terça-feira, 11 de novembro de 2025

BRUMAS DO TEMPO (XXVII)

A vida é um entrelaçar de encontros e despedidas, onde as relações verdadeiras se destacam como faróis no nevoeiro da existência. Entre tantas participações ativas no âmbito jornalístico-cultural, fomos tecendo uma rede de afetos sustentada na lealdade e no respeito mútuo. Não eram apenas projetos; eram capítulos vivos de uma amizade que se alimentava do diálogo, da partilha e do reconhecimento do valor do outro.

Todos carregamos dias cinzentos, fragilidades e desencontros. Contudo, a cumplicidade e a tolerância, quando enraizadas na ética da reciprocidade, transformam obstáculos em pontes. A amizade genuína não é a ausência de conflitos, mas a presença constante de um compromisso silencioso: estar lá, mesmo quando não é fácil.

Recordamos as viagens, não apenas como deslocações físicas, mas como jornadas interiores, onde cada paisagem observada era um pretexto para refletir sobre o mundo e sobre nós mesmos. Palestras que não se limitavam ao intelecto, mas que desafiavam o espírito a pensar mais fundo. Momentos gastronómicos que iam além do paladar, pois eram temperados pela conversa e pelo sentir ético, que tornava cada encontro mais pleno.

Há memórias que não se guardam apenas na mente, mas no próprio tecido do ser. BERNARDO BARBOSA não foi apenas um companheiro de atividades; foi um interlocutor da vida, alguém que trouxe densidade às conversas e leveza aos momentos.

O “até sempre” que lhe dedicamos não é despedida, mas continuação. Porque a presença de um verdadeiro amigo não se mede pelo tempo ou pelo espaço, mas pela permanência silenciosa que deixa nas nossas ações e no nosso modo de estar no mundo.

Assim, seguimos, levando connosco a herança de tudo o que foi vivido – sabendo que, em cada gesto ético, em cada palavra leal, em cada ato de amizade, a sua memória se renova e permanece.

(InA Aurora do Lima, Ano 170, Número 27, quinta-feira, 14 de agosto de 2025, p. 9) 

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