Há instantes na existência em que o peso do mundo parece maior do que a nossa própria sombra. Nessas alturas, a terapia mais eficaz raramente se encontra em receitas prontas ou em fórmulas universais. Surge, antes, na forma de uma presença silenciosa, constante, quase invisível – aquela figura que, longe da ribalta e dos aplausos, se dedica a cuidar de nós com genuína entrega. São eles que nos recordam que o amor verdadeiro não se exibe: manifesta-se no silêncio atento, na escuta profunda, no toque leve que não impõe, mas ampara.
Essas almas discretas percebem-nos para além do que julgamos mostrar.
Vêm-nos com olhos que não se limitam à superfície. Intuem os nossos silêncios,
leem nas entrelinhas do nosso gesto, ampliam aquilo que nós mesmos não
conseguimos ver. Através deles, o nosso mundo – esse espaço por vezes tão
estreito e condicionado – ganha outras dimensões. A realidade torna-se fluida,
aberta, rica em sentidos que só a intuição pode decifrar. A continuidade da
vida é, assim, tecida com fios invisíveis de cuidado e pertença.
O Poço da Moura, junto ao ribeiro de São João, Labruja, Ponte de Lima, não
é apenas um recanto bucólico; é símbolo vivo dessa terapêutica ancestral, feita
de memória, de presença e de amor. A natureza sussurra verdades que esquecemos
na correria dos dias. Ali, o tempo abranda, e o coração reconhece aquilo que
verdadeiramente importa: anos de companhia, de partilha, de olhar na mesma
direção. É esse amor sereno e perseverante que cura, não com palavras, mas com
a fidelidade da presença.