número 19, quinta-feira, 05 de junho de 2025, p. 17)
