Nos tempos em que laborávamos na construção naval, sentíamos a respiração salgada do Atlântico e partilhávamos a lida com os pescadores de Viana do Castelo. Eles, mestres do mar; nós, artífices do casco que lhes dava sustento e esperança. Havia uma cumplicidade silenciosa entre o cinzel que talhava a madeira e a rede que rasgava as ondas. Era a consciência de que o homem não se impõe ao oceano, mas negocia com ele, com a paciência de quem compreende sua própria fragilidade.
Hoje, revisitamos essa
conexão através do Monumento ao Pescador, obra do escultor José Rodrigues
(1936-2016), que se ergue solene na rotunda junto ao Santuário de Nossa Senhora
da Agonia. O bronze imortaliza a faina, tornando eterno o instante do labor e
do risco. Mas, ironicamente, a água estagnada em sua base reflete um tempo
suspenso, um mar sem marés. Como se ali, diante da grandiosidade da arte,
fossemos levados a refletir sobre o fluxo interrompido da vida, sobre a memória
que resiste mesmo quando as águas deixam de correr.
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