quinta-feira, 8 de maio de 2025

BRUMAS DO TEMPO (II)

 Na bruma que envolve a manhã, as linhas do horizonte são apagadas, e o nevoeiro, denso e silente, atua como um véu de mistério sobre o mundo. E assim, na quietude desse cenário enevoado, o olhar repousa em algo simples e extraordinário: uma teia de aranha, bordada com delicadeza, presa ao centro da grade da varanda. Ali, tão ténue e frágil, parece conter em si uma poesia subtil, escrita em fios finos e quase invisíveis.


Essa teia, essa criação minúscula e temporária, brilha como um microcosmo de significados, ressoando com algo profundo e universal. No particular desse instante, há um reflexo de algo maior: a habilidade da natureza em criar com precisão e beleza, mesmo nas mais pequenas das obras, como se tudo estivesse sempre entrelaçado – nós, a aranha, o nevoeiro, o tempo. Assim como a teia é bordada no espaço, também a nossa existência se tece de momentos assim, frágeis e efémeros, cada fio sendo uma escolha, uma emoção, um pensamento.

Ao observarmos essa delicadeza, sentimo-nos parte de algo maior. Aquela teia convida-nos a contemplar não apenas o detalhe, mas a entender como somos todos envolvidos em redes invisíveis, unindo o particular ao universal, o pequeno ao imenso. É uma pequena verdade revelada no silêncio da manhã: mesmo o mais diminuto dos elementos participa da dança do cosmos, como nós, que, em meio ao nevoeiro, despertamos!

(In, A Aurora do Lima, Ano 170, Número 01, quinta-feira, 09 de janeiro de 2025, p.17)

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