Salvador Vieira (1937-2017): Entre a Arte e o Rio. Nasceu onde o Lima se deixa abraçar pela terra. E como o rio, seguiu o seu curso – ora sereno, ora indomável – sempre fiel à corrente invisível que o ligava à arte e ao lugar de onde veio.
Estudou em Paris,
aprendeu técnicas e teorias, mas foi no regresso, no reencontro com a sua
terra, que o seu talento encontrou raiz. Mais do que moldar a matéria, Salvador
Vieira moldava a memória – as mãos no barro ou gesso como quem cuida da infância,
como quem devolve à escultura e à pintura o pulsar da vida que nela dorme.
Nos espaços públicos de
Viana e Ponte de Lima, as suas esculturas não são apenas obra, são gestos
humildes de quem ofereceu o que sabia ao mundo que o viu crescer. O Homem do Rio
Lima guarda a entrada da ponte, não como guardião, mas como testemunha
silenciosa da alma fluvial que corre por dentro da vila, com o olhar sereno
sobre a cidade.
Nas suas “Memórias do
Campo” e na “Alegoria às Feiras Novas e ao Folclore”, não há vaidade, apenas
respeito. Salvador não quis monumentos para si, quis celebrar os outros – o
povo, o trabalho, a festa e a dança que dão forma ao verdadeiro património de
uma terra. Nem o “Cardeal Saraiva” foi esquecido.
E assim foi também como Mestre.
Não se fez mestre distante, mas companheiro de aprendizagem, partilhando o que
sabia com a mesma generosidade com que dava forma à pedra e ao bronze. Entre a
arte e a docência, o seu legado é um só: a certeza de que nada é maior do que a
humildade de quem sabe ouvir a terra e as suas gentes.
Sem comentários:
Enviar um comentário