quinta-feira, 8 de maio de 2025

BRUMAS DO TEMPO (V)

Paradoxalmente, quanto mais lemos, mais sentimos a vastidão da nossa ignorância. Cada obra concluída não representa o fim de um percurso, mas a abertura de novas interrogações. A biblioteca é, então, um cosmos em expansão, onde a obsessão por preencher lacunas encontra sempre mais espaços para explorar. Somos condenados ao mesmo tempo à abundância e à insuficiência, à alegria de descobrir e à melancolia de reconhecer que nunca descobriremos tudo.



E não é exatamente isso que torna os livros tão fascinantes? A promessa de um encontro que nunca se esgota, de uma intimidade que nunca se reduz à familiaridade. Assim, viver entre livros é mais do que acumular saberes – é aceitar a condição humana como um perene ato de busca, como uma travessia que, ao mesmo tempo que nos prende ao infinito, nos lembra de nossa pequenez.

Nossa biblioteca é um reflexo de quem somos e do que desejamos ser. Os livros que escolhemos – e aqueles que ainda aguardam por nós – constituem a paisagem de uma vida vivida no âmbito do pensamento. Nessa obsessão, não há desperdício, pois cada página virada é um gesto de amor pela complexidade do mundo. E assim seguimos, como eternos viajantes, entre prateleiras que nos guiam e nos desafiam a sermos mais do que já somos!

(In, A Aurora do Lima, Ano 170, Número 04, quinta-feira, 30 de janeiro de 2025, p. 18)

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