Nem sempre tudo vai bem quando bem devíamos estar. O corpo, frágil embarcação na travessia do tempo, carrega as marcas das viroses da carne e dos cansaços da alma. Cada febre e cada dor são murmúrios de uma vida que pulsa, teimosamente, porque sabe que é feita para durar. Entre o desconforto e a cura, aprendemos a resiliência – essa arte de permanecer de pé mesmo quando o vento nos dobra. A fonte, com seu espelho de água, é um convite à comunhão.
A mão que toca a superfície não apenas perturba a imagem, mas funde-se ao próprio elemento. Bebemos da água como quem bebe da própria origem. Somos feitos dela e por ela seremos dissolvidos um dia. Mas enquanto respiramos, cada gole é uma celebração, uma renovação do pacto com a Terra-Mãe, que nos acolhe sem cobrar promessa, oferecendo sombra, frescor e alimento.
A natureza, na sua generosidade silenciosa, ensina-nos o que esquecemos nos labirintos da pressa moderna: é na simplicidade da água, do ar puro, da terra húmida, que mora a cura verdadeira. Ainda que martirizados pelas enfermidades de ocasião, reencontramo-nos inteiros nesse ato primordial de respirar junto ao jardim, de molhar as mãos na fonte, de beber da própria essência da vida.
(In, A Aurora do Lima, Ano 170, Número 10, quinta-feira, 20 de março de 2025, p. 17)

