terça-feira, 11 de novembro de 2025

BRUMAS DO TEMPO (XXXIII)

Vila Nova de Cerveira, o passado e o presente, com pontes para o futuro, extinguindo-se as fronteiras, no ganho da dimensão mais humana quando nos detemos na proximidade entre o Alto Minho e a Galiza. Aqui, a linha divisória não é apenas cartográfica, mas uma realidade fluida, moldada pelo rio Minho, pelas montanhas e, sobretudo, pelas pessoas que, ao longo dos séculos, transformaram a fronteira em lugar de encontro. Cultura e história misturam-se, revelando que aquilo que separa também pode unir, que a diferença pode ser semente de partilha.

O desafio reside em reconhecer que o desenvolvimento coletivo não se constrói apenas com infraestruturas físicas – embora as pontes sobre o rio sejam símbolos eloquentes dessa ligação – mas também com pontes de entendimento, confiança e cooperação. A verdadeira riqueza da região não está apenas no comércio ou nas estratégias económicas, mas na capacidade de criar um espaço partilhado onde a identidade se expanda em vez de se retrair.

A história ensina que os povos que habitam zonas de fronteira vivem numa tensão criativa: ora afastados pela autoridade dos Estados, ora unidos pela necessidade e pelo afeto. Essa lição permanece atual. Hoje, quando as fronteiras parecem novamente ganhar força em certos discursos políticos, o Alto Minho e a Galiza recordam-nos que a verdadeira geopolítica começa na cultura, no reconhecimento do outro como parte de nós mesmos.

Assim, a proximidade entre Alto Minho e Galiza é mais do que uma circunstância geográfica; é uma oportunidade de pensar o mundo de forma diferente. Uma fronteira pode ser muralha, mas também pode ser caminho. Cabe-nos escolher qual das duas imagens queremos legar ao passado que está sempre prestes a nascer.

(InA Aurora do Lima, Ano 170, Número 33, quinta-feira, 09 de outubro de 2025, p. 17)

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