No Cimo da Memória. Lá no alto, onde o granito beija o céu e a história se entranha na bruma da serra, ergue-se a antiga alma do Hotel de Santa Luzia, hoje Pousada de Viana do Castelo, como quem guarda segredos antigos e o tempo parece respirar mais devagar.
Mais que pedra e forma, é
guardiã do tempo – de um tempo que se recusa a desaparecer.
Ali, junto à citânia
ancestral, o espírito da proto-história murmura entre as arcadas e os pinhais.
A basílica do Sagrado Coração de Jesus – e Santa Luzia –, grandiosa, acompanha
em silêncio, como sentinela da fé que atravessa os séculos.
Aos pés desse miradouro
sagrado, o rio Lima – o mítico Lethes de impérios de antanho – corre
suave e constante até à foz. Diziam os romanos que quem o cruzasse perderia a
memória. Mas aqui, paradoxalmente, tudo se lembra.
Cada curva do rio guarda
ecos de navios, vozes de peregrinos, sonhos que resistem à erosão do tempo. A
paisagem – montanha, rio, oceano, cidade e basílica – não se limita a ser bela;
ela nos recorda que somos ponte entre o que foi e o que virá.
A vista alcança o Atlântico,
o horizonte e o íntimo. Ver com olhos que não têm pressa.
E ali, o viajante
compreende que o esquecimento não é ausência – é escolha.
Na Pousada, em vez de nos
esquecermos, aprendemos a recordar com reverência. E perceber que, às vezes, a
verdadeira viagem é permanecer – e escutar o silêncio das alturas.
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