Numa altura em que assumimos a imprevisibilidade do TEMPO (homem sem relógio e fraco telemóvel), tendo ao mesmo tempo uma previsível relação pacífica com a linearidade do mesmo, eis que nas nossas deambulações, silenciosas e discretas, por amor à cultura, nos leva a reconhecer a nossa fragilidade, pacifica(mente) (des)controlada, em reconhecer a especificidade do tempo sem aceitar a irreversibilidade, a tal linha contínua que, do passado, avança para o futuro. Em tempo em que pensávamos possuir todo o tempo do mundo, vamos dissimulando a promessa de um futuro que nunca está lá.
O carácter circular do
tempo vem-nos anulando o peso do passado, mas também fechando as portas do
futuro. Em segundos, tudo passa a ser passado.
Deixamos de ter tempo para nada. «NA TERRA DOS
HOMENS: contos ditos a um deus surdo», ali em LIVR(e)ARIA (Ponte de Lima),
local onde Nietzsche tem a palavra: «Isto não é um livro: Os livros que
importam?! / Que importam os caixões e as mortalhas? / Isto é uma vontade, isto
é uma promessa, / Isto é um último quebrar de pontes, / É um vento do mar, um
largar de âncora, / Um ruído de rodas, um apontar de leme; / Ruge o canhão com
o seu fogo branco, / E ri-se o mar, esse monstro!» – obrigou-nos a voltar ao
passado (2009), revisitando Marlene Ferraz, a cuja mensagem “A todas as árvores
que se levam ao mundo, nuas de vaidade…”, acrescentaria o autógrafo da praxe:
«Até a quantidade de chuva / que nos cai / Pode fazer de nós / criaturas mais
(ou menos) liquidas». Este «NA TERRA DOS HOMENS» é uma edição de 2023. Foi em
maio de 2024 que a adquirimos e já é passado!
(In, A Aurora do Lima, Ano 170, Número 07, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025, p. 25)
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