sábado, 4 de outubro de 2025

BRUMAS DO TEMPO (XIII)

 Entre gritos e silêncios dos Outdoors da Cidade. Ao caminharmos pelas ruas da cidade, erguem-se diante de nós os grandes outdoors – gigantes silenciosos que falam alto. Uns nos gritam ofensas disfarçadas de promessas; outros, quase sussurrando, nos convocam à humanidade. São expressões do nosso tempo, e como tais, refletem mais do que anunciam: revelam.

Os outdoors políticos, em especial os que se especializam em ataques, se tornam espelhos distorcidos de uma sociedade viciada em disputa. Ali não há convite ao diálogo, mas sim trincheiras levantadas com tinta e papel. Sua utilidade prática é, talvez, mover o eleitor pelo medo ou pela raiva, emoções que, embora intensas, são passageiras e facilmente manipuláveis. Psicologicamente, esses outdoors alimentam a polarização, reforçam muros internos e externos, deixando pouco espaço para a reflexão serena.


Em contraste, à sombra de um hospital, repousa um outro tipo de apelo: «Dar sangue é ser ainda mais solidário». Não há ataque, não há rival. Há apenas um convite à empatia. Sua utilidade prática é evidente – salvar vidas. Mas é na esfera psicológica que sua força é mais profunda. Ele não nos coloca contra o outro; nos coloca “com” o outro. Em vez de acender a chama do conflito, acende a da compaixão.

A diferença, portanto, não é apenas de conteúdo, mas de direção: enquanto os outdoors políticos agressivos empurram o olhar para fora, procurando um inimigo, o apelo solidário nos faz olhar para dentro, buscando um sentido de vida. Um convida-nos à guerra simbólica; o outro, à paz concreta.

E talvez seja isso que devamos perguntar, sempre que algo tentar nos chamar atenção aos gritos: «Esse chamamento me torna mais humano ou apenas mais reativo?» Os outdoors falam – mas quem decide o que ouvir somos nós!

( In, A Aurora do Lima, Ano 170, Número 13, quinta-feira, 17 de abril de 2025, p. 32)

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