sábado, 4 de outubro de 2025

BUMAS DO TEMPO (XVII)

Ao nos depararmos com a porta de uma igreja ornada com um vitral que exibe a vieira, em Vila Nova de Anha, símbolo marcante dos Caminhos de Santiago de Compostela, vemos não apenas uma porta física, mas uma passagem simbólica entre o mundo profano e o sagrado. A vieira, com suas linhas que convergem ao centro, representa a convergência dos caminhos em direção a um ponto comum: o encontro do ser humano consigo mesmo e com o transcendente.


Tal como a vieira marca os passos dos peregrinos em direção a Santiago, a concha assume um novo significado no ritual do batismo dentro dessa igreja, onde é usada para levar a água benta, símbolo de pureza e renascimento, até à cabeça da criança.

O batismo, com a água retirada pela concha, não é apenas um ato de purificação. Ele é o princípio de uma caminhada, uma jornada pela vida onde a pessoa é inserida num novo caminho espiritual, numa jornada contínua de busca, escolhas e crescimento. A água, fonte essencial de vida, renova o ser humano e marca o início de uma nova caminhada: o ato de viver, de peregrinar pela existência, de crescer.

Do lado de fora, projetado pelo vitral, está a figura de um transeunte, alguém que, talvez sem saber, encontra-se também em sua própria jornada. A simbologia desse caminhar faz-nos lembrar que todos somos peregrinos e que, a cada passo, fazemos escolhas, enfrentamos encruzilhadas, como numa caminhada eterna que vai do mundano ao espiritual, do profano ao sagrado.

(In, A Aurora do Lima, Ano 170, Número 17, quinta-feira, 22 de maio de 2025, p. 17)

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