A vida é um entrelaçar de encontros e despedidas, onde as relações
verdadeiras se destacam como faróis no nevoeiro da existência. Entre tantas
participações ativas no âmbito jornalístico-cultural, fomos tecendo uma rede de
afetos sustentada na lealdade e no respeito mútuo. Não eram apenas projetos;
eram capítulos vivos de uma amizade que se alimentava do diálogo, da partilha e
do reconhecimento do valor do outro.
Todos carregamos dias cinzentos, fragilidades e desencontros. Contudo,
a cumplicidade e a tolerância, quando enraizadas na ética da reciprocidade,
transformam obstáculos em pontes. A amizade genuína não é a ausência de
conflitos, mas a presença constante de um compromisso silencioso: estar lá,
mesmo quando não é fácil.
Recordamos as viagens, não apenas como deslocações físicas, mas como
jornadas interiores, onde cada paisagem observada era um pretexto para refletir
sobre o mundo e sobre nós mesmos. Palestras que não se limitavam ao intelecto,
mas que desafiavam o espírito a pensar mais fundo. Momentos gastronómicos que
iam além do paladar, pois eram temperados pela conversa e pelo sentir ético,
que tornava cada encontro mais pleno.
Há memórias que não se guardam apenas na mente, mas no próprio tecido
do ser. BERNARDO BARBOSA não foi apenas um companheiro de atividades; foi um
interlocutor da vida, alguém que trouxe densidade às conversas e leveza aos
momentos.
O “até sempre” que lhe dedicamos não é despedida, mas continuação.
Porque a presença de um verdadeiro amigo não se mede pelo tempo ou pelo espaço,
mas pela permanência silenciosa que deixa nas nossas ações e no nosso modo de
estar no mundo.
Assim, seguimos, levando connosco a herança de tudo o que foi vivido – sabendo que, em cada gesto ético, em cada palavra leal, em cada ato de amizade, a sua memória se renova e permanece.
(In, A Aurora do Lima, Ano 170, Número 27, quinta-feira, 14 de agosto de 2025, p. 9)
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