Émile-Antoine Bayard, nasceu em Ferté-sous-Jouarre,
França, a 2 de Novembro de 1837 e morreu no Cairo, em Dezembro de 1891. Foi um
pintor, decorador, designer e ilustrador francês. Estes são principalmente
desenhos de controlos editoriais que detêm hoje a atenção dos fãs. Sem ser tão
corajoso quanto Paul Gavarni, soube harmonizar gestos para expressões faciais,
fazendo-a personagens particularmente expressivos.
segunda-feira, 25 de julho de 2016
«Histoire de La Magie du Monde Surnaturel» e as ilustrações de Émile-Antoine Bayard (1837-1891)

quinta-feira, 21 de julho de 2016
Ritos de passagem e liminaridade!
«Se queremos perceber os
caracteres específicos do pensamento mítico, devemos pois demonstrar que o mito
está, simultaneamente, na linguagem e além dela…»
Claude Lévi-Strauss
Segundo Victor W. Turner, a Liminaridade é a passagem entre
o “status” e estado cultural que foram cognoscitivamente definidos e
logicamente articulados. Apesar de expressar uma certa convicção de ambiguidade
e de indeterminação no que concerne aos seus atributos, o mesmo autor afirma
que os mesmos exprimem-se por uma rica variedade de símbolos, nomeadamente
naquelas várias sociedades que, precisamente, ritualizam as transições sociais
e culturais: Assim, a liminaridade
frequentemente é comparada à morte, ao estar no útero, à invisibilidade, à
escuridão, à bissexualidade, às regiões selvagens e a um eclipse do sol e da
lua.
É o próprio Victor W. Turner que nos remete para Van
Gennep, quando este definiu os «Ritos de Passagem» como os ritos que acompanham
toda a mudança de lugar, estado, posição social e idade . Por exemplo, nessa
passagem de um território para outro, Van Gennep considera que qualquer que
passe de um para outro acha-se assim, material e mágico-religiosamente, durante
um tempo mais ou menos longo em uma situação especial, uma vez que flutua entre
dois mundos. Encontramos assim entidades liminares, entre outros, em neófitos
nos ritos de iniciação ou de puberdade, de casamento, de fertilidade, de parto,
de investidura, de cura e de morte.
Em Arnold Van Gennep, o esquema completo dos ritos de
passagem admite em teoria ritos preliminares
(separação), liminares (margem) e pós-liminares (agregação). No fundo, uma
trilogia que passa pelos estados de separação do mundo de que alguém se vai
separar, pelo momento de transição ou de liminaridade e, por fim, pelo momento
de agregação. Roberto da Matta, na introdução a obra «Ritos de Passagem»
revela-nos que a grande descoberta de Van
Gennep é que os ritos, como o teatro, têm fases invariantes, que mudam de
acordo com o tipo de transição que o grupo pretende realizar. Se o rito é um
funeral, a tendência das sequências formais será na direcção de marcar ou
simbolizar separações. Mas se o sujeito acaba por mudar de grupo (ou de clã,
família ou aldeia) pelo casamento, então as sequências tenderiam a dramatizar a
agregação dele no novo grupo. E conclui dizendo que se as pessoas ou grupos
passam por períodos marginais – nos quais se incluem a gravidez, o noivado, a
iniciação, etc. – a sequência ritual investe nas margens ou na liminaridade do
“objecto em estado de ritualização”. De facto, em muitas sociedades
tradicionais, a mudança de estatuto – de que tomamos como exemplos, a transição
da fase de jovem para adulto e, deste, para o casamento – pode revestir-se de
um conjunto de rituais de iniciação, cuja complexidade varia de sociedade para
sociedade. Apesar das diferenças culturais, o processo de passagem tem sempre
como objectivo um conjunto de aprendizagens e provas, tendente à ruptura com o
estado anterior. Outro dos exemplos que subsiste até aos nossos tempos é o
casamento: É por isso que o casamento se
reveste sempre de uma forma institucional, primeiramente religiosa, depois
laica, e implica uma “sacralidade”. Segundo Jean Maisonneuve, nas ditas
sociedades “arcaicas e tradicionais”, os ritos de separação visavam manter um
certo equilíbrio ao compensarem a perda da pessoa que abandonava o seu clã ou a
sua família. Aqui funcionavam as práticas de «“resgate”, de presentes,
prestações ou recepções a favor do grupo que perde um dos seus membros».
Por outro lado, Arnold Van Gennep chama-nos à atenção para
o facto de que ao atravessarmos uma «soleira», significa ingressarmos num mundo
novo. Ainda segundo ele, tal é o motivo que confere a esse acto grande importância,
nomeadamente e a título de exemplo, nos cerimoniais de casamento, de adopção,
de ordenação e dos funerais. Para este autor, os ritos realizados na própria
«soleira» são ritos de margem: como rito
de separação do meio anterior há ritos de «purificação» (a pessoa se lava, se
limpa, etc.), em seguida ritos de agregação (apresentação do sal, refeição em
comum, etc.). Concluindo o seu raciocínio, os chamados ritos da soleira, não
são por conseguinte ritos «de aliança» propriamente ditos, mas ritos de preparação
para a aliança, os quais são procedidos por ritos de preparação para a margem.
Para Claude Lévi-Strauss, por exemplo, a sociedade é feita
de indivíduos e de grupos que se comunicam entre si. Entretanto, e ainda
segundo ele, a presença ou a ausência de comunicação não poderia ser definida
de maneira absoluta, dado que mais do que fronteiras rígidas, trata-se de
limiares, marcados por um enfraquecimento ou deformação da comunicação, e onde,
sem desaparecer, esta passa a um nível mínimo.
Congratulamo-nos com o propósito do Município Barquense em
querer sair dos ritos de soleira e expandir os ritos de preparação para a
aliança, nomeadamente quando sabemos da investigação em curso para despoletar o
património imaterial da Festa de S. Bartolomeu, partindo dos “ritos de
preparação para a aliança, os quais são procedidos por ritos de preparação para
a margem”.
De facto, vale a pena lutar pelas referências
multidimensionais, de que são exemplo, entre outras, os “baptizados da
meia-noite”. Estabelecer pontes pode muito bem ajudar a descodificar a
“certeza” de que a mesma lógica se produz no pensamento mítico e no pensamento
científico. E nunca esquecer: Scribitur ad narradum, non ad probadum!
(In, Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1250, 20 de Julho de 2016, p. 7 - Crónicas do Átrio e do Lethes-25)

segunda-feira, 11 de julho de 2016
A sociedade humana e o conceito de justiça distributiva!
«A questão política
essencial é a da justiça das quotas de reserva de cargos para os quais é
necessário ser membro de determinado grupo, embora, presumivelmente, tal não
constitua qualificação suficiente…»
Michael Walzer
Da leitura que fizemos – e continuamos a fazer – de Michael
Walzer, nomeadamente da sua obra mais emblemática «As Esferas da Justiça»,
concluiríamos que numa sociedade em que os significados sociais se encontram
definidos e hierarquizados, a justiça deveria vir em auxílio da desigualdade, e
a sociedade humana reunir-se para compartilhar, dividir e trocar. E quando
falamos do conceito de justiça distributiva referimo-nos ao ser, fazer e ter,
quer ao nível da produção quer ao nível do consumo, abarcando a identidade e a
posição social, a terra, o capital ou os bens pessoais de cada um de nós. Por
isso, é que identificamos diferentes ideologias e diferentes combinações
políticas perante esta realidade. Dado que nunca existiu um meio universal de
trocas, também não há um único acesso ao universo de combinações e ideologias
distributivas.
Apesar de o dinheiro ser ao longo da aventura humana o meio
mais comum de troca, identificamos vasta impotência das autoridades públicas em
assegurar uma regulação total na sociedade. Além de redes familiares e mercados
negros são sobejamente conhecidas as alianças burocráticas e organizações
políticas e religiosas clandestinas. Segundo Michael Walzer, o particularismo
da história, da cultura e da qualidade de membro constitui, cada dia mais, este
pluralismo complexo que condiciona a construção humana da justiça. Sendo certo
que os bens objecto da justiça distributiva são bens sociais, estamos perante
um cenário onde as mulheres e os homens possuem identidades concretas devido ao
modo como concebem e criam e depois possuem e utilizam os mesmos bens sociais.
Cada um deles determina os seus bens primários ou básicos e os universos morais
ou materiais em que caminham ou sonham.
A história testemunha-nos que o significado dos bens
determina ou orienta a deslocação humana. Daí, que as distribuições, justas ou
injustas, e os respectivos significados sociais se alteram com os tempos. Na teoria,
o poder político será, em democracia, o bem predominante, passível de ser
convertível em qualquer modo que os cidadãos queiram. À partida todos nos
devemos concentrar na atenuação do predomínio e não, ou não essencialmente, na
destruição ou limitação do monopólio. Tal como a livre troca também o
merecimento nos dá impressão de ser tanto ilimitado como pluralista. Todavia,
sabemos que o merecimento é uma pretensão sólida, mas que reivindica um juízo
difícil e só em condições muito excepcionais potenciará distribuições
específicas.
A história também nos demonstrou que cada época se
caracterizou por um quadro ou quadros de um mundo social especial, onde os
significados sociais se sobrepõem e aderem uns aos outros. Temos a noção de
quanto mais perfeita é essa adesão, menos possibilidade teremos de pensar
sequer na igualdade complexa, dado que todos os bens se apresentam, em
república, como “coroas e tronos numa monarquia hereditária”. E aqui falámos do
contraditório e da negação de uma república hierarquizada.
A igualdade complexa exige a defesa dos limites; funciona
por meio da diferenciação dos bens, assim como a hierarquia funciona por meio
da diferenciação das pessoas. A política presente é produto, ainda que o tentem
negar, da política passada, criando um cenário inevitável para a apreciação da
justiça distributiva, quando a única alternativa plausível à comunidade
política é a própria Humanidade, a sociedade das nações, o mundo inteiro. A
providência comunitária é importante porque nos mostra o valor da qualidade de
membro. Sob a égide da cultura, religião e política é que todas as outras
coisas que carecemos se transformam em necessidades socialmente reconhecidas e
assumem uma forma histórica e definida. O mais vulgar na história das lutas
populares é a exigência, não da libertação, mas sim do cumprimento: que o Estado
satisfaça os objectivos que afirma satisfazer e relativamente a todos os seus
membros. A comunidade política cresce por invasão sempre que grupos até aí
excluídos, um após outro, exigem o seu quinhão de segurança e previdência.
A justiça distributiva na esfera da segurança e da
previdência tem um duplo significado: em primeiro lugar, reporta-se ao
reconhecimento da necessidade e, em segundo, ao reconhecimento de qualidade de
membro. O direito que os membros podem legitimamente reivindicar é de carácter
mais geral. Assim, nenhuma comunidade pode permitir que os seus membros morram
de fome, havendo víveres disponíveis para os alimentar. A previdência tem
geralmente como objectivo abolir o predomínio do dinheiro na esfera da
necessidade, assim a participação activa dos cidadãos em matéria de
previdência, e também de segurança, tem como objectivo assegurar que o
predomínio do dinheiro não venha a ser substituído pelo predomínio do poder
político.
Segundo o Eclesiastes o dinheiro paga todas as coisas. Karl
Marx apelidou-o de alcoviteiro universal, dada a propensão que revela para
ajustar uniões escandalosas entre as pessoas e os bens e por dizimar todas as
barreiras naturais e morais. O seu endeusamento é a alavanca suprema da
sociedade capitalista.
Pena é que os políticos – detractores e coveiros da nobre
arte de fazer política – leiam muito pouco, mas se achem no direito de se
sentirem iluminados pelo predomínio do dinheiro na esfera da necessidade. E
falam de economia, excluindo a participação activa dos cidadãos em matéria de
previdência e segurança. O dinheiro (em papel), esse, está em “offshores” e quase
todos os dias lá vai saindo da cartola mais um “presumível inocente” até ao seu
julgamento e condenação pelas esferas da justiça. É apenas um arguido! – dizem-nos com alguma safadeza.
Para terminarmos, uma questão se coloca: – Que esferas da justiça, para a Europa e o
Portugal de hoje?
(In, Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1249, 9/10 de Julho de 2016, p. 7 - Crónicas do Átrio e do Lethes-24)

quarta-feira, 6 de julho de 2016
Spieghel der Zeevaert (O Espelho da Navegação)
Frontispício da obra Spieghel der Zeevaert (O Espelho da Navegação), um compêndio de arte de navegação escrito pelo piloto holandês Lucas Janszoon Waghenaer e publicado em 1579 (Biblioteca Pública de Londres).

sexta-feira, 1 de julho de 2016
«Do cavalo e da jovem rapariga» à hermenêutica de uma Europa em desconstrução!
«De entre os Códridas já
não se elegiam reis, por se considerar que se tinham tornado efeminados e
brandos. Hipómenes, um dos Códridas, quis afastar esta acusação. Tendo
surpreendido um amante com a sua filha Leimônê, matou-o amarrando-o ao carro
com sua filha, e a esta encerrou-a com um cavalo até que morreu…»
Aristóteles
Um dia propuseram-nos um exercício, onde nos confrontamos
com dois pequenos excertos dos textos de Ésquines (Contra Timarco) e de Aristóteles (Fragmento da Constituição dos Atenienses), e por acharmos que, tal
como afirmaria Richard E. Palmer, em hermenêutica o processo de interpretação
“vai de um conteúdo e de um significado manifestos para um significado latente
ou escondido ”, aventamos a hipótese de o objecto de interpretação, neste caso
concreto os dois pequenos textos, poder ser constituído por símbolos
mitológicos, sociais ou literários.
Inicialmente, espelhando uma certa desarticulação de
raciocínio, só porque fomos iludidos pelo cenário, desprezamos o conteúdo ou o
tema nevrálgico de tais “construções literárias”. Na altura, tomaríamos a
interpretação certa, envoltos na máxima grega «Antes a Morte que a Desonra», sendo que o castigo corporal era
encarado, na antiga Grécia, como modelar. Os condimentos que nos poderiam
conduzir a tal interpretação estavam lá, mesmo quando o fizemos – ou procuramos
fazer – à luz da história, sem esquecermos o tempo e o espaço. Mas, sem querer,
apenas estávamos a dissimular uma construção interpretativa de “pescadinha de
rabo na boca”. Apesar de termos tomado em linha de conta o sentido figurado ou
metafórico, levados pelos conceitos do exemplo moral, numa Grécia da sabedoria,
da beleza e da justiça, dado que as mulheres estavam sujeitas a restrições –
eram bastante dominadas pelos maridos, pais ou irmãos e raramente participavam
na política ou em qualquer outra forma da vida social –, só posteriormente nos
apercebemos do nosso erro de raciocínio.
Enquanto nos enredávamos na teia “Do cavalo e da jovem
rapariga”, sentíamos – ou ficaríamos com a sensação de – que, como uma
centelha, a verdadeira “jurisprudência” do zeloso e guardião pai, da virgindade
da jovem rapariga, ocultava algo bem mais grave do que a simples disciplina
exemplar do castigo corporal, pela agravada desonra perpetrada por sua casta
filha. Os termos, quer num quer noutro texto – “...ao descobrir a sua própria
filha seduzida e que não tinha guardado a sua virgindade com decoro...” (Contra Timarco) ou “Tendo surpreendido
um amante com a sua filha...” (Constituição
dos Atenienses) – levar-nos-iam a pensar, ainda que erradamente, na
exemplaridade moral, tendo em conta que na Grécia Antiga a violência fazia
parte da sua cultura e, quiçá, do seu subconsciente. A acidentalidade do espaço
geográfico; a luta pela hegemonia; as querelas locais – de que é exemplo o
duelo entre Ésquines e Demóstenes –; a expressão e sobrevivência dos próprios
deuses, ainda que simbolizados pelas forças da Natureza, ostentavam também os
sentimentos bons ou maus dos seres humanos – para os Gregos, todos os homens se
transformavam em deuses logo após a morte –, revestindo-se em histórias
mitológicas, ora poéticas e graciosas, ora absurdas e pueris, ora imorais e
grosseiras; e a própria “Tragédia Grega”, levar-nos-ia a equacionar a própria
violência como factor preponderante para a interpretação dos textos.
É com base no sentido de interpretarmos as palavras, leis,
códices ou textos sagrados, que utilizamos a hermenêutica, porque se nos
configura como um método afastado da arbitrariedade interpretativa romântica e
da redução naturalista. Abominamos o autoflagelo e o assoberbado pacifismo do
sofrimento como expiação. Toda (ou quase toda) a gente sabe que escrevemos uma
deambulação trágico-literária, «Baliza Trágica de Um Naufrágio», que ao passar
pela “mãos” de uma prestigiada editora, chegaríamos a entender a resposta à
nossa proposta da sua publicação, e que registamos com apreço: Conquanto comece com uma proposta de
romance, opta depois o autor por um colóquio com vários amigos, onde são
debatidas múltiplas questões de teor filosófico, político e social, com
recorrência a uma erudição tão rica quanto vasta, que atravessam vários
períodos da história contemporânea e actual, incluindo a do nosso país. / Pese
embora o interesse de todas elas, põem-se-me muitas dúvidas quanto à
receptividade que o livro poderá ter junto de um público que na sua grande
maioria está mais virado para uma literatura de evasão que não exija muito da
sua massa cinzenta. / É ver o êxito que têm os livros que vão de encontro a
essa preferência, como é o caso do José Rodrigues dos Santos... – Assim
não, obrigado. Antes escritor da aldeia, sem rosto, que mercenário… bebendo nas
águas do Lethes, observando, lendo e escrevendo: «Gaspar Malheiro, conhecendo
bem João Rosas como bem conhece e admira, partilha da sua bem fundamentada
ideia de que a tarefa ciclópica para mudar o paradigma dessa “desconstrução”,
será preciso incomodar milhares de tecnocratas e sobretudo políticos cuja razão
de ser – e rendimentos – advêm da União Europeia tal como existe hoje. – Mas o processo de desconstrução europeia é
inevitável e o país melhor preparado para liderá-lo é a Grã-Bretanha, uma vez
que sempre manifestou um saudável cepticismo em relação ao construtivismo
continental… – afiança João Cardoso Rosas» (In, p. 332 do Baliza Trágica de
Um Naufrágio). E não somos videntes…
Esquecendo-nos por completo do cavalo e da jovem rapariga,
assistimos serenamente à saída da Grã-Bretanha da União Europeia, mantendo a
televisão em “off”, face às incursões dos malogrados “objectores de
consciência” (com prognósticos no fim do jogo) e aos ignorantes, e/ou
ajumentados, economistas e políticos de pacotilha. Tal como questionaria Eça de
Queiroz, em 1891: Que fazer? Que esperar?
Portugal tem atravessado crises igualmente más: – mas nelas nunca nos faltaram
nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não
temos, dinheiro também não – pelo menos o Estado não tem: – e homens não os há,
ou os raros que há são postos na sombra pela Política. De sorte que esta crise
me parece a pior – e sem cura –, sentimos algum cansaço e cepticismo na
mudança das fraldas.
Afinal, resolvemos voltar à hermenêutica “do cavalo e
da jovem rapariga”, porque acabamos por descobrir que a nossa própria filha
Europa foi seduzida e não soube guardar a sua virgindade com decoro… Scribitur ad narrandum!
(In, Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1248, 30 de Junho de 2016, p. 7 - Crónicas do Átrio e do Lethes-23)

quarta-feira, 22 de junho de 2016
David Hume e a ordem estabelecida pelos “objectores de consciência”!
«Quanto às impressões que
têm origem nos sentidos, na minha opinião e a sua causa última é perfeitamente
inexplicável pela razão humana e há-de sempre impossível decidir com certeza se
elas têm origem imediata no objecto, se são produzidas pelo poder criador da
mente ou se provêm do Autor do nosso ser…»
David Hume
David Hume [N. Edimburgo, 1711 – m. Edimburgo, 1776],
filósofo, economista, escritor e historiador inglês, tal como sustentaria Paul
Strathern, é o primeiro a admitir o seu pendor ateísta, frequente acusação de
que eram alvo alguns dos filósofos que o antecederam, numa altura em que tal
adjectivação não se traduziria, por certo, em elogio para ninguém. Antes pelo
contrário, os filósofos enfrentariam graves dificuldades de forma a convencerem
as pessoas da antítese à “ordem estabelecida”. Sendo que David Hume admitiria o
confronto com a teologia, tal acto – diríamos, atitude ou acção –, levá-lo-ia a
ser protagonista de um escândalo público, cuja dissuasão pretendida pelos seus
opositores se baseava numa argumentação filosófica, e não em eventuais
torturas.
Se no início da era Cristã, a filosofia foi absorvida pela
teologia, centrada na aceitação de textos elaborados, por forma a construir-se
novas argumentações dogmáticas, a partir Descartes (Séc. XVI), considerado como
fundador da filosofia moderna, despreza-se os velhos pressupostos e a
fundamentação assenta na filosofia da razão, ou seja, no método para conduzir a
razão na busca da verdade, tentando unificar as ciências. Através deste
“processo” procurava-se demonstrar que era possível negar tudo. Meio século
mais tarde, John Locke revolucionou a noção de conhecimento ao introduzir o
empirismo, cujo argumento defendia o princípio fundamental da filosofia, não na
razão, mas na experiência. E David Hume procurou ir mais longe, ao querer
demonstrar que já não era possível a construção de sistemas filosóficos,
opondo-se, claramente, ao “penso, logo existo” de Descartes, com “a explicação
da identidade pessoal: o «eu» como feixe de representações”. Daí, ser
considerado o último representante dos empiristas britânicos clássicos: Thomas
Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704).
O projecto de David Hume é, por assim dizer, o de construir
uma ciência do homem, por forma a se “descobrir os princípios que regem as
operações do pensamento”. Nesse sentido, esta é a “causa-efeito” negativa,
vulgarizada nos tempos que correm, principalmente quando os ajumentados “objectores
de consciência”, com pardieiro montado nos palanques da política e dos
audiovisuais, se convencem do contraditório em relação àquilo que David Hume
denominaria de “impressões”, as percepções que penetram com maior intensidade e
violência e, sob esta designação englobou todas as nossas sensações, paixões e
emoções, quando surgem pela primeira vez na “alma”; enquanto por ideias,
referir-se-ia às suas distintas imagens no pensamento e raciocínio. Ou seja,
enquanto as ideias podem ser distinguidas umas das outras pela sua “vivacidade”
(apoio empírico), as impressões gozam de primazia genética sobre as ideias,
dado que possuem uma qualidade (“vivacidade”) superior às ideias. Se é que
interpretamos bem, o mesmo acontece com as ciências matemáticas, cuja grande
vantagem sobre as ciências morais, reside no facto das primeiras nos oferecer
sempre clarividência e determinação, sendo facilmente perceptível a mais pequena
distinção entre elas, face à ausência de ambiguidade ou variação na forma de
exprimir as mesmas ideias. Normalmente, os mesmos termos exprimem as mesmas
ideias, invariavelmente.
Por isso, sempre que ouvimos os “papagaios” –
dissimuladores de sapiência multidisciplinar – na TV (a tal caixinha-mágica),
recorremos ao “zapping”, na expectativa de melhores alternativas, ou ao “off”,
quando constatamos da lixeira e da desinformação que por lá pairam. É uma
questão de defesa contra o “feixe de representações” de tais actores,
creditados na existência das substâncias, quando para David Hume não existiam,
tendo em conta que os corpos materiais são meros complexos de sensações; e, o “Eu”
mais não representa que um feixe de sensações. Por outras palavras, se em
nenhum momento temos uma percepção de nós mesmos, muito menos terão os
“papagaios”… Veritas odium parit!
Momentaneamente, como forma de remissão dos nossos
“pecados” ou fragilidades cognitivas, valha-nos o futebol, para nos alegrar ou
entristecer.
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Publicadas «Actas da Jornada» Abel Viana (1896-1964)!
«Abel Viana foi uma
personalidade notável e uma referência essencial em período decisivo para o
desenvolvimento dos estudos arqueológicos em Portugal…»
Marcelo Rebelo de Sousa
Foi no pretérito dia 18 de Maio do corrente ano, qual
soalheira quarta-feira nos levaria, em representação do Município de Viana do
Castelo, até ao Museu Nacional de Arqueologia, instalado no Mosteiro dos
Jerónimos, para assistirmos à inauguração da Exposição «Lusitania Romana: Origem de dois Povos» e ao lançamento do livro «Actas da Jornada: Abel Viana (1896-1964)
Paixão pela Arqueologia», cujo evento contou com a presença do Professor
Marcelo Rebelo de Sousa, actual Presidente da República.
Abstraindo-nos do acto pessoal de representatividade e da
qualidade do dignitário da nação portuguesa, de somenos importância para o nosso
“correr da pena” e sentido ético de imparcialidade, apenas nos debruçaremos
sobre os conteúdos do referido livro de actas, que conta com anuência escrita
do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, em jeito de Apresentação: As presentes Actas da Jornada Abel Viana são
editadas autonomamente apenas porque não foi materialmente possível publicar um
número específico do prestigiado “O Arqueólogo Português”, como inicialmente
sonhado. Mas, o sentido de justíssima homenagem ao Mestre não se perdeu com as
vicissitudes da edição. Muito pelo contrário, a ideia-chave da Jornada, tal
como a da divulgação dos magníficos textos ora coligidos permaneceu viva e
mereceu o apoio entusiástico da Fundação da Casa de Bragança, que organizou, no
Castelo de Vila Viçosa, exposição evocativa e secundou a iniciativa lançada
pelo dinâmico Director do Museu Nacional de Arqueologia, Senhor Dr. António
Carvalho… – citamos “ipsis verbis”.
A publicação das referidas actas é o resultado do
reconhecimento e evocação, por parte da Fundação da Casa de Bragança, da figura
e da acção do insigne arqueólogo vianense Abel Viana (1896-1964), quando, em
2014, se assinalou o cinquentenário do seu passamento. Essa efeméride, que
contou com o apoio do Museu Regional de Beja, foi assinalada com a organização
e promoção de uma Exposição que esteve patente ao público no Castelo de Vila
Viçosa, de Março a Dezembro desse mesmo ano, denominada “Abel Viana – Paixão
pela Arqueologia”, a qual foi acompanhada por um catálogo, vindo a culminar, em
Setembro, por ocasião das Jornadas Europeias do Património, com um ciclo de
conferências.
Porque seria fastidioso aqui esmiuçar os conteúdos das
intervenções nesse ciclo de conferências, que envolveu o Museu Nacional de
Arqueologia, apenas referiremos o autor e o título das comunicações: José d’Encarnação, do Centro de Estudos
de Arqueologia, Artes e Ciências do Património, da Universidade de Coimbra, da
Academia Portuguesa da História e da Academia das Ciências de Lisboa – Jeannette U. Smit Nolen: In memoriam (p.
12-19); João Luís Cardoso, da
Academia das Ciências de Lisboa, da Academia Portuguesa da História, da Universidade
Aberta e do Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (Câmara
Municipal de Oeiras) – Abel Viana
(1896-1964): uma vida de arqueólogo (p. 20-72); António Carlos Silva, da Direcção Regional de Cultura do Alentejo –
O legado de Abel Viana para a Arqueologia
do Alentejo (p. 73-82); e, finalmente, Mónica
Rolo, UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa e Bolseira
de Doutoramento – Abel Viana e Vila
Viçosa (p. 83-110). De salientar que, para além da “Apresentação” (p. 7) de
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente
do Conselho Administrativo da Fundação da Casa de Bragança, este magnífico
livro conta ainda com “Palavras Prévias” (p. 9-11) de António Carvalho, Director do Museu Nacional de Arqueologia, que
escreve a dado momento: O arqueólogo Abel
Viana e o seu labor mereciam ser recordados e, entre as instituições que
poderiam fazer esta justa homenagem, a Fundação da Casa de Bragança assume um
papel de destaque. / Abel Viana esteve ligado à génese da constituição do Museu
Arqueológico da Fundação e nesse quadro à realização de muitas campanhas de
trabalhos arqueológicos subvencionados pela mesma. O contributo de Abel Viana
para o desenvolvimento da Arqueologia do norte alentejano foi decisivo (…)
– citamos e subscrevemos.
Nós por cá, Alto Minho, impõe-se-nos a obrigação de fazermos
um pouco mais pela memória de Abel Viana. Res angusta domi!
(In, Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1246, 10 de Junho de 2016, p. 7 - Crónicas do Átrio e do Lethes-21)

quarta-feira, 8 de junho de 2016
UM OLHAR DE FERNANDO PINHEIRO SOBRE O «BALIZA TRÁGICA DE UM NAUFRÁGIO»
Caro Porfírio:
Acabei de ler a tua
obra. Como compreendes, não poderei fazer um comentário exaustivo da mesma,
devido à sua complexidade textual e à manifesta falta de tempo útil com que me
debato. Aulas, edições, iniciativas literárias, tarefas administrativas e de divulgação,
encenações, colaboração em múltiplas realizações, etc. etc. impedem-me de fazer
um estudo aturado da Baliza Trágica de um
Naufrágio, conforme era minha vontade.
No entanto, não podia
deixar de te dar uma pequena impressão de leitura sobre um texto que transcende
em muito as fronteiras do chamado romance literário clássico. Ao longo dos dias
fui percebendo que o “romance” mais não era do que o pretexto para uma
impiedosa análise do “estado da nação”, nos múltiplos aspectos da sua
degradação sistémica. O “romance”, sem deixar de o ser, acabou no entanto
sobrepujado pela enormidade dos problemas causados por uma classe política
inepta, por uma economia canibalista e por um império financeiro que mais não é
do que um rolo compressor a esmagar as pequenas nações como Portugal. Em função
das temáticas versadas numa obra que é predominantemente teórica, analítica e
científica, poderemos dizer que estamos em presença de um romance-ensaio, ou
até de um romance de tese multipolar. Impressiona a quantidade e a qualidade da
informação, sempre pertinente e assertiva, o excelente e oportuno nível das
citações, a intertextualidade de autores portugueses e estrangeiros, e,
sobretudo, a agudeza justíssima e lancinante da denúncia de um crime cometido
contra a empresa emblemática dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
Amigo Porfírio, é este
o meu abraço literário que te queria dar. Bem hajas pela tua luta e pela tua
independência moral e intelectual. Mas como escritor comprometido, estava-te
reservada a única barricada de onde podes continuar a fazer frente a todo o
tipo de opressões, sejam elas ideológicas, económicas ou morais. Vale!
Com o abraço fraterno
do
Fernando
Pinheiro
(Editor, argumentista,
encenador, poeta e escritor)

quarta-feira, 1 de junho de 2016
«O Eco dos Sedimentos» em Boaventura Rodrigues Silva!
«Os pensamentos são
velhos, novos são os rios dos que nos induzem ao pensamento».
Boaventura Rodrigues Silva
Não há encontros ocasionais. Nem empatias. É uma questão
energética!
Há muito que devíamos o testemunho arrancado ao silêncio e
à escuridão, aqui pelas páginas impressas deste filho herdado (ADN positivo) do
bom amigo Gualter Bacelar. A última vez que o fizemos foi em finais de Setembro
do ano sétimo deste milénio, com Os Meninos
do Rio, altura em que elegemos o nosso rio para confidenciarmos,
desabafarmos, amarmos em silêncio, longe das penumbras, das noções articuladas
do SER, do movimento nuclear das premeditadas antropodiceias (excitantes e
excitadas no “bem-estar” de então), do estar e fluir nas defecadas paragens,
impregnadas pelos “cabaneiros” sem arribanas, mas senhores do seu nariz, com paragem
obrigatória em Terras da Nóbrega,
qual Jardim dos Poetas nos faria
ignorar a saudável “algazarra” dos meninos do rio.
Escrevemos na altura que os ditos “meninos” nasceram junto
ao rio e vivem para ele, mergulhando, flutuando e nadando como peixes
prateados, unidos, solidários e vocacionados para a necessidade lógica de
“dominarem” o seu próprio universo. Hoje, por certo, terão ultrapassado as
vinte e muitas translações e gravitarão por outras paragens e outros rios. Ou,
quiçá, outros mares!
Boaventura Rodrigues Silva, homem nato em Terras da Nóbrega, aspergido com água benta em
Touvedo, sob o domínio de um Salvador, há mais de sessenta translações, também
ele Menino do Rio, se fez Homem sob
um “fio-de-prumo” que o faria vir a sentir medos sem os escrever, a não louvar
hipocrisias, aprendendo a amar o uivo dos ventos e a fúria dos mares, que
condicionam os tempos. Tomamos-lhe por empréstimo o seu «Eco dos Sedimentos», eco espaço impresso por altura em que
falamos dos Meninos do Rio, nossa
décima nona crónica do “Átrio e do Lethes” (NB, Ano XXXI, n.º 952, 26 de Setembro
de 2007), porque envolvidos por similares “Maleitas das Paixões” endeusadas por
“Vénus”: «…Não sois lindas mulheres /
Sois maravilha!... / Mas prodigiosos e belos / Corpo e pernas / Boca e seios /
São os da mulher / Minha mãe…» (p. 23); por noites alucinantes que nos
acordam e nos incitam à pueril rebeldia: «…Noites
eivadas / De abutres / Piando e pairando / Sobre nossos corpos / Exaustos de
tantas / Entregas…» (p. 35), cheias de erotismo, exotismo, coqueiros e
Baía; ou por uma cabana e pelos beijos: «Como
pincéis embriagados / De tinta pueril / Poisavam à porfia / Sobre o pedaço do
mapa / Do teu corpo…» (p. 42).
Pelo «Eco dos Sedimentos» de Boaventura, perpassam ainda
aulas de experiência; maturações, onde o esmagamento agita ainda mais a
docilidade; búzios que as marés ousam beijarem; lodos petrificados, assentes no
ontem, hoje e amanhã, por forma a estriparem o silêncio nocturno; ARTE, onde
não importa saber o artista, dado o mesmo morar em sua obra; negação de voltar
a ser menino outra vez; virtudes e suplícios; fazedores do pão; impérios da
saudade; meninos do azar: «…Por isso é
que / Vegetam / Tantos meninos / Sem arrimo / E não há / Cobertor que / Quebre
o gelo / Aos meninos / Do desamor» (p. 63); crisântemos e chaves,
esquecidas, com as quais alguém, ao fazer amor sem Amor, acabaria por expugnar
«todos os recantos e pecados indizíveis…». Poesia sofrida, mas combativa e
indobrável. Cepticismo de um homem simples? Talvez não, dado que, mormente, por
trás de uma aparente simplicidade, transfigura-se um homem, geneticamente
libertário.
Como vês, Boaventura, também nós, nada te devemos, porque
não acreditamos no acaso, mas na VONTADE, em obediência à qual, com esforço,
nos forjamos coléricos, fazendo-nos também fortes, neste “Oceano” de aparências,
cujo interior agitado, procura ostracizar-nos. Antes Meninos do Rio que “pajens” de poderes instituídos, porque, no teu
dizer, temos a coragem de dizermos NÃO com irreverência à opulência,
conscientes de que a “Revolução” começa em nós.
Continua assim, Amigo/Irmão Boaventura Rodrigues
Silva, mesmo que tenhas o «corpo cansado
/ Do tabaco, de cantigas / Coração despedaçado / Por amor de raparigas…».
Conta connosco, hoje e sempre!
(In, «Crónicas do Átrio e do Lethes 21» - Notícias da Barca, Ano XL, N.º 1245, 30 de Maio de 2016, p. 11)

segunda-feira, 23 de maio de 2016
ANTÓNIO ROSADO: RECITAL DE PIANO NO CCB
Sentimo-nos
uma pequena poeira cósmica numa enorme Galáxia. Continuamos com a noção ou a “clarividência
objectiva” de que o conhecimento é sofrimento. Regresso ao espaço físico, qual
"saloio" impotente às marcas de um “destino agrilhoado”. Sonhar… apenas sonhar,
enquanto o mundo pula e avança. Condicionantes da distância e das “notas” sem
pauta, levam-nos a ouvir e a sentir sem ver.
Condicionantes
do SER? Talvez!
O maior
sucesso para António Rosado e para o seu Recital de Piano, que terá lugar no
próximo dia 5 de Junho de 2016, no Centro Cultural de Belém. Mais que não seja,
estaremos lá espiritualmente!
«António Rosado
iniciou os seus estudos musicais aos três anos de idade com o pai. No
Conservatório Nacional de Lisboa, na classe de Gilberta Paiva, formou-se com a
classificação máxima. Aos dezasseis anos foi para Paris como bolseiro do
Governo Francês, da Fundação Gulbenkian e da Secretaria de Estado da Cultura.
Aí encontra Aldo Ciccolini de quem vem a ser discípulo no Conservatório
Nacional Superior de Música e nos cursos de aperfeiçoamento em Siena e na
Academia de Biella em Itália. Anos mais tarde, Ciccolini dirá que «António
Rosado possui o que nem o ensino, nem os estudos podem dar: o sentido do
teclado».
Laureado pela
Academia Internacional Maurice Ravel e pelo Concurso Internacional Vianna da
Motta, em 1986 é-lhe atribuído o prémio G. Pella da Academia Internacional
Perosi. No ano seguinte venceu (ex-aequo) o Concurso Internacional Alfredo
Casella em Nápoles. Estes prémios constituem o reconhecimento internacional do
seu virtuosismo e o impulso para uma brilhante carreira, com a realização de
recitais e concertos por toda a Europa, Canadá, Brasil e México e a
participação em diversos festivais, como o Rossini Opera Festival de Pesaro,
Festival Cervantino do México, Europália, Festivais de Sintra, Costa Basca,
Leiria e Costa do Estoril. Em 1990 inaugurou o Festival Pianístico de Nápoles,
dedicado a Mozart, tocando para a RAI o Concerto K. 415, com a Orquestra
Scarlatti. Convidado pelas rádios e televisões de numerosos países, foi com a
TF1 que gravou três programas, sendo o primeiro dedicado à música ibérica,
seguindo-se outro constituído por obras de Liszt e, por fim, um recital
preenchido com obras de Beethoven, Prokofiev, Wagner-Liszt.
Fundador do
Trio Artis, apresentou-se diversas vezes em duos com Maurice Gendron, Margarita
Zimermann e Aldo Ciccolini e tocou com notáveis maestros, entre os quais:
Pierre Dervaux, Silva Pereira, Franco Caracciolo, Michel Plasson, Léon
Fleischer, Arthur Fagen, Claudio Scimone, Ivo Cruz, Álvaro Cassuto, Georg
Alexander Albrecht, Moshe Atzmon e Ronald Zollman.
Da sua discografia
fazem parte as duas Sonatas para Piano de Georges Enescu, gravadas em França;
um disco integralmente preenchido com obras de Vianna da Motta, em 1995; com a
chancela da Emi-Classics gravou Liszt, para assinalar os 150 anos da passagem
do compositor por Lisboa. A Fantasia de Schumann e a Sonata de Liszt constituem
o reportório do 4º disco de António Rosado editado pela BMG Classics. Em
Hamburgo, gravou para a BMG o Concerto N.º 2 e a Rapsódia sobre um tema de
Paganini de Rachmaninoff, com a NDR Sinfonieorchestra, sob a direcção de
David Stahl.» (Texto
biográfico por: Gulbenkian - serviço de
Música)

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